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Delito de Opinião

Ter sorte não dá trabalho nenhum

Teresa Ribeiro, 13.05.14

Sorte é perder o avião que se despenhou, é encontrar na rua uma nota de 500, é ser amigo de quem nos pode arranjar emprego, é encontrar a nossa alma gémea e, claro, ganhar na lotaria. Ter sorte é, por definição, beneficiar de algo que é obra do acaso. Por isso dizer, como agora se usa, que "a sorte dá muito trabalho", é falacioso. A sorte não dá trabalho, cai-nos no colo. A sorte que se conquista não é sorte, é recompensa. Resulta da perseverança e da iniciativa e não de factores arbitrários.

Afirmar que a sorte dá trabalho é dizer aos azarados que além de azarados ainda têm culpa de ser azarados, mas também aplaudir quem teve a sorte de alcançar o que deseja sem esforço. É claro que esta confusão não é inocente e radica na ideologia da moda, a que promove o empreendedorismo, a "proactividade" e detesta gente piegas, dividindo sumariamente a sociedade em "falhados" e "bem sucedidos". Só que neste suposto esforço de combate à depressão nacional os ideólogos de serviço não devem confundir conceitos, sob pena de agravarem ainda mais  o estado mental de quem por um lado não vê os seus esforços recompensados nem foi bafejado pela sorte e por outro dos que tendo beneficiado de favores ainda acham que isso não é sorte, mas mérito seu.

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