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Delito de Opinião

Viagem ao Egipto (5).

Luís Menezes Leitão, 08.01.17

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No Museu do Cairo, é interessante encontrar as imagens de uma figura histórica altamente controversa, o faraó Amenhotep IV, da XVIII dinastia, que resolveu reformar a religião egípcia, combatendo o seu clero, e instituindo o culto do deus supremo Aton, representado pelo disco solar. A mudança foi tão profunda que o faraó mudaria o seu próprio nome, de Amenhotep (a satisfação de Amon) para Aquenaton (aquele que agrada a Aton) e deixaria a capital, Tebas, para fundar uma nova capital Aquetaton (o horizonte de Aton).

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O horizonte foi, no entanto, curto, uma vez que Aquenaton só reinaria 17 anos, suspeitando-se que tenha sido assassinado a mando dos sacerdotes. Logo após a sua morte, o seu filho e sucessor Tutankaton ("a imagem de Aton") reinstaurou a religião tradicional, abandonou a nova capital e alterou o seu nome para Tutankamon ("a imagem de Amon"). Por isso Aquenaton foi considerado herético, sendo visto na história do Egipto como um faraó inimigo, julgando-se que tenham sido destruídas grande parte das suas relíquias. No Museu encontra-se um invólucro arrombado, que se julga ter envolvido a sua múmia. 

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A Aquenaton é dado, no entanto, um papel histórico importante como fundador do monoteísmo, embora mais rigorosamente se deva falar em henoteísmo, uma vez que os antigos deuses não eram eliminados, mas apenas relegados para uma posição secundária. Olhando as estátuas, pensamos que Aquenaton deveria ser uma pessoa doente, uma vez que é representado como sendo extremamente magro, mas com um ventre extraordinariamente dilatado. Em qualquer caso, se não fosse a reversão decretada pelo seu sucessor, talvez a sua religião hoje pudesse figurar entre as grandes religiões do mundo. Não sendo esse o caso, resta-nos admirar a beleza do hino que ele criou para adorar o seu deus hoje desconhecido:

 

"Apareces belo no horizonte do céu, 

ó Aton vivo, criador da vida!

Quando te ergueste no horizonte oriental,

encheste toda a terra com a tua beleza.

És gracioso, grande e resplandencente

e estás muito acima de todas as terras.

Os teus raios iluminam as terras 

até ao limite de tudo o que criaste.

És como Ré, chegas ao limite de todos os países,

que unes para o teu filho que amas.

Embora estejas longe, os teus raios chegam à terra.

Embora todos te vejam, ninguém conhece o teu percurso (…).

 

Tudo se move desde que criaste a terra

e a ergueste para o teu filho, que saiu do teu corpo,

o rei que vive pela maet, senhor das Duas Terras,

Neferkheperué-Uaenré,

o filho de Ré que vive pela maet, senhor das coroas,

Akhenaton, grande no seu tempo de vida,

e a grande esposa real que ele ama,

senhora das Duas Terras,

Neferneferuaton Nefertiti, que viva para sempre".

(tradução de Luís Manuel de Araújo, Mitos e Lendas do Antigo Egipto, págs. 97 e 100).

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