'Artitectura': os mal-amados (5)
Pałac Kultury i Nauki (ou PKiN), Varsóvia (Polónia)
O Palácio da Cultura e Ciência perdeu o resto amaldiçoado do nome que já teve: Pałac Kultury i Nauki imienia Józefa Stalina. José Estaline mandou fazê-lo e disse que era uma oferta da União Soviética ao povo polaco. Foi construído entre 1952 e 1955 e passou a dominar Varsóvia dia e noite.
Espécie de bolo-de-noiva gigante (o "bolo russo", como lhe chamam os polacos), nasceu das mãos de Lev Rudnev, que o projectou como tantos outros arranha-céus russos da época, misturou-lhe renascentismo e uns maneirismos variados, juntou-lhe alguns traços polacos que colheu no caminho, deixou-o crescer desmesuradamente, salpicou-o com uma pitada de estalinismo q.b., enfeitou-o com o que lhe veio à cabeça e serviu-o bem quente.
O nome de Estaline foi banido com a "destalinização", mas a memória ficou: Varsóvia odeia o dador e a oferta. Não admira: o novo-riquismo disforme ditou que fosse, de 1955 a 1957, o edifício mais alto da Europa e ainda é o maior do país e o oitavo mais alto da União Europeia; o complexo Palácio abafa uma cidade cujo centro histórico, ainda por cima, é Património Histórico classificado pela UNESCO.
Durante a construção, 3500 operários russos foram instalados num bairro suburbano a expensas da Polónia – com cinema, restaurante, centro comunitário e piscina – e a obra registou 16 acidentes de trabalho mortais.
Depois da saída soviética, em 1989, o ódio esmoreceu e o impacto do complexo foi atenuado: recebeu no topo quatro relógios de 6,3 metros de diâmetro, em 2000, e os prédios erguidos entretanto alteraram a volumetria urbana. Mas será possível um dia gostar de tamanha aberração? Nunca: a sua omnipresença é uma sombra do passado odioso que ficou a pairar sobre a sofrida capital.