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Delito de Opinião

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 16.03.24

Em epígrafe, os membros deste fórum prometem: "Não desistiremos enquanto a nossa capital não for aquilo que pode ser: uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo." Não são palavras vãs. Ao longo dos anos, esta militância por Lisboa sente-se. Sempre atentos ao espaço público da cidade, eles vigiam, denunciam, cuidam. Sem agenda política. Num país em que a sociedade civil quase não tem expressão, iniciativas como esta devem ser saudadas. Por isso escolho o Fórum Cidadania Lx para blogue da semana. 

Por um triz

Teresa Ribeiro, 08.03.24

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As mensagens ainda não arrefeceram no meu telemóvel. Trocámos várias nos últimos tempos. Queria entrevistá-lo para um trabalho que ando a fazer, ele fugia-me. Marcámos e desmarcámos várias vezes. Desculpava-se, muito cortês. É que andava assoberbado. E eu sorria, condescendente, porque achava bonito. Tanta vida, apesar dos 84 anos, pensava. Que se conserve assim por muito tempo.

Depois aconteceu aquela desgraça e já não foi possível. Mesmo assim houve avanços e recuos, mas no dia aprazado faltava-lhe o ânimo, desmarcava. Deixou-me suspensa das palavras que não me disse e eu sabia serem importantes. Porque ele não era pessoa para dizer banalidades. Tão boa tinha sido aquela conversa que um dia tivemos, no seu apartamento na Rua do Quelhas, que queria repetir. Ter só mais um bocadinho de António-Pedro Vasconcelos só para mim, mas escapou-me por um triz. E a sensação que me fica é a de desperdício. Tinha ainda tanto para fazer e para dizer. E de impotência. Vontade de pôr o pé na porta e de insistir, só mais uma vez: "Gostava mesmo muito de falar consigo."

Hoje é dia

Teresa Ribeiro, 08.03.24

Não me dêem flores, muito menos parabéns. Parabéns por ser mulher? Que absurdo! Tão absurdo como parabenizar os homens, por serem homens, nos restantes dias do ano. Pensando bem, nem isso seria tão absurdo. Pois ao menos deles podemos dizer que têm o mundo na mão. Donos disto tudo. Para o bem e para o mal. 

Já foi pior. Ao menos agora votamos. Ao menos agora - neste canto ocidental, porque noutros lugares ainda o tempo é de trevas - temos liberdade para escolher marido, escolher profissão, abrir um negócio, viajar. Mas ainda falta tanto para passar a ser absurdo assinalar o Dia da Mulher, que façam-me o favor, não digam que este dia é para comemorar. Que não é.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 09.12.23

Hoje faço batota, pois a minha escolha para blogue da semana não é a de um blogue. Mas Mensagem, o jornal online de Lisboa, bem merece ser excepção. Sou suspeita, visto ser alfacinha e quase de raça pura, ou não fosse a maioria dos meus ascendentes oriunda daqui. Por isso, mas sobretudo porque é concebido com muita competência e profissionalismo, gosto muito do Mensagem e recomendo.

O poder tem a saia curta

Teresa Ribeiro, 08.11.23

Há 191 políticos a braços com a justiça desde 2017, noticiou a CNN Portugal em maio passado. Sem surpresa, a peça revelou que é entre o PS e o PSD que há mais casos. Agora, na campanha eleitoral que se avizinha, vai andar tudo doido, a começar pelos que ainda estão virgens, e sonham ter a experiência. O resto, como diria a Teresa Guilherme na Casa dos Segredos, "não interessa nada".

Ambiente de trabalho XI

Teresa Ribeiro, 06.11.23

Todos sabem que é um eufemismo, pois nunca “colaborador” foi sinónimo de “trabalhador”, por isso mesmo é interessante tentar perceber porque houve uma adesão massiva a esta designação, na hora de chamar os assalariados pelos nomes.

Foi como se de um momento para o outro a palavra “trabalhador” passasse a ter desagradáveis conotações, só porque expõe, de forma clara e inequívoca, a natureza de um vínculo contratual. Banida da comunicação empresarial, a palavra “trabalhador” passou a ser usada quase exclusivamente por sindicatos e no discurso político, algo que está a contribuir para modificar a sua percepção. Nos tempos que correm já mais parece uma expressão politizada e usá-la pode tornar-se suspeito para alguns interlocutores. No limite, e dentro de certos contextos laborais, insistir em empregar o vocábulo proscrito será considerado uma provocação.

Vivemos tempos de grande fluidez no mundo laboral. A natureza das relações que se criam é efémera e sustenta-se em dinâmicas que se alimentam de sofisticadas estratégias de marketing (pessoal e corporativo), destinadas a defender da melhor forma os interesses das partes envolvidas. Se há coisa que o marketing sabe fazer é diluir conceitos, confundir perspectivas, arredondar palavras. Quem domina a técnica sabe que as palavras (é que) contam. Terá sido algures durante este processo que a palavra “trabalhador” caiu em desgraça. É tão objectiva, que parece que vai nua.

Ambiente de trabalho X

Teresa Ribeiro, 30.05.23

Sempre houve gente impreparada a arriscar no seu próprio negócio, mas temo que a tendência se esteja a acentuar, como escape ao atrofio financeiro a que garantidamente está sujeita a maioria dos trabalhadores por conta de outrem.

Com um investimento reduzido e uma equipa mínima, estes “empreendedores” têm de poupar muito para atingir os seus objectivos. Fazem-no à custa da fuga aos impostos – pagando parte dos vencimentos por baixo da mesa, empregando “recibos verdes” a tempo inteiro – e de baixos salários. O Portugal dos empresariozitos, cujo pensamento estratégico é conseguir o máximo de margem para garantir casa, carro, férias no estrangeiro e colégio para os filhos, corresponde à maior fatia do nosso tecido empresarial, por isso estabelece o paradigma. As médias, grandes e até algumas pequenas e talentosas empresas podiam influenciar o mercado, quebrar este círculo vicioso, mas, claro, consideram que não é esse o seu papel. “Como saímos disto?” – quem sabe com um bom patrocínio da Multiópticas (passe a pub).

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 07.05.23

Cresce, no país, o número de pessoas que não fazem a mínima ideia do que é viver em ditadura e que fantasiam sobre salvadores da pátria. Alimentam-se talvez da esperança de que, bem pastoreado, Portugal enfim progredirá. E acreditam que a indignação teatral de alguns tribunos, que hoje berram o que querem ouvir, se transformará, caso o poder lhes caia nas mãos, nas políticas reformistas que vão pôr Portugal nos eixos. Nada lhes prova que farão melhor do que os partidos instalados, se um dia se instalarem. O que sabem, mas pouco lhes importa, é que com esses na liderança a democracia corre perigo.

Como sem democracia não há escrutínio, se um dia resvalarmos para uma autocracia, a corrupção e o nepotismo continuarão a minar, só que silenciosamente, pois não há notícia de um país - um só - que  tenha melhorado tais indicadores sob este tipo de regime. E como sem democracia não há liberdade de expressão, a paz social descerá sobre nós, como um gás anestesiante. Será por esta paz podre que os desiludidos da democracia suspiram? 

 

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Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 12.03.23

De bronca em bronca vou-me afundando numa decepção que sinto colectiva. Não falta à minha volta gente a bater palminhas, à espera que o castelo de cartas, em que se tornou este governo PS, caia. Na esperança que se mudem as tintas lá por S. Bento, porque depois é que vai ser. E eu fico-me a meditar nessa capacidade que vamos tendo de vibrar com tais expectativas. Ainda dizem que somos um povo pessimista...

 

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É a cultura, estúpidos

Teresa Ribeiro, 13.01.23

O slogan da campanha de Clinton, devidamente adaptado, assenta que nem uma luva a esta cascata de casos e casinhos que acabam em demissões. Começou por ser desleixo, pois durante muito tempo a experiência era a de que estas incompatibilidadezinhas, estes desvios éticos, passavam pelos intervalos dos media, agora acredito que já não é. Só que o sistema está tão saturado, que se torna cada vez mais difícil encontrar alguém impoluto. É este o drama. O sistema ensopou. Torce-se e só deita amigos,  primos, boys ou girls. Porque isto é, e sempre foi, uma sociedade governada por castas. Não é o PS, ou o centrão é já uma maneira de ser. Leiam o Eça.

A diferença, agora, é que se sabe. Com uma facilidade que deixa tontos os que até agora conseguiam governar e governar-se a si e aos seus, em sossego.

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 01.01.23

Banho-me nas mensagens, ainda mais exuberantes que o habitual, que nesta quadra se trocam nas redes sobre o amor universal e gestos de solidariedade e etc e lembro-me daquela frase bíblica, que não sei reproduzir, mas que nos aconselha a dar com uma mão sem que a outra o saiba. Depois, perdoem-me o cinismo, não consigo impedir de me perguntar sobre quantos de nós seriam generosos, sensíveis e solidários se ninguém estivesse a ver...

 

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Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 20.11.22

Olho para os miúdos que se manifestam nas escolas, exigindo que os adultos lhes salvem o planeta, e penso em como é difícil ao ser humano mudar a sua natureza. Ser capaz de mobilizar-se pelo bem comum. Ser consequente quando está em causa a viabilidade do seu único habitat. Os donos do mundo também têm filhos e netos mas nem assim. A mesquinhez leva sempre a melhor.

 

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Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 23.10.22

Fala-se muito de misoginia, mas quase nada de misandria. Durante décadas na verdade não a sentia como algo fácil de identificar. Mas de imediato pensava que era natural que assim fosse, pois sempre vivemos numa sociedade machista e não o contrário. Ultimamente detecto manifestações de misandria aqui e ali, com uma exuberância que me deixa pasmada. E penso que vamos de mal a pior, porque agora a balança do ressentimento e do ódio está equilibrada e muitas mulheres pensam que isso é uma boa evolução.

 

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Ambiente de trabalho VIII

Teresa Ribeiro, 27.09.22

A glorificação do empreendedorismo abriu caminho à proletarização do trabalho intelectual. A partir do momento em que a iniciativa empresarial se transformou em valor supremo, os dependentes, aqueles que pela sua natureza ou pela natureza do seu trabalho exercem a sua profissão por conta de outrem, passaram à condição de subalternos, independentemente do seu nível de competências.

Esta simplificação, que dividiu o mundo do trabalho em dois, colocou do lado dos assalariados um conjunto indiferenciado de profissionais, de cientistas e arquitectos, a trolhas e empregadas de limpeza. Segundo esta nova ordem, passaram a equivaler-se, na medida em que uns e outros não detêm o único e verdadeiro poder, o do dinheiro.

A curva descendente que levou a que a maioria dos licenciados passasse a ganhar salários absolutamente desajustados do seu nível de preparação e conhecimentos começou com esta desvalorização social indiferenciada dos assalariados, algo que conduziu à desvalorização profissional e correspondente descida de salários.

O argumento de que os impostos são elevados para quem contrata, sempre usado pelos empregadores para justificar porque pagam tão mal, não explica a existência neste país de um fosso cada vez maior entre pobres e ricos. A falta de ética, sim.

Até porque não é só de salários baixos que se faz esta nova cultura empresarial. As ilegalidades são uma constante e praticam-se com crescente despudor. A avaliar pelos casos de abuso que me vão chegando aos ouvidos, através da geração que na minha família está a entrar no mercado de trabalho e da sua rede de amigos, e de amigos de amigos destes, percebo até que ponto a cultura do trabalho, no país, se tem degradado. Há já quem queira admitir jovens licenciados à experiência sem lhes revelar o salário que pretendem pagar e a partir de quando; há quem anuncie sem embaraço que “nas semanas em que há feriado, o feriado conta como folga”; o hábito de pagar um x por debaixo da mesa está instituído; o pagamento de horas extraordinárias está fora de questão; o aumento de salário, idem; o direito a “desligar” à noite e aos fins-de-semana não é sequer tema de conversa. Não admira que os jovens estejam a fugir deste país ao ritmo a que fugiam da guerra colonial nos anos 60.

É a economia? A inépcia de quem nos tem governado? Sim, mas também esta falta de civismo, tão tuga. O oportunismo sonso dos muitos que podiam contribuir para o aumento do salário médio em Portugal, mas que aproveitam os saldos para comprar “talento” ao preço da uva mijona. O talento de que precisam para manter os seus projectos de pé. Porque o espírito de iniciativa não é tudo. Mas isso, claro, quando reconhecem, é no tom paternalista que reservam ao elogio dos subalternos.

Blogue da semana

Teresa Ribeiro, 28.08.22

Agora que já nos informaram que o gás vai disparar como nunca, que a gasolina e o gasóleo vão continuar a subir e que a esta onda inflacionista não vão escapar sequer os artigos de primeira necessidade, é altura de apertar os cintos e partir para outro patamar de controlo do orçamento doméstico. Daí que tenha escolhido para blogue da semana o Poupadinhos e com Vales. Antes de abrir os cordões à bolsa para o regresso às aulas e outros rituais da rentrée, vale a pena passar por lá e fazer as contas.