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Delito de Opinião

Gostava que a morte não fosse assim

Pedro Correia, 08.11.09

Birth or Death? There was a Birth, certainly,
We had evidence and no doubt. I had seen birth and death,
But had thought they were different; this Birth was
Hard and bitter agony for us, like Death, our death,
We returned to our places, these Kingdoms,
But no longer at ease here, in the old dispensation,
With an alien people clutching their gods.
I should be glad of another death.

T. S. Eliot

 

Na Somália vigora a lei islâmica, que não perdoa: o adultério é punido com o apedrejamento até à morte. Foi o que aconteceu a Abas Hussein Abidarahman, de 33 anos, executado defronte de 300 pessoas por ter confessado o "crime": a agonia durou sete minutos, como relata a BBC. À mulher foi por enquanto poupada a vida. Motivo: está grávida. A execução só deve ocorrer após o nascimento da criança concebida em "pecado", que será confiada a uns parentes que aceitem tomar conta dela. Queira Alá que não tenha o triste destino dos pais. Ou da menina de 13 anos que morreu também lapidada em Outubro de 2008 em Kismayo, igualmente na Somália, por presumível "adultério". Garantiu o pai que a rapariga fora violada por três soldados, pormenor que o tribunal islâmico terá considerado irrelevante.

Por muito que queiramos fechar os olhos a estes factos, em nome do relativismo cultural, do respeito pelas 'tradições islâmicas' ou do longo cortejo de 'pecados do homem branco' em África que jamais deixam de ser expiados, eles existem. Teimosamente, persistentemente, existem. E conseguem por vezes até ser transformados em notícia, apesar de não ser rara a execução dos mensageiros. E não se passam num tempo remoto, envolto em trevas medievais, algures num inacessível reino de pesadelo: estas violações diárias dos mais elementares direitos da espécie humana ocorrem no mesmo instante e no mesmo planeta em que esgotamos a nossa indignação a clamar contra o milho transgénico ou os animais de circo.

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