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Delito de Opinião

Uma escolha política, orgulhosamente

João André, 06.07.15

Discordo em muitos aspectos com o post do Pedro, embora não com tudo.

 

Não vejo a pergunta como absurda: é indiferente qual o acordo concreto que estivesse em cima da mesa ou que dela tivesse sido retirado. O referendo é um acto político em resposta a uma pergunta política. A questão grega é uma questão unicamente política. Nela, a economia e as finanças são detalhes. A pergunta era feita sobre uma proposta específica, mas versava de forma óbvia uma escolha política. Foi a esta pergunta que os gregos deram uma resposta: não aceitamos uma austeridade sem limites imposta externamente de forma cega.


A "propaganda" foi feita dos dois lados. Se o governo fez propaganda maciça pelo "não", a Europa e a oposição grega fizeram-na pelo "sim", inclusivamente ameaçando, aparentemente manipulando sondagens e tentando esconder relatórios. Os gregos não se deixaram enganar. Sabem bem que escolha fizeram. Se é boa ou má isso ver-se-à no futuro, mas estão conscientes do que fizeram.


Poderá ser uma vitória pírrica? Sem dúvida, mas como escrevi, os gregos estavam disso conscientes. Aquilo que valorizam é diferente daquilo que outros povos valorizarão: são mais orgulhosos e cientes da sua independência. Estarão dispostos a mais sacrifícios se forem decididos por si mesmos (ou pelos seus). Nisto são muito mais europeus de leste que ocidentais.


A escolha foi entre uma tortura lenta, longa, sem fim à vista, sem esperança e imposta por fora; e uma tortura eventualmente mais violenta, mais rápida, igualmente sem saber quando chega o fim mas com a esperança de chegar e, importante, escolhida. Quem não compreender isto - e que a escolha deixou há muito de ser económica ou financeira - não compreenderá nunca o resultado de ontem.

 

Correcção: fui alertado para um erro. Na minha versão anterior tinha escrito no último parágrafo que a «escolha deixou há muito de ser política», quando quis obviamente dizer «económica e financeira» como agora está escrito.

3 comentários

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    João André 06.07.2015

    Quando os portugueses escolhem o Passos Coelho são sábios e o povo não se deixa enganar. Quando os gregos elegem aqueles que os levaram onde estão (PASOK e Nova Democracia) estão a ser responsáveis. Quando votam num referendo contra aquilo que lhes estão a impôr já não têm a noção...

    Este é um argumento estafado usado ad nauseum. À direita e à esquerda. A democracia nunca é boa quando o povo escolhe contra os nossos gostos.
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    Tiro ao Alvo 06.07.2015

    João André, eu, felizmente, não sou grego, logo não votei no referendo, como parece que aconteceu com outros. Isso não me impede de dizer que os gregos não votaram esclarecidos, relativamente ao que estava em causa. Para tal, basta atentar no que foram dizendo os actuais governantes gregos.
    Por outro lado, comparar um referendo (sobre questões tão complicadas) com uma eleição para deputados, não é legítimo. É como comparar alhos com cebolas - ambos são bons condimentos e muito usados na cozinha, mas são bem distintos. Ninguém os confunde
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