Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Inseparáveis

Teresa Ribeiro, 25.01.10

Há dias soube que já existe uma fobia associada ao uso de telemóveis. Parece, segundo li, que é insuportável para um número crescente de pessoas estar sem telemóvel. A sensação de isolamento e a ansiedade a ela associada atingem, em muitos casos, níveis patológicos. Naturalmente o meu primeiro reflexo foi auto examinar-me. Concluí que tenho comportamentos de risco, espero ainda não demasiado doentios. Quando fico sem telemóvel, de facto, sofro. Não há como negar. Em minha defesa posso alegar que é um objecto indispensável para a minha actividade profissional, mas tal argumento não explica porque tenho sempre de o trazer comigo mesmo quando é suposto estar off. Quem está off, mas de telemóvel no bolso - mesmo que desligado ou em silêncio - não está realmente off. E essa é, confesso, a distância a que normalmente me permito estar do telemóvel nos meus tempos livres.

Lembrei-me depois da sobre utilização que a generalidade das pessoas que vejo à minha volta dá a estes incontornáveis objectos. Nas esplanadas, nas paragens de autocarro, no metro, em todo o lado observo gente a falar ou a clicar no telemóvel. Numa época em que tanto se fala de solidão andamos conectados mais que nunca. É curiosa esta aparente contradição. Não fosse a tal fobia ficaria, talvez, um pouco confusa. Assim, pareceu-me lógico presumir que o medo de ficar sem telemóvel e a sua utilização massiva e compulsiva são a expressão do mesmo horror ao vazio.

Pior que não ter o telemóvel à mão é não ouvi-lo tocar. Talvez porque o pior da solidão é o silêncio.

20 comentários

Comentar post