TGV: o cheiro da verdade
Bem me cheirou. Sempre que coloquei reservas ao(s) projecto(s) relacionado(s) com o TGV, entre vários outros considerandos, defendi aqui, aqui, aqui, aqui e aqui que a ferrovia de mercadorias deve merecer todo a apoio e que a alta velocidade exclusivamente para passageiros não passa de uma fantasia de políticos interessados em ir jantar a Madrid e voltar a casa, decisores da desgraça nacional que se estão nas tintas para qualquer suposta ligação ferroviária à Europa (e Madrid não fica exactamente no caminho).
Nessas ocasiões, fui sempre alvo de comentadores a dizer que o TGV engloba o transporte de mercadorias e que essa é até a grande vantagem da rede de alta velocidade. Também respondi sempre que concordava com tal vantagem, mas fui insistindo que me cheirava não estarem contempladas as mercadorias, que deviam constituir a nossa máxima prioridade. Na verdade, nunca eu tinha ouvido qualquer declaração clara nesse sentido, uma só declaração afirmativa e dita com as palavras todas. Nunca.
Dito e feito. Cheirava-me e com razão. O que agora o País ficou a saber, com clareza e com as palavras todas, é que o projecto do TGV não prevê o transporte ferroviário de mercadorias. E mais: que essa falta é um erro grave. Pudera. É obviamente «um erro histórico», um conjunto de «projectos tacanhos», como acabou de afirmar Manuel Moura, o primeiro presidente da RAVE nomeado por Jorge Coelho no tempo de António Guterres.
No fundo, como se adivinhava, o elevado custo que se sabe vai ser mais um desastre para a nossa desgraçada economia. Entretanto, os defensores do projecto apenas têm andado a pensar no que já me cheirava: ir a Madrid encher o bandulho e regressar a Lisboa para dormir com o papo cheio. O País que espere, que eles têm de jantar primeiro.