O jornalismo do "diz que disse"
Não faço ideia se isto é obra de assessores bem posicionados ou simplesmente de mau jornalismo, mas nos últimos dias tem-se assistido a um verdadeiro regabofe opinador na imprensa. Notícias veiculadas pela comunicação social, da qual espero objectividade, imparcialidade e facticidade, parecem ceder a um achismo permanente, não justificando as afirmações apresentadas. Gabriel Silva dá aqui um excelente exemplo, num artigo no "Público" cheio de recadinhos e generalizações sem fundamento. Mas o "Expresso" vai pelo mesmo caminho. Alguns breves exemplos (p. 6):
Sobre António Mendonça, futuro Ministro das Obras Públicas: "É bastante afável. [...] Não domina o mercado das obras públicas. Admite-se que terá apoios junto de gestores seniores, como Pina Moura". É bastante afável? E diz quem? A mulher? O primo? Não sabemos. "Não domina o mercado das obras públicas". Porquê? Não sabemos. "Admite-se que terá apoios"? Admite quem? E porquê? E por que é que não se há-de admitir o contrário? Não sabemos.
Sobre Isabel Alçada, futura Ministra da Educação: "o nome de Isabel Alçada até é pacífico entre os docentes". Isto baseia-se em quê? Num estudo? Numa sondagem? Numa entrevista porta-a-porta? Num comunicado dos sindicatos? Ou na "fé" do jornalista? Não sabemos.
Sobre Dulce Pássaro, futura Ministra do Ambiente: "É uma servidora da causa pública, mas não uma combatente política". Porquê? Não sabemos.
Sobre Luís Amado, MNE: "Tem o consenso à direita e à esquerda e o respeito dos seus pares no estrangeiro". O jornalista em causa sabe o que pensa a direita, a esquerda e até os ministros dos negócios estrangeiros espalhados por esse mundo fora sobre Luís Amado. Notável.
Sobre Gabriela Canavilhas, futura Ministra da Cultura: "Mulher polémica, que suscita ódios e paixões [...]". Momento SIC 10 horas meets Dr. Phil, sobre o qual, confesso, não sei o que dizer.
E isto foi só numa página. Sinceramente, não percebo. Ou se calhar percebo, mas não quero acreditar.