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Delito de Opinião

Bebés

Teresa Ribeiro, 28.02.10

É uma notícia que se presta a extrapolações demagógicas, desde já a de que é por causa das leis que despenalizam a IVG que as mulheres abortam mais. Mas, segundo me pareceu, o Instituto de Política Familiar coloca a questão da forma certa. Se há tantas mulheres a abortar  numa Europa que envelhece a um ritmo preocupante, é necessário investir nas leis de protecção à família e, é claro, desincentivar a IVG (o que é muito mais eficaz do que passá-la à clandestinidade).

Contaram-me que há muitos, muitos anos, um modesto trabalhador rural da região saloia da periferia de Lisboa confessou com a maior naturalidade que preferia que lhe morresse um filho do que uma vaca. Um filho, dizia ele, não tinha problema, porque se arranjava outro, ao passo que uma vaca custava-lhe muito dinheiro.

Na sua inocência bruta, aquele pobre diabo não se apercebia da alarvidade que proferia. Eram outros tempos. As mulheres pariam como coelhas e os filhos criavam-se a pão e azeitonas. A taxa de mortalidade infantil há 60 anos, em Portugal, era vergonhosa, mas como por cada mulher nasciam muitos filhos, a população portuguesa estava longe de registar um saldo demográfico negativo (até porque a esperança de vida era consideravelmente inferior à que temos hoje). Não havia, portanto, sobressaltos. As taxas de nascimento e de mortalidade próprias dos países subdesenvolvidos nunca representam um risco para a economia. 

Agora as mulheres já não querem "parir". Preferem "ter bebés", de preferência quando assim o desejarem e em condições dignas. Como princípio, não me parece mal. Dêem-lhes horários a tempo parcial - em Portugal quase não existem - boas redes de creches e leis eficazes contra a discriminação no mercado de trabalho e elas desejarão ter mais filhos.

Os detractores do Estado social, que em regra também são ferozes opositores das leis que despenalizam a IVG, deviam pensar com seriedade nisto. Dar condições de vida às pessoas é mais consequente do que gritar slogans em manifestações em defesa da vida que em muitos casos não desejariam para os seus.

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