O estado a que isto chegou (II)
1. Nasce um novo termo no léxico nacional: escutas plantadas. Para PJ ouvir e PGR acreditar, vertendo em despacho. A 25 de Junho de 2009, Rui Pedro Soares declarou alto e bom som sete vezes ao telemóvel, em conversa detalhada com o amigo e correligionário Paulo Penedos, que Sócrates não tinha conhecimento do negócio da TVI.
2. Rui Pedro Soares, sempre ele - o jovem socialista que Sócrates elogiou na recente entrevista a Miguel Sousa Tavares. Era, desde a chegada do PS ao poder, administrador-executivo da PT. Mas também membro do Conselho de Administração da Tagus Park, o maior parque tecnológico português, onde se tornou figura decisiva a partir de 2006. Dois anos depois, segundo o Expresso, levou Paulo Penedos para a administração da Promitagus, uma empresa-satélite do Tagus Park, que "servia apenas para reduzir a carga fiscal das receitas de arrendamento dos edifícios do parque tecnológico". Se isto não é polvo, não sei o que é um polvo.
3. A Tagus Park pagou a Luís Figo 350 mil euros por um filme publicitário de sete minutos gravado a 25 de Setembro - o próprio dia em que o futebolista surgiu como apoiante de Sócrates na recta final da campanha legislativa. O filme só foi montado em Janeiro e a Tagus Park ignora ainda o que fará com ele. Como se só agora tivesse pensado verdadeiramente no assunto.
4. Miguel Sousa Tavares, no Expresso: "Choca que José Sócrates não perceba que ninguém mais entende como é que se pode ganhar 2,5 milhões de euros por ano de ordenado como administrador da PT, aos 32 anos de idade e sem currículo algum que não o de militante da JS."
5. Os homens de Sócrates começam a cair. Para já, apenas os homens de Sócrates nas empresas soi-disant privadas: Armando Vara no BCP, o inefável Rui Pedro Soares e Fernando Soares Carneiro na PT. É o fim de ciclo político mais penoso a que tenho assistido desde sempre em Portugal.