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Delito de Opinião

'Artitectura': os mal-amados (6)

João Carvalho, 24.11.09

Le Palais Idéal, em Hauterives (França)

O Palácio Ideal (Le Palais Idéal du Facteur Cheval) tem uma história insólita: Ferdinand Cheval (1836-1924) começou por trabalhar como padeiro, aos 13 anos, mas veio a ser carteiro; um dia, em 1879, disse que tropeçou numa pedra invulgar, que apanhou, e que se sentiu inspirado pela forma dela, pelo que voltou ao mesmo lugar no dia seguinte para apanhar mais pedras; nos 33 anos seguintes, juntou pedras que encontrava pelo caminho e levava nos bolsos, primeiro, num cesto, depois, e num carrinho de mão, mais tarde; muitas vezes, fazia-o à noite, com a ajuda de uma lamparina; pelas suas mãos e sem abandonar a profissão, foi construindo assim o que considerava a sua casa ideal, o seu palácio.

Durante cerca de 20 anos, levantou as paredes, ligando as pedras com arame, cal e cimento, e passou a seguir à profusa ornamentação. Com a casa pronta, fez saber que queria ser sepultado nela, mas as autoridades informaram-no de que não poderia ser. Foi então erguer um mausoléu no cemitério de Hauterives, em que gastou mais oito anos. Morreu no ano seguinte.

Nos últimos anos de vida, Cheval obteve o reconhecimento de surrealistas, como Pablo Picasso e André Breton, e Anaïs Nin destacou a sua obra num ensaio publicado. A casa é uma mistura impressionante de estilos (?) e de elementos decorativos, que incluem inspirações bíblicas e da mitologia hindu. Para muitos, é um exemplar ímpar de arquitectura naif.

Em 1969, o ministro da Cultura francês, André Malraux, decidiu proteger o Palácio e classificá-lo como património cultural. Passou a estar diariamente aberto ao público e, desde aí, recebe visitantes com regularidade. Por certo, vão menos para ver o nonsense do Palácio como casa de habitação e mais para observar o ideal sonhado por um homem solitário, ingénuo e obstinado.

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