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Delito de Opinião

Os saudosistas do Muro

Pedro Correia, 04.11.09

 

Por estes dias, o mundo assinala o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, um dos mais tenebrosos símbolos da Guerra Fria e do 'socialismo real' que vigorou durante quase meio século no Leste da Europa. Uma data que devia ser festiva para todos. Mas há sempre alguém que diz não: o PCP recusa associar-se às celebrações de júbilo pelo derrube do sinistro bloco de betão que dividiu a capital alemã durante 28 anos, chamando uma manobra da "contra-revolução" a essa incomparável explosão de liberdade ocorrida a 9 de Novembro de 1989.

Em comunicado hoje distribuído à imprensa, os comunistas portugueses exprimem a sua dolorosa nostalgia pelo caduco sistema soviético que implodiu há duas décadas. Celebrar para quê? Na óptica do PCP, "o mundo está hoje mais injusto, mais desigual, mais perigoso e menos democrático". De então para cá, conclui o partido liderado por Jerónimo de Sousa, aumentou a "opressão e exploração dos povos - a começar por muitos dos ex-países socialistas, com a regressão de direitos laborais, a privatização de funções do Estado, com a ofensiva contra direitos e liberdades historicamente alcançados". Como se vigorasse alguma liberdade na Europa de Leste anterior a 1989, mantida sob a tutela pura e dura dos blindados soviéticos.

O cenário actual é todo negro: "Em Portugal e no mundo, se há coisa que estes 20 anos confirmam é que o capitalismo não só é incapaz de resolver os grandes problemas da humanidade e do planeta, como é o principal factor do seu agravamento". Antigamente é que era bom.

O que mais impressiona, neste comunicado, é a defesa - cega e surda às evidências da História - de um sistema que acorrentou milhões de pessoas, impedindo-as até de circular dentro do seu próprio país. O PCP de hoje, nesta matéria, é mais fechado e mais sectário do que o de Maio de 1990, reunido no congresso extraordinário de Loures, onde Álvaro Cunhal deixou bem claro: "O nosso partido rejeita e condena situações, orientações e práticas negativas que conduziram países socialistas a crises e a derrotas."

Gostaria de saber se comunistas lúcidos e moderados - como António Filipe, Honório Novo, Rui Sá, Octávio Teixeira, Ruben Carvalho e Manuel Gusmão, só para mencionar alguns - se revêem no lamentável comunicado difundido hoje pelo gabinete de imprensa do PCP.

 

ADENDA

O último líder do Partido Comunista da Alemanha de Leste, Egon Krenz, disse ao correspondente da Lusa em Berlim, Francisco Assunção, que "cada morto foi um morto a mais", referindo-se aos 140 alemães de leste abatidos por guardas fronteiriços quando tentavam fugir para Berlim-Oeste entre 1961 e 1989. Mortos que o PCP esquece enquanto chora pelo muro que caiu.

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