plantar, colher, fiar, tecer
Quase no final do DocLisboa tive a oportunidade de ver Constantin e Elena, primeira longa realizada por Andrei Dascalescu, romeno que, ainda nos vintes, tem já folha de trabalho em montagem e sonorização. Um acaso bem-afortunado (o último filme de Coppola, rodado na sua terra natal) deu-lhe oportunidade de trabalhar durante mais de um ano com uma das suas grandes referências, Walter Murch. No final da experiência Andrei decidiu dar a Walter um obrigado em forma de tapete, acrescentando-lhe um pequeno rol de imagens dos dias da octogenária que o tecera. O veterano agradeceu, dizendo-lhe sem favor que o que ali tinha era um filme a haver. Incentivado por este e outros colegas, Andrei veio ao DocLisboa2007 fazer o pitching do projecto. Roberto Blatt ficou tão entusiasmado com o que viu que afirmou nessa sessão pública que, se necessário fosse, poria dinheiro do seu próprio bolso para viabilizar o futuro documentário. Dois anos depois Dascalescu regressou à nossa capital para nos dar a oportunidade de conhecer a história do futuro de um combatente da Segunda Guerra que, depois de um dia à conversa com uma tecedeira recém-saída de um convento, a pediu em casamento. Temos à nossa vista a velhice, a pobreza, o desconforto, e no entanto nada disso obscurece a força do humor, das cantorias, da ligação à terra e à prole de que Constantin e Elena Vinca – afinal, avós de Andrei - continuam a viver.
Como espectadora, obrigada aos organizadores do festival. Um objecto destes redime as experiências filmicamente inanes de que somos alvo numa ou noutra sessão. Quem quiser espreitar algumas imagens, excertos e factos pode passar pelo site. Para quem quiser mais, será transmitida uma versão um pouco mais curta nos próximos dias, no canal Odisseia.
