Convite de concubinato?
Eram poucas, as facilidades recentemente introduzidas para adjudicação de obras ao nível da Administração central. Agora, as autarquias também ficam dispensadas de abrir concursos públicos para obras calculadas até cinco milhões de euros. Digo calculadas, sim, e digo-o intencionalmente: todos sabemos das manobras correntes que originam a 'partição' de uma obra como se fossem duas ou mais obras, as famosas 'obras a mais', os custos acrescidos, a inflação e toda a espécie de truques conhecidos. Com o tecto agora elevado para cinco milhões de euros, tudo ficará mais simples.
Num país onde a corrupção atravessa as instituições, onde as autarquias representam muitos ninhos de dinheiros fáceis, onde a impunidade é moeda corrente e onde a responsabilidade é pouco mais do que simples chamada de dicionário, este tipo de medidas podia ser um convite à escalada das negociatas mais escabrosas. Felizmente, Portugal não é assim. Por cá, mesmo que a culpa morra solteira é apenas porque ela é feiosa e ninguém lhe pega para casar. Mas até consta que ela vive muito bem em concubinato...