De MMB a 05.03.2010 às 17:02
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Fiz uma IVG. Tenho 23 anos, sou estudante de Design, não sou de classes sociais baixas, nem sou pouco informada, nem tão pouco os meus pais são analfabetos. Engravidei por pura irresponsabilidade, como por pura irresponsabilidade tenho lidado com a minha vida e o meu curso. O pensamento só acontece aos outros, e o “bolas esqueci-me de tomar a pílula durante três dias…bem coito interrompido e não há-de ser nada” foi o que me bastou para agora ter que carregar com esse peso o resto da vida. Tenho namorado há quase dois anos, e desde dos 18 que tomo a pílula. Tomei somente a pílula do dia seguinte duas vezes na minha vida. A consciência que a descarga hormonal da pílula do dia seguinte é enorme esta bem estruturada na minha cabeça.
Não me orgulho de o ter feito mas também não me envergonho. Foi uma decisão de consciência e dolorosa, como desconfio que seja para quase todas as mulheres que o façam. É duro por termo a vida de algo que cresce dentro de nós, que começa a crescer um amor estranho vindo não se sabe de onde e nem se sabe pelo que, já que nada é visível ainda e nos põe a sorrir sem queremos como as pessoas que estão apaixonadas. Na eco grafia que tem que se ter não tive a melhor assistência para uma IVG, a médica fez questão de virar o monitor para mim e dizer: “esta a ver o embriãozinho ?”, creio que não devam fazer isto. Uma mulher que faz uma IVG, não é um monstro e não precisa que os profissionais de saúde se armem em Deus para as querer castigar. O castigo já vai ser suficientemente grande para o resto da vida. Mas eu vi, vi o que poderia ser o meu primeiro filho. E doeu! Como disse muitas vezes e volto a dizer, é bem feito passar por aquilo que passei e passo, as coisas são como são, fui irresponsável e agora arco com as consequências, já mais me vitimizei neste processo todo, nem seria capaz de o fazer. Quando fui a primeira consulta para a IVG, olhei a minha volta e vi meninas e mulheres, meninas sozinhas sem parceiro ou amigas para as acompanhar e vi mulheres já feitas e crescidas sem companhia também. Havia só mais um casal como eu na sala, mas vi a menina era tão novinha…e com um ar bastante assustado. Quem olhou para mim de fora e me julgou achou que me estava perfeitamente nas tintas para o que estava a fazer, ria-me e brincava com o meu companheiro. É a minha maneira de ser, para não chorar, riu.
A segunda consulta não foi a mais dolorosa, o mais doloroso foi ver o embrião na primeira eco grafia. Vi o mesmo casal que tinha visto na primeira consulta, e vi as mesmas mulheres e meninas sozinhas, sem ninguém para as apoiar. E isso talvez fosse o que me custasse mais nessa consulta, onde estavam os pais das crianças? Porque deixavam meninas sozinhas sem apoio? Sabia que o sofrimento físico seria intenso e vi estas meninas sozinhas. E quando começam-se as dores quem cuidaria delas? Não é justo, nem tão pouco respeitoso deixar uma mulher que passa por este sofrimento sozinha. Infelizmente a minha IVG não correu bem, e passado quatro dias tive que ir de urgência para o hospital porque as dores eram de tal maneiras insuportáveis que achava que ia morrer, nem percebi o que se passava supostamente já poderei retomar a minha vida normal nesse dia. Quando fui para a sala de triagem fui bastante mal recebida pela enfermeira, bastou ouvir “fiz uma IVG” para a descriminação estar estampada no rosto dela, senti que estar-lhe a gritar “por favor ajudo-me estou cheia de dores”, o meu chorar era a mesma coisa que lhe dizer: “olhe querida estou com uma ligeira dor de cabeça mas estou óptima”. Ela respondia-me muito secamente que era normal do tratamento que estava a fazer, sabia que não era normal porque a medica que me fez aplicação disse que se as dores não passassem com os medicamentos teria que ir para o hospital. E eu entre gemidos de dores respondia-lhe que não era normal. Lembro-me da lentidão a fazer tudo, da falta de atenção que teve por mim, da moleza com que fez tudo. Supostamente era para ser posta a soro, então a Sra. Enfermeira foi fazer a cama á maca para poder-me deitar, via de longe novamente mole e sem interesse no meu estado e para o cumulo a falar ao telemóvel como se não tivesse uma pessoa ali com dores, mas sim um drogado qualquer com uma enorme “moca”.