Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Maus vícios

Sérgio de Almeida Correia, 02.11.09

Ora aqui está um péssimo vício que merecia ser objecto de censura pública, quando não de proibição. Porquê? Porque os beneficiários deviam ser os primeiros a recusar essas prendas. Um tipo que manda oferecer prendas que não são meramente simbólicas e alusivas a uma determinada quadra, devia ser apontado como um exemplo a não seguir. Quem as recebe também. Se os agentes da Brigada de Trânsito da GNR que ganhavam 600 ou 700 euros por mês foram acusados de corrupção por terem recebido frangos e garrafas de whisky, que pensar desta gente que ocupa os mais altos cargos no Estado e nas empresas públicas e privadas, que aceita receber "presentes"? Infelizmente, ao longo da minha vida, soube de muitos que durante semanas seguidas mandavam os seus motoristas atafulharem os carros com as generosas ofertas recebidas, dezenas e dezenas de prendas, alguns havendo que nem uma garrafa ofereciam ao motorista. Alguns para quem poupar € 15 num almoço dava sempre jeito. E que queriam viajar em executiva com bilhetes de económica. Também soube de outros que mandaram devolver as prendas, depois de as fotografarem e de darem conhecimento aos seus superiores, mas destes não reza a história. Afastados, esquecidos, vilipendiados, olhados de soslaio, como se fossem eles os prevaricadores. A ética do serviço público é para algumas pessoas uma coisa muito difícil de entender. E quando atrás dela vem um prato de lentilhas, ainda mais duro se torna. Compreendo que não seja fácil mudar o que levou mais de quarenta anos a construir. Uma cultura de subserviência, de hábitos paroquiais, de "respeitinho", como dizia o poeta, leva muito tempo a ser corrigida. A República tinha a obrigação, em mais de trinta anos de democracia, de já ter acabado com estes atavismos.

1 comentário

Comentar post