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Delito de Opinião

Politicamente ferido

Pedro Correia, 30.01.09

Alguns propagandistas do Governo na blogosfera, fazendo coro com José Socrates, pareceram ficar tranquilizados com o comunicado do procurador-geral da República, que se fez esperar com o suspense de uma tragédia grega. Foram demasiado apressados, confundindo os desejos com a realidade. Porque o comunicado, conjugado com as declarações da procuradora Cândida Almeida que dominaram as televisões no serão de ontem - certamente com a conivência de Fernando Pinto Monteiro -, em nada contribuíram para aliviar a pressão política sobre o primeiro-ministro. "Se [Sócrates] vier a ser suspeito um dia, naturalmente serão investigadas as suas contas bancárias”, disse a procuradora, sibilina, enquanto Pinto Monteiro sublinha o óbvio: "Serão seguidas quaisquer pistas consideradas com interesse, analisados todos os fluxos bancários e inquiridas todas as pessoas ligadas ao caso, realizando-se as diligências tidas como necessárias para a descoberta da verdade." Acentuando que "ninguém está acima da lei", como se alguém admitisse o contrário.

Espada de Dâmocles? É evidente. Torno a citar Cândida Almeida, na entrevista À RTP: "Eu diria que, no conjunto do processo, o nome de José Sócrates aparece mas não há qualquer suspeita, até este momento, quanto ao envolvimento dele." E em jeito de remate: "Uma investigação é aberta. O que hoje é verdade amanhã não o é."

As dúvidas, mais do que legítimas, quanto ao licenciamento do Freeport nas condições em que foi feito e no prazo em que se concretizou subsistem pelo menos desde 2005 e nunca foram desfeitas. A isto somam-se agora as suspeitas em torno da intervenção do tio de Sócrates, Júlio Monteiro, e de outros familiares do actual primeiro-ministro neste processo, além das inúmeras contradições já detectadas nos mais diversos depoimentos públicos. Daqui sai um chefe do Governo obviamente fragilizado, politicamente ferido e com uma imperiosa necessidade de concentrar o essencial das suas energias no esclarecimento cabal deste caso que já começa a ter repercussões além-fronteiras. Um país em recessão não pode ser governado desta maneira. Como, aliás, o próprio Sócrates não deixará de reconhecer a curto prazo. 

 

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- Candidamente..., de Gabriel Silva, no Blasfémias

3 comentários

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    Pedro Correia 30.01.2009

    Certo. Só faço leitura política, não me meto no imbróglio judicial, matéria reservada a iniciados.
  • Pedro:
    Este seu comentário - o dos iniciados - vale um blogue!
    A questão fundamental mantém-se de pé: por que razão andamos nisto desde 2005, sem recuos nem avanços?
    A tese da cabala em ano eleitoral é boa; a tese de que a justiça esteve parada durante estes anos porque só funciona para os desgraçados, também vale. Uma delas está errada - falta saber qual.
    Mas enquanto a dúvida não for esclarecida - se algum dia for - não se pode concluir se o homem está fragilizado politicamente.
    Repare: se eu estivesse na situação de Sócrates, demitia-me, porque não toleraria estar sob suspeita. Mas não estou certo de que essa fosse a melhor solução. Um primeiro-ministro não pode reger-se por estados-de-alma - tem deveres que não se compadecem com isso.
    O que está mesmo mal, é uma Justiça que anda no arame e que parece incapaz de gerir este tipo de situações em tempo útil. Mas isso já nós sabíamos de outros casos.
    Raio de país, este!



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