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Delito de Opinião

Diário de uma mãe

Joana Nave, 25.01.25

Não sei se é uma preocupação de todos os  pais, que os filhos tenham acesso a uma boa educação, para que o futuro seja risonho e possam ter as melhores opções de vida. Há quarenta anos atrás ainda era comum os pais não serem licenciados, mas havia já uma consciência mais ou menos generalizada que se os filhos avançassem até ao ensino superior teriam melhores oportunidades no mercado de trabalho. A sociedade também avançou nesse sentido, com os sucessivos avanços tecnológicos, com o aumento da escolaridade obrigatória e com uma maior oferta e competitividade.

Hoje em dia, há uma oferta muito maior de bens, serviços e também de oportunidades. Não precisamos sair de casa para quase nada, a interconectividade e a globalidade permitem-nos obter tudo o que precisamos.

Esta inércia de movimento leva claramente a um estado de apatia perante os grandes desafios da vida, porque não há esforço, nem compromisso, nem entrega, é tudo demasiado fácil e dado como adquirido.

Penso que é normal projectarmos nos nossos filhos os nossos desejos reprimidos, as nossas ambições ocultas, e com isso querermos que eles conquistem em parte o que não conquistámos. A ideia da superação é positiva, porque também nos devemos superar a nós próprios a todo o instante. No entanto, muitas vezes, mais do que as que seria desejável, projectamos nos nossos filhos os nossos medos, as nossas angústias e as nossas fraquezas, porque não queremos que tenham as dificuldades que nós tivemos ou ainda temos. É por isso que nos dia de hoje temos esta ideia de que têm de aprender muitas línguas e começar cedo, porque não podem ficar para trás. Preenchemos o tempo de brincadeira e o verdadeiro lazer com mil e uma actividades que são fundamentais, a nosso ver, para moldar a personalidade deles, para lhes dar competências que lhes vão fazer falta no futuro. Ouço muitos pais dizerem-me que os filhos vão praticar futebol, porque é um desporto colectivo e é muito importante trabalhar essa competência, e eu questiono duas coisas, por um lado, onde fica a liberdade das crianças se organizarem em grupos de interesses comuns e trabalharem também a competência da iniciativa, da autonomia e da criatividade, por outro lado, porque é que deixámos de ouvir o que as crianças têm para nos dizer e lhes impomos as nossas vontades, que só estão certas na nossa geração, quando eles estiverem no nosso papel o mundo mudou uma e outra vez e o que realmente importa não terá muito que ver com o que nos preocupa actualmente.

Somos pais zelosos, interessados e participativos, pois mesmo quando não temos tempo para ir andar de bicicleta, para fazer uma caminhada, para ler histórias, levamo-los às actividades, oferecemos presentes e esforçamo-nos para que aos 10 anos de idade já sejam conhecedores de uma boa parte do mundo. Esquecemo-nos muitas vezes do que realmente os faz feliz.

Leituras

Pedro Correia, 25.01.25

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«A utopia da língua bem-comportada, com um só significado por palavra, seduz muita gente. No entanto, lamento informar, as línguas humanas não são feitas a régua e esquadro. Há palavras com muitos significados, há conceitos expressos por várias palavras, há desarrumações em todos os recantos do léxico e da gramática.»

Marco Neves, Queria? Já não quer?, p. 108

Ed. Guerra & Paz, 2024

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 25.01.25

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Hoje lemos: Maja Lunde, "A História das Abelhas".

Passagem a L' Azular: “A professora não conhecia o livro, mas ficou fascinada por ele, tal como eu. Leu várias passagens em voz alta. Leu sobre o conhecimento, sobre agir contra o instinto porque se está convencido de que se sabe mais. Que para vivermos na natureza, com a natureza, precisamos de domesticar a natureza dentro de nós. E leu  também sobre o valor da educação. Porque é disso que se trata a educação: suprimir a natureza dentro de si."

Não sei se concordo com a supressão da natureza que existe dentro de cada um. Falo por mim, que sempre me guiei tanto pelo instinto como pela razão. Tanta vez que o bom senso me dizia que não, o instinto contrariava, e eu o seguia cegamente. Raramente me dei mal. E depois, quando é que o conhecimento se torna um entrave à evolução? Até empiricamente falando,  o conhecimento com base na percepção resume a verdadeira consciência da realidade. 

Não. Não quero, nem acredito necessário ter de domesticar a natureza dentro de mim para viver na natureza. Prefiro ser natural.

Parabéns, general

No 90.º aniversário de António Ramalho Eanes

Pedro Correia, 25.01.25

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Um oficial de semblante espartano irrompeu do anonimato numa noite tensa, ao surgir de camuflado como comandante operacional da contra-insurreição de 25 de Novembro de 1975 que pôs fim ao aventureirismo de uma certa esquerda festiva, armada até aos dentes. Com a região militar de Lisboa em estado de sítio, a circulação de jornais suspensa e os blindados do Regimento de Comandos da Amadora defrontando a Polícia Militar no quartel da Ajuda numa ríspida troca de tiros que provocou três mortos. O PREC chegava ao fim, a disciplina regressava aos quartéis, Portugal não seria a Albânia da Europa Ocidental – o destino que alguns tontos sonhavam para nós.

«Missão cumprida, meu general», disse o tal militar de poucas falas, dirigindo-se ao Presidente da República, Francisco Costa Gomes. Sete meses depois, já também oficial-general, ascendia ele próprio à chefia do Estado. Mas, ao contrário do antecessor, António Ramalho Eanes iniciava o seu mandato validado nas urnas. Pela primeira vez Portugal tinha um Presidente da República eleito por sufrágio livre, directo e universal.

 

Os portugueses gostaram dele: a 27 de Junho de 1976 recebeu quase três milhões de votos, correspondentes a 61,5% dos boletins. Era o mais jovem inquilino de sempre do Palácio de Belém: tinha apenas 41 anos quando ali entrou com a esposa, Manuela, e um filho ainda pequenino, Manuel. Outro viria a nascer já com o pai a conduzir o Estado naqueles anos em que o actual regime ainda gatinhava.

Alguns dos que mais o combateram acabariam por render-se à competência e à seriedade de Ramalho Eanes – figura de referência pela rectidão de carácter. Também por isso foi um dos raros políticos nacionais que sempre mereceram o meu respeito.

Mas o que me interessa valorizar sobretudo neste dia concreto, em que António dos Santos Ramalho Eanes festeja o seu 90.º aniversário, é o enorme contributo que o general deu para a consolidação da democracia em Portugal. Não foi tarefa fácil. Não foi - muito menos - uma tarefa menor. A verdade é que no momento certo ele estava lá. Mantendo-se à altura dos desafios da história. Devemos-lhe essa palavra de reconhecimento.

 

Gosto de qualificar o desempenho dos políticos formulando esta pergunta: ao cessarem funções deixaram o País melhor ou pior do que o encontraram?

Com Eanes nunca tive a menor dúvida quanto à resposta. O Portugal de 1986 era incomparavelmente melhor do que o Portugal de 1976.

 

Aprecio nele algumas qualidades que hoje parecem muito fora de moda: sobriedade, contenção verbal, sentido de honra, noção do compromisso, fidelidade à palavra dada, patriotismo jamais confundível com patrioteirismo. E coragem - física e anímica.

Gostava muito que o ex-Presidente escrevesse um livro de memórias ou sugerisse a alguém para o fazer por ele. Deve isso a Portugal e aos portugueses. Para já, daqui o saúdo em respeitoso cumprimento, endereçando-lhe parabéns por esta data festiva.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 25.01.25

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André Couto: «Começou a disputa sobre quem é mais Syriza. A análise dos factos é fácil: apenas o Bloco de Esquerda pode reclamar ser camarada político de luta reconhecido na Grécia. Ainda assim, em Portugal, não consegue unir o que o Syriza uniu na Grécia. Nos últimos meses muito menos. Para além dos laços de sangue a vitória do Syriza é, também, de todos aqueles que têm lutado por uma mudança política na Europa, não interessando o partido político, até porque muitos são independentes. Esta noite, por exemplo, vibro com o Syriza como amanhã com o Benfica. A mudança na Europa, uma nova confiança e agenda, não é propriedade de ninguém, é de todos os que a desejam, anseiam e lutam por ela há muitos anos.»

 

Francisca Prieto: «Esta, de entre todas as semanas possíveis, calhou-me a mim escrever a rubrica do blogue da semana. Ora não fica lá muito bem uma pessoa andar a promover um blogue seu, mas acontece que passei o dia de ontem a carregar os caixotes que vão permitir que o meu blogue passe as fronteiras da vida virtual e se materialize na vida real. E isto é tão espectacular que tem de ser contado, sobretudo quando acontece nesta semana, precisamente.»

 

Helena Sacadura Cabral: «Fui hoje ver o “Jogo de Imitação” e dou por muito bem empregue o tempo que passei na sala onde o vi, pese embora tivesse ido a uma sessão em que ainda havia bons raios solares para aproveitar.  Trata-se de um filme realizado pelo norueguês Morten Tyldum - o mesmo de "Headhunters-  que narra a vida de Alan Turing, o lendário génio da matemática que, ao decifrar os códigos nazis, terá ajudado a Inglaterra a ganhar a guerra.»

 

Luís Menezes Leitão: «À frente da Comissão Durão Barroso sempre esteve totalmente do lado das posições alemãs e contra os interesses dos países do Sul, incluindo daquele a que pertence. Como bem se escreve neste artigo: "Os dois líderes políticos estiveram juntos na pobreza e na austeridade, no desemprego e no crescimento da Europa, até que o fim do mandato de Durão, em outubro de 2014, os separou". Faz por isso todo o sentido que Merkel condecore Durão Barroso. Já que Cavaco Silva também o tenha feito, é mais difícil de explicar. O legado de Durão Barroso na Europa está à vista com o crescimento dos partidos radicais que ameaçam estilhaçar o projecto europeu. Aposto que, nas suas próprias imortais palavras, hoje vamos começar a ter o caldo entornado.»

 

Luís Naves: «A dose de austeridade foi excessiva na Grécia? Claro. Isso é reconhecido por todos os intervenientes, mas os europeus acham que estão a fazer a sua parte, pagaram os resgates e há ajudas disponíveis, nomeadamente o estímulo monetário do BCE ou os fundos europeus. A Grécia é que se endividou de forma irresponsável e terá de aceitar as condições dos empréstimos ou escolher sair do euro, caminho que representa uma calamidade bem maior do que os actuais sacrifícios. É assim que a Europa do norte vê a questão e não compreendo o argumento de que, no caso das exigências gregas serem rejeitadas, está em causa a democracia. Seria viável sobrepor a vontade dos gregos à da opinião pública dos países credores? Afinal, o governo alemão também responde perante os seus eleitores e enfrenta os seus próprios desafios populistas, precisa de ter extremo cuidado com as cedências que está disposto a fazer.»

 

Eu: «Hollywood, reino por excelência dos narcisos, raramente se olha ao espelho. É pena. Porque quando o faz costuma produzir obras-primas. Assim foi, por exemplo, com O Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder, genial incursão ao lado negro da fábrica de sonhos, incapaz de alimentar as ilusões dos seus protagonistas. Ficarão para sempre na memória cinéfila cenas capitais desse filme: um corpo a boiar na piscina, actores do cinema mudo (Buster Keaton entre eles) jogando cartas numa mesa onde há muito deixou de haver ases, Gloria Swanson descendo a escadaria que simbolicamente a conduz do patamar da glória do passado ao chão que pisamos todos nós, simples humanos.»

Vamos ver*

José Meireles Graça, 24.01.25

É difícil, senão impossível, gostar de Trump. O seu vocabulário não será constituído por mais de 100 palavras, de história dos EUA deve conhecer uma versão de bolso lida a correr e da universal é seguro que nunca ouviu falar dos Sumérios, suporá talvez que o grande contributo grego para a civilização foi a Maria Callas, que Roma era lá aquela coisa dos gladiadores e que o Reino Unido só é unido porque andaram à batatada com os Escoceses.

Duvida-se que tenha lido mais de 3 livros, um de contabilidade, outro sobre empresas de sucesso e o terceiro, na juventude, As Aventuras de Huckleberry Finn, que recorda com saudade.

Não tem uma carreira política, salvo a campanha e a presidência que ganhou anteriormente. Mas foi eleito e, da segunda vez, depois de durante quatro anos ter sido perseguido tenazmente pelo establishment político, a maioria da comunicação social local e a quase totalidade da estrangeira, com acusações de lana caprina que eram apresentadas com estrondo como se se tratasse de gravíssimas falhas de lisura e comportamento. O crivo na América é muito mais apertado do que na Europa, as preocupações com sexo e intimidade quase doentias e o poder judicial (como, crescentemente, em todo o lado) ansioso por jogar o jogo da política sem a maçada de depender dos eleitores. Esse o caldo que teve de entornar.

Ganhou por ter teimosia, coragem e dinheiro, não obstante do outro lado haver ainda mais dinheiro e a tenacidade difusa do sistema ofendido. Aquilo é, porém, para o bem e para o mal, a terra dos vencedores. E, por isso, na sua inauguração tinha personagens como Zuckerberg, que há dias veio confessar cândidamente que sim senhor praticou censura em nome do combate ao discurso de ódio e às fake news, a mando do Governo, mas que agora se encontrava rendido aos encantos da livre expressão da opinião.

Tem lições, esta vitória. A primeira é que a condição de intelectual não recomenda ninguém para mais do que dar umas aulas na universidade, escrever uns artigos e talvez uns livros, mas não para poderes executivos. Precisamos dos artigos, dos livros e dos professores porque são as ideias que comandam o mundo, mas, num regime democrático, é preciso conquistar os eleitores e estes tendem com frequência a pensarem pela própria cabeça – que se danem os pastores ideológicos do rebanho. A primeira lição é assim que a vitória de Trump é a vitória da democracia: jornalistas, comentadores, empresários, magistrados da opinião, acham que devemos ir por aqui? Pois nós vamos por ali.

A segunda é que as explicações sábias que atribuem a derrota de Biden à inflação são interesseiras: o que Trump defendeu na campanha, e que põe os cabelos em pé ao bem-pensismo de lá e de cá, é muito mais do que a economia. E mesmo que não tivesse havido um surto inflacionista e Trump tivesse perdido, sempre ficaria esta vaga de fundo de reacção ao mundo que tem vindo a ser construído no Ocidente, feito de delegação de poderes em burocracias internacionais, desprezo pela tradição, fiscalização do discurso e engenharia social em matéria de relações entre sexos, etnias e nacionalidades. O que os eleitores disseram, como já tinham dito húngaros, italianos, checos e muitos outros – e ainda a procissão vai no adro – foi: basta.

Fosse Trump o intelectual que não é e já estaria a meter no seu modelo de raciocínio tantas variáveis que o resultado seria a paralisia. Mas não: é grande a saraivada de decretos logo nos primeiros dias, ao serviço da ideia peregrina de cumprir promessas eleitorais, coisa que um político mais experimentado nunca faria. E é bom olhar para alguns desses diplomas para perceber por que razão não são apenas deploráveis que lhe compram o discurso mas também essa turba indistinta ou ultra-minoritária que pulula nas redes e aqui neste jornal, ocasionalmente, e que o aprova.

Começa por uma quantidade de medidas para estancar, e reverter, a imigração. Não é provável que a retórica maximalista de Trump seja exequível (deportar milhões), nem que que inúmeros pequenos negócios possam sobreviver sem imigrantes, nem que muitas profissões (de serviço doméstico, por exemplo) os possam dispensar. E também a negação da nacionalidade americana a quem nasça no território chocará com a emenda à Constituição que a garante. Mas a mensagem que ficará não é o processo, que não atingirá o objectivo, é a ideia de que a América e os seus valores não são para substituir, a prazo, por tradições e valores alheios. Uma ideia que, na Europa e para muitos países, tem crescentes compradores. Ainda bem.

Na economia, uma saraivada de decretos corta regulamentações sortidas que encarecem bens e serviços, com isso se pretendendo combater a inflação. Será talvez oportuno lembrar que sempre que um governo, com as melhores intenções, cria uma burocracia para combater um flagelo ou um percebido abuso qualquer, essa burocracia não vai nunca ser objecto de qualquer análise custo/benefício e tenderá a crescer em importância e intervencionismo – tornar-se-á uma pedra oculta dependurada ao pescoço da economia sã. Por muito que Musk e os outros engenheiros das amputações façam ficarão aquém do necessário. Teremos muito a aprender? Imenso.

As tiradas trumpianas sobre taxas à importação de produtos provocam na generalidade dos economistas, lá e cá, urticária, por entenderem que isso provocará um aumento de preços de bens, portanto alimentando a inflação, além de outras consequências negativas como sejam a travagem do crescimento económico por má alocação de recursos, e o espoletar de uma guerra comercial com a qual ninguém ganhará. O que o outro lado pia quase não se ouve, por ser silenciado, mas é que as taxas serão diferenciadas para prevenir aqueles efeitos e a valorização da moeda combaterá o aumento de preço nas importações. Mesmo achando que uma das condições para realmente entender a economia é não ser economista, inclino-me neste caso a achar que os riscos são grandes.

A América vai sair da Organização Mundial de Saúde e retirar-se do Acordo de Paris, uau. A retórica mundialista vende que aquela organização existe para se ocupar, em nome da ciência, da saúde universal, e que o Acordo garante que não vamos morrer todos assados (a Terra, segundo o engº Guterres, já está em ebulição, e talvez por isso se tivesse feito fotografar dentro de água fresca vestido de fato) ou afogados.

A OMS é na realidade um organismo suspeito de demasiado permeável à influência chinesa. E sofre do mesmo vício de que padece a ONU, isto é, uma maioria pouco salubre decide o que todos os países devem fazer, sob as ordens de um czar que executa as deliberações. E quanto ao Acordo fossem as alterações climáticas apenas uma tese de que a comunicação social se ocupava dando voz aos especialistas que as veem assim e aos que as veem assado e não teriam talvez nascido tantos estudos, tantas agências, tantos interesses, tantos voluntarismos e tantas decisões lesivas para a economia para sossegar a multidão que acredita em profecias apocalípticas.

Longe vai o tempo em que a imprensa, nos países democráticos, era um contrapoder. O advento da internet e das redes pô-la de joelhos porque nem nas notícias nem nas opiniões continuou a ter o monopólio – a concorrência faz de graça. Daí que tivesse fugido para os braços do Poder, criando um conúbio doentio que faz com que, no aquecimento global e no mais, o ponto de vista veiculado nunca seja o do negacionista, por muito albardado que este esteja de diplomas, como frequentemente está.

Drill, baby, drill, disse Trump, gelando de pavor meio mundo no Ocidente, enquanto o outro meio suspirava de alívio. Já era tempo. E retirou a subsidiação à compra de veículos eléctricos, baseado na ideia de deixar funcionar o mercado – um completo absurdo, já se vê. (Um pormenor curioso sobre esta medida é que se dizia que não a iria tomar porque isso prejudicaria a Tesla, logo Elon Musk. Agora diz-se que o vai beneficiar porque a Tesla já está em lucro e a concorrência não, de modo que leva vantagem porque as outras marcas vão sufocar).

Talvez o decreto de maior relevo seja o que proíbe às agências federais a restrição da livre expressão da opinião dos Americanos, seja sob que pretexto for. Vamos ter então as mesmas opiniões erróneas, e as mesmas crenças absurdas, e falsidades, e desinformações, e todas as demais liberdades que se permitem as pessoas quando podem falar sem freio; e vamos ter no embrulho coisas que ignorávamos e opiniões silenciadas que vale a pena ouvir. Todavia, não vamos ter mandarins oficiais da opinião a decidir o que pode ser dito, lido e ouvido. Há quem ache que ficamos pior.

Há mais, muito mais, como o fim de programas federais que incluem preferências baseadas na raça, no sexo ou quaisquer outras características imutáveis, ou que estabelecem discriminações baseadas em exigências de diversidade, “equidade” e inclusão. E, neste ponto, conclui Trump, revolucionariamente, que doravante será política oficial do governo dos Estados Unidos que há apenas dois géneros – masculino e feminino.

Vai correr bem? Estamos tão habituados a que a direita, quando chega ao poder, faça uns retoques no estado de coisas que herdou, deixando-o praticamente intocado para que a esquerda, quando regresse, prossiga o caminho que faz com que a Europa, hoje, seja uma sombra de si mesma, que nos parece que o futuro tem de ser uma variante, com mais ou menos molho, do passado. Seria bom que corresse.

* Publicado no Observador

Pedro Nuno Santos vira a casaca

Pedro Correia, 24.01.25

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«Os imigrantes têm de respeitar a [nossa] cultura e [o nosso] modo de vida.»

«O respeito pelas mulheres é fundamental na sociedade contemporânea e deve ser um valor partilhado por todas as pessoas que querem viver e trabalhar em Portugal.»

«Deve haver um esforço muito determinado em garantir que quem trabalha e vive em Portugal saiba falar português.»

«Quem procura Portugal para viver e trabalhar, obviamente, percebe, ou tem de perceber, que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada.»

«A justiça deve ser implacável contra o crime e os criminosos, sejam eles de que origem forem.»

«Precisamos, de uma vez por todas, de falar sobre a imigração de forma descomplexada, exigente, rigorosa, como infelizmente não se tem feito.»

«Não devemos tratar da mesma forma alguém que entrou legal e alguém que entrou ilegal.»

«O País não se preparou para a entrada intensa de trabalhadores estrangeiros.»

«Esse instrumento [manifestação de interesse] tinha efeitos negativos, porque, na realidade, não podemos ignorar que tinha um efeito de chamada.»

 

Pedro Nuno Santos, hoje, em entrevista ao Expresso. Com discurso muito semelhante ao de Luís Montenegro, que ele criticara há pouco mais de um mês no parlamento

Uma jovem de vinte anos, uma égua e uma viagem da Alemanha até Portugal (4)

Cristina Torrão, 24.01.25

Além da alegria pelo reencontro com o pai, Jette passou um serão muito agradável, com a senhora que os hospedou, o seu neto e o cão da família.

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Estavam apenas a 10 km da fronteira francesa e, num acto simbólico, Jette atravessou-a a cavalo, enquanto o pai esperou por ela do lado francês.

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Depois de acomodarem a Pinou no atrelado, fizeram-se ao caminho, em direcção a Espanha.

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Jette queria, porém, realizar um sonho: cavalgar ao longo do Atlântico. Fizeram, então, uma paragem em Capbreton, pequena localidade costeira perto de Bayonne. Aí, Jette e Pinou viveram momentos inesquecíveis.

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A moça cavalgou durante cerca de uma hora, na praia. Jette escreveu (tradução minha): “Penso que nunca tinha galopado a tamanha velocidade. Depois de tanto tempo no atrelado, a Pinou estava cheia de energia, fazendo a areia voar à nossa volta. Um grande sonho meu tornou-se realidade e não consigo expressar em palavras os sentimentos que me abalroam. Tenho uma sorte incrível em poder viver tudo isto."

Há um vídeo, feito pela própria Jette, a galopar. Quem tiver Instagram, pode vê-lo, no 43º dia de viagem (Tag 43). Ponho aqui um frame desse vídeo, onde se vê a crina da Pinou a voar.

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Realizado este sonho, Jette e o pai retomaram a viagem. Atravessaram a fronteira e alojaram-se numa bonita quinta, nos Pirenéus, onde ficaram três dias.

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Aproveitaram para visitar Bilbao, a cerca de hora e meia de distância.

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Em princípio, Jette retomaria a sua viagem a partir do alojamento, mas, tanto ela, como o pai, pensaram ser melhor deixar os Pirenéus para trás. Uma boa ideia, sobretudo, tendo em conta que já se encontravam em fins de Outubro. Avançar sozinha com a Pinou, por zona tão montanhosa, onde não se exclui a caída de neve, podia tornar-se perigoso. Seguem-se algumas imagens minhas, igualmente frames, de um troço da auto-estrada entre Vitoria (Gasteiz) e Burgos. O vídeo foi feito durante a nossa viagem, em Abril do ano passado.

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A 24 de Outubro, o pai de Jette deixou-a na zona de Burgos. Confesso que esta era a fase da jornada que mais curiosidade me despertava: o longo planalto espanhol, entre Burgos e a fronteira portuguesa.

O Horst e eu já fizemos este caminho inúmeras vezes, nos últimos trinta e dois anos. Mesmo da auto-estrada, dá para perceber como a região é seca e solitária, quase um deserto de rochas e pó. Na Primavera, ainda se vê algum verde a cobrir as colinas, salpicado com o vermelho das papoilas. No Verão, há culturas de girassóis e, nos últimos anos, cada vez mais, de colza. No Outono, porém, já se colheu tudo, restando uma paisagem queimada, onde proliferam as aldeias abandonadas.

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Como iria Jette dar-se nesta inóspita região, tendo ainda (evitando estradas principais) cerca de 500 km até à fronteira portuguesa, com apenas uma égua por companhia e sem saber falar espanhol? Conseguiria alimentação suficiente e lugares de pernoita? Seriam nuestros hermanos (os poucos que ela encontraria) hospitaleiros? Temos sempre a impressão de que os espanhóis são arrogantes, pouco amigos de ajudar…

Depois de ver o pai partir, Jette sentiu-se muito sozinha. Já não estava na Alemanha, onde podia comunicar na sua língua. E, já nem os pais, nem o namorado, podiam vir ter com ela, no espaço de meia dúzia de horas.

À despedida do pai, um sorriso para a fotografia.

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Nota: Todas as fotografias e informações aqui divulgadas (à excepção dos frames na auto-estrada, como explicado) foram retiradas do diário de viagem de Jette:

https://www.instagram.com/jette.horse.journey/

@jette.horse.journey

Churchill: um herói do século XX

Nos 60 anos da morte de Winston Spencer Churchill (1874-1965)

Pedro Correia, 24.01.25

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«De entre as figuras que se impuseram no século XX, fosse para o bem ou para o mal, Winston Churchill foi a mais importante para a humanidade, e foi também a mais amável de todas. Não há outra personalidade da qual se possam extrair tantas lições, em especial para a juventude: a tirar partido de uma infância difícil; a aproveitar ao máximo todas as oportunidades, físicas, morais e intelectuais; a ousar em grande, para reforçar o êxito e ultrapassar os inevitáveis fracassos; e a ter ambições elevadas, aplicando-lhes toda a energia e paixão, sem deixar de cultivar a amizade, a generosidade, a compaixão e a elevação moral.»

Paul Johnson, Churchill

 

Winston Spencer Churchill, filho de um aristocrata inglês e de uma beldade norte-americana, recebeu notas medíocres como estudante e jamais foi tratado com afecto pelo pai, um indivíduo propenso a depressões. Tinha todos os requisitos para ser considerado uma "criança problemática", de acordo com um jargão agora muito em voga, mas foi o mais bem sucedido político britânico de todos os tempos.

Era, simultaneamente, um homem de reflexão e um homem de acção. Escreveu excelentes obras, como The World Crisis (1923/27) e Aftermath (1929). Os seis volumes das suas memórias sobre a II Guerra Mundial - na qual foi um dos grandes protagonistas -, concluídos em 1951, tinham vendido mais de seis milhões de exemplares só em língua inglesa dois anos mais tarde, quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Pintou mais de 500 quadros - «mais do que muitos pintores chegaram a pintar em toda a vida», como acentuou Paul Johnson na biografia do homem que foi deputado durante 55 anos, ministro (do Interior, da Marinha, das Colónias e das Finanças) durante 31 e primeiro-ministro - em dois mandatos - durante quase nove.

 

Morreu cumprem-se hoje seis décadas, aos 90 anos, após uma vida intensa: combateu como militar em 15 batalhas em quatro continentes (Cuba, Índia, Sudão, África do Sul na guerra dos Boers e Flandres durante a I Guerra Mundial) e recebeu 14 condecorações de guerra. Viu a morte várias vezes à sua frente, mas nunca perdeu a alegria de viver. Publicou quase dez milhões de palavras («mais do que muitos escritores profissionais publicam ao longo de toda a vida»), teve um casamento feliz que durou 56 anos e terá bebido perto de 20 mil garrafas de champanhe, a sua bebida favorita.

Expressões hoje de uso corrente foram cunhadas ou popularizadas por ele - Médio Oriente, Cortina de Ferro, "sangue, suor e lágrimas". Foi o primeiro político a fazer com os dedos o V da vitória, gesto que quase todos os outros depois dele adoptaram. Era um grande caçador e um viajante infatigável: deu várias vezes a volta ao mundo. Desportista, praticou pólo até aos 53 anos. Não escondia o fascínio pelo cinema. Adorava conduzir e tinha brevet de aviador.

Cometeu muitos erros, mas acertou nas opções essenciais. Como quando levantou a sua voz solitária no Reino Unido contra o avanço das hordas nazis que na década de 30 iam devorando a Europa, país após país. Ou quando criticou sem reservas o seu antecessor, Neville Chamberlain, adepto do "apaziguamento" com Hitler. «Toda a história do mundo teria sido diferente se ele não tivesse assumido o poder em 1940», assinalou o jornalista John Simpson na BBC.

Disfrutava de autoridade natural mas nunca se levou excessivamente a sério: no auge do seu poder, todos os britânicos lhe chamavam Winston.

 

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Se existem figuras exemplares, Churchill foi uma delas. «Era um homem de coragem, que é a mais importante de todas as virtudes, e um homem de fortaleza, que é a companheira da coragem - recursos que são inatos, mas que também podem ser cultivados, e que Churchill cultivou toda a vida», escreveu Paul Johnson na excelente biografia do homem que se bateu quase isolado contra Hitler.

O historiador britânico era admirador confesso de Churchill, com quem se cruzou uma vez, quando tinha apenas 17 anos. Foi em 1946. O então adolescente perguntou-lhe: «Senhor Churchill, a que atribui o sucesso que teve na vida?» Resposta pronta do político que no ano anterior emergira como um dos vencedores da II Guerra Mundial: «À conservação da energia. Nunca se levante se pode estar sentado, nunca se sente se pode estar deitado.»

 

Liberal de sempre, Churchill nunca se deixou abater pelos desaires e costumava dizer, cheio de razão: «Não há nada mais esgotante do que o ódio.»

Na biografia que lhe dedicou (Churchill, Alêtheia, 2010) Johnson prestou justiça àquele que foi talvez o maior tribuno parlamentar do século XX, dotado de uma eloquência que nunca deixou de ser temperada com uma pitada de humor. Mesmo nos momentos mais dramáticos, como sucedeu a 4 de Junho de 1940, ao discursar na Câmara dos Comuns na qualidade de recém-empossado primeiro-ministro, já com Paris ocupada pelas tropas nazis. «Lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de aterragem, lutaremos nos campos e nas cidades, lutaremos nas montanhas. Lutaremos sem jamais nos rendermos», afirmou, numa alocução que se tornou célebre.

Logo acrescentando, num aparte em sotto voce: «E lutaremos com ancinhos e vassouras porque não teremos mais nada.»

Winston era assim.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 24.01.25

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José António Abreu: «Abandoned City é por vezes melancólico, por vezes ameaçador, por vezes quase dançável. Sendo talvez o trabalho mais depurado de Hauschka, deixa ainda assim no ar a questão de saber até onde será ele capaz de levar o conceito. A resposta, porém, também pode estar no álbum: Who Lived There, um tema suave e melódico, indicia que o alemão possui capacidades criativas suficientes para, se for necessário, dispensar a introdução de bolas e de pedaços de papel no piano.»

 

Eu: «O cartunista belga Philippe Geluck, talvez já farto de caricaturar Deus, apressa-se a jurar que jamais desenharia Maomé para não ferir a fé islâmica. Uma forma peculiar de homenagear os seus colegas do Charlie Hebdo, assassinados faz hoje 17 dias.»

À atenção da brigada de psicólogos...

Cristina Torrão, 23.01.25

... que se juntou na caixa de comentários deste meu postal:

Afinal, o meu problema é inveja? Nunca pensei, caras e caros, que fossem tão pobres em argumentos. É o normal, em Portugal: quando não se tem argumentos, puxa-se da inveja.

Não, eu não invejo as mulheres verdadeiramente elegantes. As mulheres que não escondem os olhos debaixo de um chapéu foleiro. Como a rainha de Espanha, hoje, em Cádiz, numa verdadeira lição de elegância à Sra. Melania Trump:

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E porque havia eu de invejar uma mulher que copiou o look de uma banda desenhada dos anos 1960 (Spy vs. Spy)?

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Isto está cada vez mais divertido

Também no Parlamento Europeu.

O deputado dinamarquês Anders Vistisen mandou f***er o Trump.

E a deputada espanhola Laura Ballarín Cereza mandou Musk, Zuckerberg e outros que tais irem dar uma volta: "You can always take your Nazi salutes and your masculine energy and go back home".

 

A Europa não mete o rabo entre as pernas. A Europa reage.

E eu junto-me à deputada espanhola: Viva Europa!

Algumas perguntas desalinhadas

Luís Naves, 23.01.25

Ao longo dos últimos trinta anos ocorreu um sistemático subfinanciamento das forças armadas. Portugal nem sequer cumpre o compromisso assumido pela NATO em 2014 de gastar 2% do PIB em defesa. Na Europa, os principais exércitos foram reduzidos ao osso. Visto de outra maneira, segundo números da própria NATO, os países da UE gastaram em defesa 370 mil milhões de dólares em 2024, tendo a aliança orçamentado 1474 mil milhões de dólares, quantia difícil de imaginar, de quase bilião e meio, seis vezes o PIB português. Os contribuintes americanos pagam o grosso da fatia.
A NATO gasta dez vezes mais do que a Rússia, país em guerra com um orçamento de defesa equivalente a 140 mil milhões de dólares. Os países da UE, isolados, têm uma despesa duas vezes e meia superior à da Rússia; se juntarmos o Reino Unido, dá uma fatura acima daquilo que gasta anualmente a China (292 mil milhões), que é considerada um colosso militar.
Estes são os factos, mas todos os dias lemos declarações de dirigentes europeus a preverem catástrofes: ou gastamos mais ou teremos de aprender russo. A retórica é incompreensível. Para onde foi o nosso dinheiro? Além disso, fala-se cada vez mais num hipotético exército europeu, mas todos os líderes sabem que isso é uma fantasia. Quem fazia o comando político de tal força? A Comissão Europeia não eleita, chefiada por Ursula von der Leyen, que para poupar dinheiro desmantelou as divisões mecanizadas alemãs? E o exército nacional, o que lhe acontece?
Em resumo, para atingir a próxima meta da NATO, no mínimo 3% do PIB, Portugal terá de gastar em defesa o dobro do dinheiro que gasta atualmente e as lições da guerra da Ucrânia implicam que a Europa vai comprar armas americanas para equilibrar a balança comercial com os EUA. Qual é o objetivo? A reindustrialização do ocidente? A criação de um bloco militar ofensivo? Serve para convencer a opinião pública?

O ladrão de malas

jpt, 23.01.25

Pode-se gostar ou não do CHEGA - eu não gosto, aquilo é uma imunda mistela, de boçais composta. Mas rebaixar um partido devido a um seu membro com esconsos problemas psicológicos é uma via tipicamente... CHEGA. E gozar o próprio paciente - numa era em que os "Acordados" nos vetam chamar cego, perneta ou zarolho a alguém - é tão boçal como os do ... CHEGA.
 
Como em tantas outras matérias, Hergé - homem bem à frente do seu tempo (apesar dos "Acordados" o abominarem) - ensinou-nos sobre isto

Frau Flick

Cristina Torrão, 23.01.25

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Regressou um dos mais terríveis funcionários da Gestapo, o assustador Herr Flick, que nos foi dado a conhecer através da série documental ‘Allo ‘Allo.

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© ikidyounot

Herr Flick reencarnou numa figura feminina, o que aliás não é grande surpresa, pois, quem seguiu o referido documentário, sabe que este grande símbolo da Polícia Política mais famosa do mundo vestia lingerie sob a indumentária da Gestapo.

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No corpo de uma modesta modelo eslovena, Herr, agora Frau, Flick chegou a first lady norte-americana.

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Esta presença sinistra no centro do poder dos Estados Unidos pode explicar os misteriosos gestos de um certo sul-africano. Ou não? Será que ele quis… Que disparate! Ele próprio nega, sente-se vítima. Mas, honestamente, alguém acredita nele?

Já o marido de Frau Flick parece não fazer ideia do que se passa. Caso contrário, como explicar ele ter-se envolvido numa destas confusões de homens que se transformam em mulheres e vice-versa? Na política do seu governo, existem apenas dois géneros, masculino e feminino. Ou este anúncio foi só para disfarçar?

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Fala por convicção, ou para “encher chouriços”? Verdade ou mentira? E, no caso desta última, deliberada ou inconsciente? Quando o marido de Frau Flick abre a boca, nunca se sabe o que vai sair daquele beicinho de menino mimado.

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Em breve, o país estará a ferro e fogo. Afinal, o menino mimado adora armar-se em durão. E nenhum de nós sabe o que ele usa por baixo da roupa, não é verdade?

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Quem brinca com o fogo pode queimar-se

Pedro Correia, 23.01.25

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Abertura do Canal do Panamá, em 15 de Agosto de 1914

Donald Trump não perdeu tempo: no próprio discurso da tomada de posse, na segunda-feira, deixou bem claro que pretende repor o Canal do Panamá sob a tutela de Washington. Alegando que é uma obra de engenharia dos EUA, que de facto assumiram entre 1904 e 1914 a edificação desta rota marítima artificial entre o Mar das Caraíbas e o Oceano Pacífico por onde hoje circula cerca de 6% do comércio mundial. Mas não é menos verdade que Washington abdicou voluntariamente do exercício da soberania no canal em 1977 com a assinatura dos tratados Carter-Torrijos, que concediam à República do Panamá a plena jurisdição da zona a partir de 1999, como veio a acontecer.

O novo-velho inquilino da Casa Branca parece mesmo disposto a mandar às malvas o direito internacional, tal como aconteceu com o ditador russo ao ocupar parcelas da Ucrânia. Será que isto legitima a partir de agora também a França e o Reino Unido a "reconquistarem" o Canal do Suez, inaugurado em 1869 e nacionalizado pelo Governo egípcio em 1956 apesar dos protestos de Paris e Londres?

Já que o mapa geopolítico anda a ser "redesenhado", perante o aplauso de uns quantos, convém não deixar o Suez de fora. Até por ali fluir cerca de 12% do comércio internacional - dobrando a percentagem do Canal do Panamá.

Este é o problema de quem semeia ventos: deve preparar-se para colher tempestades. O efeito de contágio é fatal: basta o rastilho de uma fogueira para que ela se multiplique por cem ou mil. E há sempre a hipótese de os tiros fazerem ricochete - mesmo que por enquanto não passem de tiros verbais.