Muito prometeu
Quando apareceu fê-lo de mansinho.
Parecia um tipo sensato, capaz de contribuir para a elevação do debate político. À medida que o partido definhava foi ganhando protagonismo, tempo de antena, admiradores.
Na anterior legislatura esteve em quase tudo, liderando a bancada, desafiando o Governo, arrebanhando fiéis.
Em Setembro passado, cada vez mais confiante, explodiu com as Europeias.
Ora lá, em Bruxelas ou em Estrasburgo, ora cá, foi gerindo com expectativa e indisfarçável avidez o seu sonho de um dia liderar o PSD. O lugar em Bruxelas foi o trampolim que precisava para ganhar altura.
Mas faltava o mais difícil: ocupar o espaço de Aguiar Branco e romper pelo campo de Passos Coelho. Foi o que ele ensaiou há dois dias quando utilizou a bancada do Parlamento Europeu para estraçalhar, no melhor estilo cantinfleiro, o Estado de direito democrático que fez dele deputado da nação e o rodeou de microfones.
O registo da sua inaudita intervenção quase fez esquecer a dificuldade que tem em encontrar uma tribuna à medida da sua ambição. O partido não se adaptou ao eurodeputado, mas este adaptou-se ao partido e ao estilo revisteiro.
Menos de seis meses depois de ter tomado posse no Parlamento Europeu, Paulo Rangel já está pronto para dividir a sua agenda parlamentar europeia com a liderança do maior partido da oposição. Rasgar o contrato com os portugueses e a sua relação de confiança bilateral já não faz qualquer diferença. Em política, sempre vale tudo. Pelo menos para alguns.