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Delito de Opinião

Os muros e os símbolos

João Carvalho, 09.11.09

Fico confuso. Paro para reflectir. O Pedro Correia destaca os vinte anos de liberdade a Leste com uma mão-cheia de verdades terríveis no interior da cortina-de-ferro que o Muro de Berlim tentava ocultar e cai, certeiro, em cima das lágrimas do Avante!, que chora saudosamente a queda do socialismo soviético. O Carlos Barbosa de Oliveira diz que o champagne ainda está no congelador por ainda haver muitos muros, outros muros que se ergueram após a queda do Muro de Berlim, o que impede a celebração.

Afinal, o que é que eu celebro? É difícil. Celebro a resistência contra o extermínio de homens por outros homens, o assassínio de opositores pacíficos pelo poder político, as novas escravaturas, as deslocações tolhidas, as leituras proibidas, os pensamentos julgados, os sonhos desfeitos, as famílias destruídas, os amigos traídos, as expectativas goradas, os desejos pisados. Não quero muros, não. Há 20 anos, ficou menos um. Outros há, outros haverá, mas um deles já caiu.

O que é que eu celebro? Celebro esse símbolo da vitória sobre um "muro da vergonha". Afinal, a opinião não deve ser delito. É isso que eu celebro: o sinal de que os muros caem sem sujarmos as mãos de sangue. Sujas de sangue estão, não raro, as mãos que os erguem.