Ruas da minha cidade 2
Lembro-me bem de sentir a adrenalina a subir sempre que, ainda miúda, tinha de atravessar a rua, a caminho da escola, com aquele semáforo no vermelho. Não havia alternativa. A única forma de alcançar em segurança o passeio em frente era assim, em passo de corrida, com os carros a avançar na minha direcção. Mais tarde, já adulta, fui obrigada a passar o testemunho e ensinei crianças a trotar aquela rua em transgressão.
Tudo para dizer que está na mesma, o semáforo. Parece que os anos não passam por ele. A gente cresce, envelhece, reproduz-se e o bicho continua, imperturbável, no mais movimentado cruzamento do bairro, a ver os miúdos da escola a ganhar coragem para enfrentar os carros e os velhos a ensaiar passos de ballet burlesco, entre gritos e apitos. Não será o único semáforo de Lisboa a regular o trânsito de peões em estilo alternativo, mas este tem a particularidade de contar com mais de vinte anos de serviço e de ficar mesmo em frente a uma pastelaria muito frequentada por um homem que até foi presidente da câmara. Mas há coisas que nunca mudam, não é?.