O que realmente me interessa
Estou-me nas tintas para os segredos de alcova. Nada me atrai do que seja da vida privada de qualquer um. Nem quero duvidar das decisões judiciais sobre a ausência de matéria criminal deste ou daquele. Mas interessa-me muito tudo o que diga respeito à gestão da coisa pública feita atrás da porta. Mesmo que isso se esconda numa falsa privacidade interceptada. Interessa-me como interessa aos que recorrem às escutas institucionalizadas. Interessa-me para que eu possa fazer o meu próprio juízo. De carácter também.
Interessa-me que se faça justiça. Interessa-me que as escutas institucionalizadas sirvam para fazê-la. Interessa-me saber em que medida elas permitem culpar alguém. Interessa-me ajuizar por e para mim próprio. Por isso é que pode interessar-me o mesmo nos casos inversos. O meu juízo sobre o carácter de alguém que gere a coisa pública atrás da porta não é jurídico nem incriminatório. Apenas me interessa para participar com mais consciência na vida colectiva e no exercício individual da cidadania como parte do todo.
Isto interessa pelo menos a um: a mim.