Crianças quê?
Espero não estragar a bem apanhada série do Pedro Correia sobre expressões intragáveis, mas não resisto a dar conta de uma que mexe comigo e que se ouve cada vez mais: «crianças institucionalizadas». Deve ser outro tique que entrou no 'linguajar da moda' – e, como se sabe, há palavras e expressões que, ditas hoje em dia por meia dúzia de cabecinhas com direito a tempo de antena, passam a ser ditas pela carneirada toda.
Chamar «crianças institucionalizadas» às crianças que a vida largou ao abrigo do Estado e de instituições de protecção de menores é mais do que consagrar uma chancela estúpida: é recorrer a uma definição execrável e espalhar um estigma de muito mau gosto. Ainda pior quando é usada tantas vezes por mulheres, até por mulheres que são mães e que também são responsáveis por instituições dessas. Será que estas também são "mulheres institucionalizadas"? E os velhos que acabam colocados em lares e instituições do género também são "idosos institucionalizados"? E os pobres que se lavam, se vestem, comem e dormem em instituições de apoio à pobreza chamam-se "carentes institucionalizados"?
Passo-me com esta gente, que devia ser afastada e reenviada para o anonimato. Não o dizem por mal? Então parem um momento e habituem-se a pensar, antes de abrir a boca para debitar o mesmo que ouviram aos outros geniozinhos bacocos.