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Delito de Opinião

Um caso sério

Leonor Barros, 06.01.10

E estava tudo a correr muito bem. A mesa oval exemplarmente posta. Um castiçal altaneiro que se entretinha a iluminar os rostos do lado de lá. Duas rosas brancas no centro. Comensais à altura do momento festivo. O belo sexo como pontilhado entre a testosterona delituosa.

E estava então a correr tudo muito bem, dizia eu, quando algo de previsível mas entretanto adormecido entre o perfume das rosas e o cintilar da vela aconteceu. Quem? Há alguém novo? Ninguém. Nove comensais repetentes e reincidentes nesta arte de bem delituar. Quem, então? E foi aí que senti um arrepio, um leve sopro no pescoço, o aviso e a certeza de que seria esta vossa escriba, até aí entregue ao delito de muito tagalerar, a relatar a ocasião festiva. Não tendo à mão um bloco de apontamentos, uma folha de papel, um moleskine de papel quadriculado, ou talões de multibanco em número e tamanho suficientes, a escriba estremeceu ao ver-se empossada de tamanha responsabilidade e entregue à sua parca memória em momento de celebração.

Estão pois, caríssimos delituosos faltosos e estimados comentadores dedicados, entregues à memória desta vossa escriba que se adivinha toldada pelo momento emotivo vivido ontem pela calada da noite gélida de Janeiro menino.

Por ordem de entrada em cena compareceram o Carlos Barbosa de Oliveira, inestimável cavalheiro e anfitrião, o Luís M. Jorge, amante confesso de uma das minhas cidades preferidas, Veneza, a Cristina Ferreira de Almeida, um prazer imenso revê-la, a Teresa Ribeiro, quem sabe, Teresa, se António Lobo Antunes não figurará entre os Giros e Talentosos, o Pedro Correia, o grande timoneiro deste delito irrecuperável, olheiro-mor da blogosfera, elegantíssimo para assinalar a efeméride, e o nosso filósofo, José Gomes André, com quem partilho e partilhei linguajares germanófonos e o fascínio por Berlim. Já à mesa brindou-nos com a sua presença a ala autárquica do Delito, o Adolfo Mesquita Nunes, viajante sem recuperação à vista, e o André Couto, com o sorriso genuíno de sempre.

Sentados em torno da mesa,  que quase podemos considerar nossa, iniciou-se o repasto opíparo com um exótico torresmo de bacalhau em batatinha nova e uma deliciosa morcela com puré de maçã. Por esta altura a conversa fluía solta. A blogosfera, o mundo lá fora, a política, ai a política, Cavaco e Sócrates também foram chamados à liça e, como seria de esperar, destilei os meus desamores pela Primeira Dama. Para cortar a densidade dos assuntos surgiu um lúdico momento cor-de-rosa, e como surgiu, mantido no segredo dos delituosos, pois claro. Terá sido por esta altura que alguém sentado a meu lado se terá eptitetado a lenda da monogamia, ouviram muito bem, mas cuja identidade me escuso a revelar. E viagens, cidades, países, livros, escritores.

Estava então na altura, talvez saltitássemos entre Sócrates e Istambul, a bloga e o Saramago, de degustarmos um suculento pernil em cama de lombardo com batatas salteadas. Aprovadíssimo. E mais conversa, conversa, sempre muita conversa, o condimento imprescindível para um jantar festivo de cumplicidades várias. Giros e talentosos e belle toujours foram as séries mais comentadas do Delito de Opinião e objecto de um escrutínio minucioso, não sem terem sido lançadas umas farpas certeiras a ambos os sexos. Uma verdadeira Guerra dos Sexos a la Delito: sem ofensas, sem agressões, alguma argumentação e umas quantas gargalhadas. Portámo-nos bem, nós, as mulheres, em minoria mas sempre à altura das provocações arremessadas pelos nossos congéneres masculinos. Para finalizar mousse de chocolate ao Porto com telha de Bolo-rei. E poupo-vos a mais pormenores. Revelo apenas que houve discurso proferido pelo Pedro, um brinde a este caminho que trilhámos em conjunto e a certeza de que valeu de facto a pena tantos posts, tantos comentários, tantas conversas. Somos um caso sério.

 

2 comentários

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    Leonor Barros 06.01.2010

    A festa foi bem animada, é verdade.
    A cama de lombardo são palavras minhas, Maria
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