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Delito de Opinião

Errar nem sempre é humano

Ana Vidal, 02.12.09

 

Por estes dias, o assunto número um em Espanha é o terrível erro que condenou injustamente um homem inocente a uma vida manchada pela nódoa indelével dos piores crimes que alguém possa imaginar: violação, tortura e assassinato de uma criança. Sem margem para dúvidas, médicos e juízes recuaram nas conclusões precipitadas e deram o dito por não dito. Mas o mal estava feito. Diego, de 24 anos, foi linchado em praça pública por um crime que não cometeu, e nunca mais se livrará deste estigma. Por mais que se repitam os pedidos de desculpa, por maior que seja a indemnização que o seu advogado lhe consiga, subsistirá para sempre a dúvida nos olhos de um qualquer vizinho que tenha crianças em casa e saiba da história. É irreparável o mal que lhe fizeram, porque os seus direitos fundamentais foram liminarmente arrasados em nome do "sagrado" direito à informação. O jornal ABC chegou a fazer uma primeira página inteiramente ocupada com a fotografia do "monstro", cuja legenda era «O olhar do assassino de uma criança de três anos». No mínimo, deveria agora repetir a capa com a legenda «O olhar de um inocente injustiçado", mas não o faz porque isso não vende jornais. Nem sequer o El País, habitualmente mais discreto e prudente, resistiu à condenação prévia. E o que dizer das televisões, expondo à exaustão as imagens da detenção e alimentando a fúria e o ódio do público? Que ao menos este triste exemplo sirva para se repensar o poder irresponsável e voraz da comunicação social. Se errar é humano, há que limitar a dimensão e os efeitos do erro. Esta é uma das razões (não a única, nem sequer a mais importante) pelas quais eu não admito - em nenhuma circunstância, para nenhum caso - a existência da pena de morte.

 

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