O Presidente de Sócrates (5)
Consciente de que não é o candidato favorito de José Sócrates, mas na convicção de que José Sócrates tem pouco espaço para apoiar qualquer outro candidato, Manuel Alegre avançou quanto antes para o terreno, procurando condicionar o primeiro-ministro. Quer isto dizer que José Sócrates está impedido de tentar evitar a eleição de Alegre? Não me parece.
Em primeiro lugar, se é certo que José Sócrates tem pouco espaço para encontrar uma alternativa a Manuel Alegre (objectivamente é complicado ignorar os resultados da última eleição presidencial, em que foi o PS que impediu uma segunda volta com Cavaco e não Alegre), tal espaço abre-se de par em par se o candidato for... o próprio José Sócrates, como aqui realça o Bruno Alves. E o pretexto para essa candidatura pode ser encontrado a qualquer momento, fruto de um qualquer facto político entretanto criado para o efeito.
Em segundo lugar, se é certo que José Sócrates pode ver-se obrigado a apoiar Manuel Alegre, tal não significa que o deixe vencer. Pode muito bem dar-lhe um beijo de morte, em que a forma do apoio se destina tão só a certificar-se de que Alegre perde. E como?
Pode começar por deixar Alegre queimar no lume brando do Bloco de Esquerda o tempo suficiente para assustar o eleitorado do centro, ao mesmo tempo que encomenda vozes autorizadas para denunciar o esquerdismo terceiro-mundista de Alegre. Depois, pode fazer avançar a guarda obediente destinada a criar as fracturas necessárias no PS, sob o ar angelical de José Sócrates, perturbando a campanha e obrigando Alegre a falar mais vezes das críticas que lhe chegam do PS do que da sua campanha. E por fim só tem de criar a ocasião para deixar escapar o vazio de Alegre que o PS tanto escondeu.
(continua)