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Delito de Opinião

Uma noite no Teatro

João André, 12.03.14

Há um par de meses fiz algo que há muito não fazia: fui ao teatro. Infelizmente há poucas oportunidades nas zonas onde tenho vivido para ir ao teatro e as poucas que têm existido têm-me, de uma forma ou de outra - frequentemente por culpa própria - escapado. Fui então ao teatro, dizia, ver O Misantropo, de Molière. Conhecia a história mas nunca tinha assistido a nada de Molière. A encenação pretendia-se moderna, com a acção a ter lugar nos nossos tempos e com adaptação das personagens aos estereótipos actuais. O grande senão da coisa (para mim): eu não falo a língua usada na peça.

 

Não deixa de ser curioso: depois de tanto tempo com possibilidade - mesmo que esporádica - de assistir a peças em línguas que domino suficientemente (alemão ou holandês), acabei a ver uma peça numa língua da qual vou entendendo pedaços mas sem a conseguir acompanhar (servo-croata). Foi no entanto um capricho: queria ver teatro, algo que há muito não fazia. Quis ver uma peça mais clássica, com uma acção simples, sem experimentalismos que me obrigassem a revolver a cabeça em busca do simbolismo utilizado.

 

O resultado foi extremamente agradável. A representação foi suficientemente boa - especialmente as personagens de Alceste, Célimène e Oronte - para seguir a acção sem entender o texto. A encenação, usando portas japonesas para separar as divisões e actualizando as personagens como políticos, homens de negócio e artistas e introduzindo habilmente telemóveis e internet para fazer avançar a acção. Contaram-me depois que a tradução foi também actualizada, introduzindo referências a factos modernos (com fait-divers recentes a serem usados) e colocando alguns termos e expressões mais modernos, os quais tiveram um impacto algo misto (alguns foram bem recebidos mas outros vistos como desadequados).

 

Foi a minha experiência do género e confesso que a recomendo. Convém naturalmente que se assista a uma peça cuja história seja conhecida, de forma a que não nos percamos, mas a falta de compreensão das palavras permite que nos detenhamos na linguagem corporal, nos tons de voz, na interacção entre as personagens e na encenação e cenografia. É algo de diferente e, em certos momentos, é uma experiência mais rica que o habitual. Não algo para repetir frequentemente, mas servirá para refrescar de tempos a tempos.

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