A conversão de Zapatero
A oportunidade de aparecer numa fotografia ao lado de Barack Obama converteu o mais laico dos dirigentes europeus ao proselitismo religioso. José Luis Rodríguez Zapatero compareceu no "pequeno-almoço da oração", em Washington, ao lado de dirigentes religiosos norte-americanos e do inquilino da Casa Branca, com quem teve oportunidade de conversar a sós durante breves minutos. Demonstrando conhecimentos bíblicos, citou o Deuteronómio: "Não explorarás o trabalhador pobre e necessitado, quer seja um dos teus irmãos quer um dos estrangeiros que estão na tua terra, numa das tuas cidades. Entregar-lhe-ás o seu salário todos os dias, antes do pôr do sol, porque ele é pobre e espera o salário com ansiedade. Teme que ele clame contra ti ao Senhor e isso te seja imputado como pecado." Fê-lo no único idioma que conhece, o castelhano, "língua em que se rezou pela primeira vez ao Deus do Evangelho nesta terra [América]". E aludiu a Espanha, "uma nação forjada na diversidade" , mas "acima de tudo cristã".
Diz precisamente o Evangelho que "há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por mil justos que não necessitam de arrependimento". Resta saber se os mais de quatro milhões de desempregados espanhóis, correspondentes a 19,7% da população activa do país, têm fé neste primeiro-ministro que vai a Washington proclamar que devem receber "o seu salário todos os dias". Para eles, não há salário. Para muitos deles, não existe sequer esperança de obter um novo emprego a curto prazo, com a economia espanhola a bater no fundo graças a este primeiro-ministro recém-iluminado com a fé divina mas notoriamente incapaz de fazer milagres.