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Delito de Opinião

Reflexões pré-matrimoniais

Teresa Ribeiro, 16.12.09

 

É redutor usar o argumento de que uma criança precisa, acima de tudo, de ser amada para defender a adopção de crianças por casais homossexuais. Por esta ordem de ideias poderíamos franquear o acesso à adopção a todas as pessoas que pudessem fazer prova da sua capacidade e desejo de amar uma criança. Mas, como se sabe, há que preencher muitos outros requisitos, como capacidade financeira, idade e saúde adequadas, para que esse amor que se tem para dar seja reconhecido como um bem seguro.

Apesar de considerar importante que  uma criança cresça com um pai e uma mãe, ou seja com um modelo masculino e feminino por referência, não considero essa impossibilidade eliminatória no caso das adopções por casais gays. As famílias monoparentais, cada vez em maior número, provam que há vida para além do modelo familiar tradicional.

O que me causa engulhos é saber que até entre homossexuais a questão da adopção de crianças por casais do mesmo sexo não é pacífica. Há quem não saia do armário sobretudo para proteger os seus filhos naturais do estigma que sabem também ser extensivo à família.

Em tempos uma lésbica activista dos direitos dos gays disse-me: Acha que se eu pudesse escolher teria decidido ser lésbica? Alguém o faria sabendo os problemas que teria de enfrentar na família, no local de trabalho, enfim, em todo o lado? É muito mais fácil viver sendo heterossexual. Se fosse possível optar, ninguém escolheria o caminho mais complicado. Tratava-se de uma pessoa afirmativa, desafiadora, mas já com a cabeça muito arrumada. Certamente por isso pôde ser tão honesta a falar comigo.

Ser diferente é sempre difícil, mas quando é de sexo que se fala, a estigmatização tem especificidades. As minorias sexuais são particularmente enxovalhadas, alvo constante de piadas. E essa segregação reflecte-se nos familiares próximos. Não é fácil ser pai de um "paneleiro". Mais difícil ainda deverá ser crescer a ouvir bocas sobre a orientação sexual dos pais. Não me venham dizer que não traumatiza. Só pode traumatizar.

A sociedade é o que é. Demora. Resiste à mudança. Que o digam as mulheres, por exemplo, que no ocidente já "saíram do armário" há décadas e ainda são discriminadas. Com tanta pedra que ainda têm para partir, os homossexuais, que sabem bem quanto custa ser diferente, deveriam ser os primeiros a querer poupar às crianças as humilhações de que ainda são vítimas todos os dias.

Não duvido da sua competência para educá-las e amá-las, mas nesta discussão para mim não é isso que está em causa. Se fosse, seria muito mais fácil para pessoas que pensam como eu afirmarem-se contra a adopção  de crianças por casais do mesmo sexo.

Quanto ao casamento gay, coisa de crescidos, nada a opor. Que sejam felizes para sempre é o pior que lhes desejo.

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