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Delito de Opinião

Propaganda em hora de luto

Pedro Correia, 20.02.10

 

Durante um par de horas, fui acompanhando, quase incrédulo, as imagens dramáticas que nos chegavam da Madeira após dez horas consecutivas de chuva torrencial. A fúria da água, transportando incalculáveis quilos de lama, transformou ruas, praças e avenidas em violentos caudais que arrastavam tudo quanto surgia pela frente. A Avenida Arriaga, a Rotunda Sá Carneiro, a Rua 5 de Outubro, a Marginal do Funchal totalmente irreconhecíveis. A ponte junto ao Mercado dos Lavradores destruída. Horas de pânico na capital madeirense e também na bela vila da Ribeira Brava. O aeroporto de Santa Catarina fechado, o porto do Funchal também. Balanço provisório da tragédia: 32 mortos. Infelizmente com tendência para aumentar, pois é grande o número de pessoas desaparecidas.

Portugal está de luto. Portugal inteiro? Não: algures no Porto, a meio da tarde, um político fala aos militantes do seu partido, com direito a transmissão directa no canal público de notícias. Pura acção de propaganda, ao jeito a que este político já nos habituou. E que diz ele? Repete que os jornalistas cometeram "crimes" ao divulgar escutas telefónicas. Proclama, como se ele próprio acreditasse nisso, que Portugal "foi dos primeiros países a sair da recessão técnica" e que "podemos esperar crescimento económico já em 2010". Empolgado pela sua própria oratória, afirma: "Aumentámos o défice para evitar que o desemprego subisse." Estranhamente, sem escutar um coro de gargalhadas na sala.

O político a que me refiro é José Sócrates. Insensível à tragédia ocorrida numa parcela do território nacional, teimou em manter o discurso aos militantes do seu partido, como se a hora não fosse de luto. Confirma-se: para ele a propaganda está sempre em primeiro lugar. Nunca conseguirei espantar-me o suficiente com a falta de sentido de Estado deste homem.

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