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Delito de Opinião

Não tem emenda

Legislativas 2024 (8)

Pedro Correia, 16.02.24

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Rui Rio estava sabiamente remetido ao silêncio há largos meses. Lembrou-se agora de falar: não para criticar o PS mas para propor um "pacto" entre o PSD e o PS. Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas de Março, quando o PSD estabeleceu como prioridade total desalojar o PS do poder que ocupa há mais de oito anos. Parece uma rábula do Ricardo Araújo Pereira.

Continua como antes: nada beneficiou com o retiro sabático. Não tem emenda.

Coitada da Heloísa

Legislativas 2024 (4)

Pedro Correia, 08.02.24

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Luís Montenegro tentou fazer-se representar no debate televisivo com a CDU por Nuno Melo, presidente do CDS, o segundo partido da coligação AD. Paulo Raimundo recusou de imediato a sugestão do social-democrata, acusando-o de fugir à discussão. O secretário-geral do PCP é inflexível: não tolera debater com um "número dois".

Perdeu excelente oportunidade de fazer avançar alguém do PEV, o partido-fantasma que integra a CDU com os comunistas. Coitada da Heloísa Apolónia: ainda não é desta que deixa de ser invisível.

O programa eleitoral pode esperar

Legislativas 2024 (3)

Pedro Correia, 07.02.24

 

Pelo menos três partidos ou coligações começaram a maratona de debates televisivos da pré-campanha para as legislativas de 10 de Março sem terem apresentado os respectivos programas eleitorais: PS, Aliança Democrática e Chega.

Não por impreparação, certamente. Julgo que também não por incompetência. Por desleixo, sim. Mas sobretudo por inequívoca falta de respeito pelos eleitores. Se a nossa cultura democrática fosse mais sólida e exigente do que é, isto bastaria para serem penalizados nas urnas.

"Banho de ética" dos amigos de Rui Rio (epílogo com dois novos capítulos)

Pedro Correia, 02.02.24

A dupla fuga de Montenegro

Legislativas 2024 (1)

Pedro Correia, 31.01.24

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Luís Montenegro (natural do Porto mas residente em Espinho onde passou grande parte da infância e juventude) sempre foi candidato a deputado por Aveiro. Agora, que é presidente do PSD, decidiu candidatar-se por Lisboa. Gesto incompreensível, vindo de um homem do Norte: então é defensor da descentralização e fez até justas proclamações contra a macrocefalia alfacinha, mas corre a empoleirar-se no distrito da capital? Incompreensível por outro motivo: assim evita o embate nas urnas com Pedro Nuno Santos (natural de São João da Madeira), que também sempre foi candidato por Aveiro. Foi e volta a ser: mantém-se lá.

Percebo mal esta dupla fuga de Montenegro. Ao distrito adoptivo e ao confronto directo com o secretário-geral socialista. Parece ter-se esquecido disto: uma das qualidades mais valorizadas num político, seja de que quadrante for, é a coragem.

Este atributo avalia-se por actos, não por palavras. Ao esquivar-se ao duelo em Aveiro com o antigo ministro da ferrovia e dos aeroportos, o líder laranja parece fazer campanha contra si próprio.

Se ainda ninguém lhe disse isto, fica dito agora.

Marxista no Chega, tendência Groucho

Pedro Correia, 25.01.24

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«Se os meus princípios não vos agradam, arranjo outros.» (Groucho Marx)

 

«Com uma proposta de governo liderada pelo futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, a vitória do PSD é a mudança necessária e imprescindível para defender um SNS verdadeiramente ao serviço das pessoas e para seguirmos no rumo de mais progresso e mais justiça para Portugal. Portanto Portugal está à espera e precisa de Luís Montenegro.»

Deputado Rui Cristina, em intervenção no 41.º Congresso Nacional do PSD (25 de Novembro 2023)

 

«Fica patente existir na actual liderança do PSD uma maior preocupação com ajustes de contas internos, imposição de egos que na essência não assumem compromissos sérios com o partido. (...) Após uma reflexão profunda e amadurecida pela dor e sofrimento das consequências da mesma, não encontro alternativa que não seja uma rotura para com as decisões tomadas pela direção do partido.»

Deputado Rui Cristina, em carta dirigida ao secretário-geral do PSD (22 de Janeiro de 2024)

 

«Rui Cristina, actual deputado social-democrata, sai do PSD e está prestes ser anunciado como cabeça de lista do Chega pelo distrito de Évora, revelou fonte do partido à SIC. O anúncio está previsto para os próximos dias.»

Notícia da SIC (22 de Janeiro de 2024)

"Banho de ética" dos amigos de Rui Rio (com dois novos capítulos)

Pedro Correia, 21.01.24

"Banho de ética" dos amigos de Rio

Pedro Correia, 11.01.24

A dificuldade não está na rejeição

Sérgio de Almeida Correia, 01.12.23

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Algumas pessoas ficaram admiradas com o resultado da sondagem da Universidade Católica/Público/RTP, dada a conhecer no passado dia 28 de Novembro. Ainda todos estão lembrados dos resultados de outras sondagens aquando das últimas legislativas e do que veio a acontecer. O país não quis saber de empates técnicos nem de vitórias tangenciais e resolveu entregar uma maioria absoluta a António Costa. Por essa razão convém moderar as análises e o ímpeto das conclusões.

Ainda assim, atrevo-me a dizer publicamente o que penso, arriscando a crucificação num pelourinho por delito de opinião.

E neste momento em que se discute a liderança do PS e todos os outros partidos se afadigam a prepararem-se para as eleições – alguns na mira de conseguirem adiar por mais algum tempo o seu próprio funeral – parece-me evidente que a golpada marcelista, amplamente favorecida pelo descalabro da governação (seria difícil encontrar outro termo para o desastre que foi, salvo raríssimas excepções, a performance do XXIII Governo Constitucional), poderá vir a revelar-se como uma bênção para a reforma do sistema político e eleitoral. De uma assentada, os portugueses podem abrir caminho para se livrarem de quase todos os pantomineiros que fazem hoje a maioria da classe política que nos trouxe até ao imbróglio em que estamos.

Dos diversos cenários apresentados pela sondagem acima referida, algumas conclusões são inequívocas: i) Os portugueses não gostam de radicais; ii) Qualquer que seja o cenário dispensam Luís Montenegro; iii) Pedro Nuno Santos (PNS) não lhes merece o aval da confiança.

Quanto à primeira não constitui novidade. O país reconhece-se ao centro na extensa faixa que vai da democracia-cristã/liberalismo/social-democracia até ao socialismo democrático mais ou menos esquerdista.

Depois, em relação ao líder do maior partido da oposição, o PSD, verifica-se que apesar de tudo o que aconteceu com o Governo e com o PS, Luís Montenegro não consegue melhor do que um resultado sofrível qualquer que seja o cenário.

Não é de estranhar. Chegou a líder por ser tão anódino quanto foi deputado ao longo dos anos, sem um lampejo que o resgatasse à mediocridade carreirista da JSD ou da seita aventaleira que o ajudou a crescer. E agora que se vai apresentar a eleições traz consigo, como se viu no congresso do passado fim-de-semana, um camião com um atrelado de sarcófagos de onde vão saindo umas múmias que não deixaram saudades. Que seja castigado e as sondagens não lhe sejam particularmente favoráveis depois de tantos anos de PS no Governo não é uma fatalidade.

Mas se o teste havia de chegar com as eleições europeias ou com as autárquicas, o Presidente Marcelo fez o favor às hostes laranja de anteciparem o futuro e se livrarem de Montenegro e da sua tralha bem mais cedo, pois que quanto mais depressa o PSD iniciar a sua renovação e posicionar uma nova geração de líderes, que seja recrutada noutro lado que não seja entre as levas de imperiais do Ribadouro, menos difícil será construir uma alternativa na área política do seu eleitorado, colocando um ponto final na balbúrdia venturista à sua direita.

Em terceiro lugar, há o problema PNS para resolver. Este é um problema interno do PS e que só terá solução, acreditemos que sim, se nos próximos dias 15 e 16 de Dezembro os militantes socialistas o resolverem.

Os resultados da sondagem explicam por que razão é que PNS não quer debates com os outros candidatos à liderança do partido. Não se trata, evidentemente, de evitar dar trunfos à direita, mas sim de evitar o debate político e fugir do confronto com as suas próprias contradições, com o cataventismo socratista e a vacuidade petulante e oportunista do discurso.

Em 2017 (não vale a pena recuar mais), PNS, que já era crescidinho, afirmou que "O PS nunca mais irá precisar da direita para governar". Em 2018 sublinhou que "o PS não está refém da direita para governar". Depois, quando anunciou a sua candidatura, começou por atacar o candidato José Luís Carneiro, acusando-o de não ser suficientemente combativo contra a direita e vincando que com ele "o PS não vai ser muleta de ninguém", esclarecendo que o seu foco e o da sua candidatura "é derrotar a direita e não mais do que isso", antes de entrar na contabilidade cacical de saber quem apoia quem.  Como se esta tivesse interesse para alguém com excepção dos bípedes que ficam com insónias ante a perspectiva de não saberem quem apoiar para manterem os tachos dentro do partido e fora dele.

Bastou passarem dois dias, depois de acusar JLC de desvio direitista, e logo começou, de mansinho, a chegar-se para o centro, não fosse o diabo tecê-las. Daí que tivesse saído a terreiro para dizer que "o diálogo à direita e ao centro é fundamental" e que "há matérias onde o entendimento com o PSD é desejável e importante" (quais?), ao mesmo tempo que dizia que "a memória da geringonça é boa". Ora bem. E ainda disse que até a uma coligação pré-eleitoral não fecha portas. Colocou a primeira cereja no topo do bolo da coerência, qual franciscano, com que pretende desfilar nos próximos dias. 

Em rigor, para PNS o que é preciso é estar em todas, com todos "e com todas" desde que isso lhe garanta o poder. E se possível também com "todes", que foi para isso que o talharam, no "berço de oiro", na humilde loja do sapateiro, e em especial no albergue onde lhe construíram as ambições conforme as ocasiões.

Percebe-se, ademais, qual o motivo para que directas abertas, como mostram as sondagens, também sejam dispensadas por PNS, pois que é muito melhor deixar a escolha do líder do PS nas mãos dos caciques que controlam as concelhias e o aparelho do que confiar na decisão dos simpatizantes que não têm tempo para a militância e dos quais dependem os resultados eleitorais do partido.

Como lá mais acima dizia, se os militantes socialistas quiserem dar um contributo ao país poderão começar por se livrarem de PNS, mandando-o tomar conta das empresas familiares, de maneira a que não mais tenha necessidade de esconder os carros quando for para a campanha eleitoral. Esta é uma oportunidade única e irrepetível. 

Seria uma pena se os portugueses, que de uma assentada se podem livrar do neo-socratismo e do basismo cavaquista e passista, encetando um caminho de renovação das suas elites políticas, não aproveitassem os ventos fortes que sopram de todos os quadrantes, e a chuvada que se prepara nos próximos dias, para lavarem o terreiro e removerem de lá toda a barracada de feira que se foi instalando, dispensando os vendedores de tapetes, ligaduras e sarcófagos, os milhares de arrumadores e de traficantes de influências, os penduras de ocasião, a malta das sementes dos vários tipos de relva, enfim, livrando-se de toda a tralha de gigantones, coristas e emplastros acumulada nos últimos carnavais. 

As queixas dos portugueses

Paulo Sousa, 19.06.23

Na sexta-feira passada assisti a uma Assembleia Municipal que, de forma diferente do habitual, decorreu fora da sede de concelho. Há uns anos instituiu-se uma rotação esporádica destas sessões entre as diferentes freguesias do Município de Porto de Mós. Julgo que estas Assembleias Municipais Descentralizadas ocorram uma vez por ano e esta foi a primeira vez que visitaram a Freguesia do Juncal.

O público não aderiu em massa, longe disso. Pelo que já verifiquei noutros tempos, em que durante alguns anos me deslocava a Porto de Mós e não perdia uma, na generalidade o público não sente a vida autárquica como sendo coisa sua. Excepção feita nas campanhas eleitorais em que, ágil, se desloca às sessões de esclarecimento, vulgo porco no espeto com minis e vinho a gasto.

Antes de se deslocar a uma AM, para usar da palavra no designado “período antes da ordem do dia”, o público prefere cumprir a sequência natural das coisas e começa por apresentar as suas reclamações na respectiva Junta de Freguesia. Só depois de repetidos pedidos não terem resultado é que então, talvez, se desloque ao plenário municipal. Como resultado disso, ao se ouvirem os Presidentes de Junta, escutam-se as queixas mais representativas dos seus fregueses.

Pelo que me recordava doutros tempos, o padrão dos assuntos mais repetidos prende-se com buracos por tapar, equidistância na distribuição dos contentores do lixo e o estado de estradas e caminhos.

Desta vez, apercebi-me que o padrão se alterou. Em praticamente todas as intervenções dos Presidentes de Junta, repetiu-se a queixa pela falta de médicos e pelo deficiente estado do SNS.

O Presidente, Jorge Vala, explicou que existe no concelho uma Unidade de Saúde Familiar (USF), constituída por, julgo, três antigos Centros de Saúde, e também por diversas Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP). A maioria das queixas prende-se com este último modelo.

A regular abertura de concursos para colmatar a falta de médicos há muito que passou a ser apenas uma esfarrapada desculpa para a evidência de que este modelo não é capaz de atrair profissionais de saúde. Pelo contrário, há muito menos queixas do funcionamento das USF, onde o sistema de incentivo, assente em critérios objectivos de desempenho, leva a que quem ali trabalhe possa beneficiar de um significativo aumento salarial.

Fiz umas pesquisas e tropecei nesta avaliação custos-consequências comparativa das USF e UCSP. Respeita ao ano de 2015 e não sei se haverá alguma mais recente. Na generalidade comprova as vantagens do modelo USF relativamente ao das UCSP. Sobressai uma enorme diferença entre o custo por inscrito e o custo por utilizador. As UCSP têm mais utentes inscritos e assim, estatisticamente, podem diluir os seus custos por uma base mais alargada, o que explica o seu menor custo por inscrito.

Mas se observarmos ao número de pessoas que realmente as elas recorre a situação inverte-se, pois as USF, embora tendo menos utentes inscritos (também por serem poucas), compensam isso com o facto de serem úteis muito mais vezes. Assim conseguem um bem menor custo por utilizador.

Ao ver isto, recordei-me do que assisti há pouco tempo, uns dias antes de uma viagem sobre a qual aqui postei. Como ali conto, o meu companheiro caiu de bicicleta e ficou com um significativo golpe no nariz. Depois de uma lavagem com a água que transportávamos para hidratação, pedalámos ainda uns quinze quilómetros até chegar a uma destas UCSP. E é aqui que as duas histórias se juntam.

O senso comum de um leigo como eu dizia que a coisa se resolvia com uns pontos. Após demorado debate, os técnicos ali presentes acabaram por concluir que ele teria de ir para o hospital, pois podíamos estar perante uma situação grave. Não valia a pena argumentar que se fosse esse o caso ele não teria ali chegado a pedalar. Além disso, não sou entendido na matéria e, pior ainda, eu estava de calções, o que anula qualquer razão que se possa ter num debate.

Lá chamaram uma ambulância dos Bombeiros Voluntários e lá foi o João para o Hospital de Leiria. Valerá a pena lembrar que, entre a queda e a chegada ao Hospital, já tinham passado umas três horas. O médico que o assistiu nas urgências não se coibiu de reclamar pela falta de noção que fizera mobilizar uma ambulância e dois bombeiros, sobrecarregar as urgências, para simplesmente aplicar três pontos.

Atrevo-me a dizer que, a boa-vontade que terá faltado na avaliação que desencadeou toda aquela operação não se teria verificado se, em vez de se alimentar um aparentemente inócuo jogo do empurra (é verdade que se aproximava a regimental hora do “despegar”), houvesse ali aquele pequeno benefício material chamado incentivo pelo desempenho.

Ora, se o serviço prestado pelas USF é comprovadamente melhor, porque é que se insiste em manter as UCSP? A resposta mais provável é que isso obrigaria a fazer reformas e o governo maioritário de António Costa é incapaz de tal travessura.

Regressando à AM, perante tamanhas falhas de serviço, os Presidentes de Câmara não têm como acorrer à sua população nos pedidos desta natureza. Isso é especialmente difícil para um autarca do PS, porque se sentirá com menor margem para apontar para o verdadeiro culpado de não reformar, de não resolver, de não decidir.

Ora, tendo o meu Presidente da Câmara sido eleito por um partido da oposição, acaba por ter mais margem de manobra para se escudar em explicações à população. Apesar disso, imagino que por achar que não foi eleito para apontar culpados contratou no ano passado com uma seguradora o Plano de Saúde para Todos os munícipes que, não obrigando ninguém a nenhum pagamento, lhes permite aceder a um alargado leque de consultas de diversas especialidades no privado, com descontos significativos. Esta medida tem conseguido um elevado nível de satisfação.

Recordo um dos Presidentes de Junta que lembrou o que as estatísticas já comprovam: o facto de se estar a morrer mais cedo, por falta de assistência médica. Há gente a morrer antes da idade que a ciência dos nossos dias permitiria.

A redução da esperança média de vida já levou até a uma correcção da idade da reforma. A explicação oficiosa é que isso resulta da pandemia, mas os números mostram-nos que o aumento da mortalidade não-covid é uma realidade.

Constatar isto, que não deixa de ser uma forma de miséria, é triste.

António Costa insiste em desmentir a realidade, fazendo afirmações que não são mais do que tentativas de criar uma narrativa. Insiste e, sem temer o ridículo, volta a insistir. Quem é que ainda se lembra daquela segunda-feira, em que de entre o cerrado nevoeiro iria surgir não o Dom Sebastião, mas a solução de parte dos problemas do SNS? E os palermas aplaudem, em especial os beneficiários da ADSE (o SNS versão Premium). A ideologia que lhes sustenta a visão sectária do país, consome-lhes o humanismo, que se gabam de ter em abundância. São a manifestação de uma outra forma de miséria.

A miséria final vai para a oposição do PSD de Montenegro que, em vez de dar voz aos portugueses, em vez de tomar a iniciativa e de marcar conferências de imprensa ao lado das filas de espera, onde milhares de portugueses passam madrugadas para conseguirem uma consulta, continua apostada na velha regra de que para conseguir chegar ao poder lhe basta fingir-se de morto. Perante o que vejo, mais do que fingir-se de morto, o PSD de Montenegro, precisa antes de conseguir fingir que está vivo.

Naufrágio à vista

Sérgio de Almeida Correia, 31.05.23

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(Créditos: Público/Paulo Pimenta)

Haverá um provérbio popular que reza qualquer coisa como "com o mal dos outros posso eu bem", mas este não se aplica às declarações do presidente do Partido Social-Democrata (PSD). Digo isto sem qualquer ponta de ironia, muito menos satisfação.

Com o número de anos que o Partido Socialista (PS) já leva de governo, seria natural, penso eu, que o maior partido da oposição, vivendo em estabilidade interna, estivesse em condições de assumir o poder. Só este cenário seria compatível com a virulência das críticas que se têm ouvido na Assembleia da República, pelos ouvidos colados às portas fechadas de Belém, e nas regurgitações do pastorinho de Boliqueime quando há dias, com a maior desfaçatez e sem ponta de memória, numa daquelas visões em que de tempos a tempos é pródigo, afirmou que o "Governo socialista é especialista: em mentira e na propaganda e truques" e irá deixar "uma herança extremamente pesada" ao seu sucessor. O dito chegou ao ponto de referir que perante o actual estado do país este "precisa de saber que há uma alternativa sólida e serena", personificada, segundo ele, em Luís Montenegro e num futuro governo social-democrata. 

E face a esta revelações, em que ainda ninguém tinha reparado, depois dos agradecimentos e das palmadas nas costas, que fez Montenegro?

A resposta, sob a forma de agradecimento público ao idílico cenário de um governo laranja, antecipado por Cavaco Silva, chegou-me pela entrevista que aquele deu na segunda-feira passada à RTP e de que esta manhã alguns jornais fizeram eco.

E essa não podia ser mais sincera e cativante quando o Montenegro general e comandante-chefe das tropas da Oposição, do alto do seu garbo de proprietário espinhense, esclareceu os portugueses de que a sua expectativa, para Junho de 2024 – ainda com mais doze meses de governança socialista pela frente, com mais um ano de "descalabro", com mais moções, comissões, casos, casinhos, inquéritos, prescrições à vista em processo de vigaristas, e a continuação do corrupio de galambinhas e galambões –, é perder as eleições europeias por apenas dois ou três pontos. E  acrescentou para serenar as dúvidas que um resultado destes, ou seja, mais uma derrota do PSD que ele dirige, não será um mau resultado. Pois não. Desde que se mantenha na liderança, para ele, Montenegro, todos os resultados são bons. O país que se dane. 

Por aqui se vê a relevância e a confiança que Luís Montenegro a si próprio se atribui para um dia chegar a primeiro-ministro. Felizmente. 

Eu sei que o PS anda há vários anos pelas ruas da amargura, em matéria de quadros políticos e dirigentes capazes, entregue como tem estado aos caciques e seguranças das concelhias. E não, não me estou a referir a um primeiro-ministro esgotado, teimoso e sem paciência, que a dormir sabe mais que os outros todos "à coca", ou a gente discreta como Jorge Seguro Sanches, que tendo estado muito bem, como se viu depois, em retirar-se daquele circo da Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP,  que só tem servido para nos envergonhar, se perde no meio daquela realeza proletária, de raízes pequeno-burguesas, cujas cabeças cravejadas de diamantes adornam a bancada parlamentar do partido à custa da maioria absoluta "do Costa" e da total ausência de líderes políticos à direita, à esquerda, ao centro, em cima ou em baixo. 

É que nem o desgraçado nível de preparação política de alguns deputados, basta olhar para a CPI à TAP e ver que há quem nem papéis tenha em cima da mesa, não faça perguntas e passe as reuniões a brincar com o telemóvel, pode justificar a falta de ambição, de esperança e de sentido de Estado do líder do PSD.

De carisma, ensinou-o Weber, num caso destes nem a brincar se pode falar.

Como se depreende das palavras de Montenegro à RTP, um verdadeiro funcionário político do pior que a democracia gerou, Portugal passa bem sem este PSD estupidamente medíocre que floresceu à sombra dos negócios autárquicos, do passismo e das intrigas de comadres e seminaristas.

Previsivelmente, em cada dia que passa Portugal fica pior com a falta de uma oposição capaz, bem preparada, sem telhados de vidro, transparente e acima de tudo inteligente (não estou ainda a delirar), que não se deixe arrastar pela sucessivas vagas populistas, se aguente à bronca, saiba lidar com Venturas e Mortáguas, e esteja disponível para fazer as perguntas que se impõem nos debates parlamentares – em vez de irem para lá ler umas cábulas repetitivas e mal amanhadas –, apresentando propostas sérias para resolução dos problemas que a todos afligem. Enfim, que tenha capacidade para confrontar o Governo, este ou outro qualquer, com as suas decisões políticas e alguma estupidez à mistura, seja quanto ao lítio e as decisões de um tal de Matos Fernandes ou os "Vistos Gold", e mostre capacidade para fazer política com decência, argumentação capaz e elevação, largando a politiquice rasteira a que se habituaram nos tempos do "ismos" laranja, e que querem que todos os portugueses agora engulam sob o rótulo de "alternativa". Alternativa uma porra.

Seria bom que Portugal conseguisse abandonar a rota da mexicanização, obrigasse o PS a reformar-se, e os militantes e simpatizantes do PSD levassem a cabo uma "operação Montenegro", para se livrarem de mais este emplastro saído do "viveiro" da JSD, pois que a ser verdade o relatado pelo semanário Tal e Qual, quanto à possível aquisição do Grupo Cofina, proprietário do Correio da Manhã e da CMTV, por um grupo próximo do líder do PSD, numa operação dirigida por mais um desses crânios do passismo, tal só servirá para que os cartéis partidários de segunda e terceira linha tomem definitivamente conta do país e os portugueses fiquem mais preocupados com a cada vez mais provável vaga de fundo para levar a Cristina à Presidência da República. Depois só falta o mestre André tomar conta do resto. Até à implosão final.

Daqui a três sondagens

Pedro Correia, 09.05.23

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Luís Montenegro que se cuide: ou descola nas pesquisas de opinião que ainda o posicionam com "empate técnico" face a António Costa ou arrisca-se a ser empurrado borda fora no partido que lidera antes do próximo ciclo eleitoral.

Não é inequívoco que o PSD tenha ultrapassado a fase correspondente à de António José Seguro no PS. Aguardemos pelas três próximas sondagens. Já falta pouco.

Duzentas e dezassete sondagens depois

Pedro Correia, 26.01.23

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Desde 2017, o PS não era destronado nas intenções de voto dos portugueses expressas em sucessivos barómetros e sondagens. Que há ventos de mudança no ar, fica evidente nestes números ontem divulgados na pesquisa da Pitagórica para a CNN Portugal e a TVI: o partido laranja lidera agora, com 30,6%, enquanto os socialistas baixam para 26,9% - uma queda abrupta de nove pontos percentuais desde o inquérito anterior. Sinal inequívoco de que a maioria absoluta obtida há um ano nas urnas por António Costa se esfumou sem remissão por efeito das incontáveis trapalhadas deste governo. Duzentas e dezassete sondagens depois.

Mais significativo ainda: segundo o mesmo estudo de opinião, 53% dos portugueses avaliam negativamente o desempenho do executivo Costa, que praticamente não precisa de oposição para naufragar em toda a linha. A cada passo vai cavando a própria sepultura. Tendo um prazo de validade já indicado por Marcelo Rebelo de Sousa: ou o partido ainda absoluto ganha juízo ou haverá eleições legislativas antecipadas em 2024.

Sinal inequívoco de decadência. Quando até o Presidente da República, que tem andado com o governo ao colo, já se confessa farto de assistir impávido a tão monumentais tiros no pé

Curtas

Paulo Sousa, 19.01.23

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Os últimos dias tem sido férteis na revelação de casos e casinhos que mais me parecem um destrunfar, como se de poupanças se tratassem, de coisas guardadas na gaveta para usar um dia contra alguém a quem se pretenda atacar.

Soubemos que Luís Montenegro, e um seu muito próximo colaborador, estarão envolvido em benefícios poucos claros e que, mesmo vindo a revelar-se no futuro legalmente estéreis, merecem uma avaliação política.

Numa democracia evoluída, estes dois casos seriam suficientes para o afastamento destas duas personagens.

E é aí que que me leva o raciocínio que motivou este postal.

Estes casos mostram o quão tóxico se tornou o PS no nosso regime. É tanto o nepotismo, o abuso, o favorecimento, a endogamia e a prevaricação do partido que governou sozinho o país em 22 dos últimos 28 anos, que estes dois casos acabam por parecer coisas banais e sem importância.

E ninguém o leva a sério?

Sérgio de Almeida Correia, 10.01.23

2.-brasil-1536x1022.jpg(créditos: Ponto Final)

Portugal deve enviar as suas forças especiais para estabilizar e reassumir a soberania do Brasil”. “Tiveram 200 anos de recreio e é hora de acabar com os fugitivos de Portugal para o Brasil e vice-versa para se fugir à extradição”, lê-se na publicação, que é acompanhada de uma imagem das Armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que vigorou entre 1815 e 1823. (...) “[E]m respeito pela democracia, Lula da Silva deve ser nomeado Presidente do Governo local e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nomeia o Governador-Geral do Brasil e assim a Polícia Judiciária Portuguesa deverá estar pronta e atenta para caçar os fora-da-lei e demais foragidos em polícia única nas duas margens do Oceano”.

 

Amigo de José Cesário e da conselheira Rita Santos, mandatário de Pedro Santana Lopes, eleito para a assembleia municipal de Proença-a-Nova, membro da Comissão das Relações Internacionais do PSDcontinua de vento em popa.

Não sei por que raio, em Portugal, tirando o PSD, ninguém o leva a sério. Mas talvez Montenegro o queira incluir na próxima lista de deputados, quem sabe se pelo círculo do "fim do mundo". Se, entretanto, é claro, não lhe derem outro destino, não o nomearem para a TAP ou o Presidente da República não o chamar para seu conselheiro.

Este país tem cada vez mais falta de humoristas capazes na política, mas olhem que este é dos bons. Em S. Bento, sempre nos faria rir. 

O complexo Silas

jpt, 04.01.23

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Lembrar-se-ão os sportinguistas - e os mais atentos às coisas do futebol: em inícios da época de 2019/2020 o Sporting despediu o treinador holandês Keizer e pouco depois contratou Jorge Silas, recebido como verdadeira solução pois crido como "the next big thing". E quem disto se recorda saberá, com toda a certeza, o que desde então foi acontecendo no clube.

Em Janeiro de 2022, após a ruptura entre o PS e os dois partidos comunistas que sustentavam os seus governos, houve eleições legislativas. Apesar das crises, económicas, sanitárias e políticas, e das previsões tão anunciadas pelas sondagens eleitorais, os socialistas ascenderam à maioria absoluta enquanto o PSD tinha um resultado descoroçoante para os seus apoiantes e surpreendente para a generalidade. A isso se seguiram dois factos inusitados: a conclusão da contagem de votos e concomitante empossamento da nova Assembleia da República, e o do governo dela emanado, foi atrasada em meses, algo devido à imprudente inépcia do Presidente da República que havia dissolvido o anterior parlamento sem acautelar a legalidade dos procedimentos eleitorais; e o peculiar presidente do PSD resistiu à tradicional demissão das lideranças políticas aquando de grandes derrotas eleitorais, marcando eleições internas para apenas quatro meses depois, nas vésperas do remanso do veraneio nacional. Ou seja, entre a dissolução parlamentar de 2021, a instauração do novo governo no início de Abril e a recomposição do maior partido da oposição passou um período da gestação humana. Entretanto iam chegando ecos e efeitos do que "lá fora" ia acontecendo: o estertor pandémico, a crise energética, a guerra russo-ucraniana, etc.

Correu o Verão soalheiro, as gentes foram à praia já sem obrigatoriedade de máscaras e chinelos, e nisso com os ansiados turistas estrangeiros. Depois chegou o Outono, sem covid mas com inflação. Entrou-se no Inverno, e até já mudámos de ano. As atrapalhações do governo são evidentes, tantas que fazem esquecer inenarráveis factos passados como a incapacidade intelectual (assumida em tribunal) do ex-ministro Azeredo Lopes ou os sucessivos desastres do seu antigo colega Eduardo Cabrita... Pois trata-se agora da constatação de uma evidente falta de rumo (de "projecto" substantivo se se quiser dizer isso) governativo. E de graves casos de desmandos, como o do braço direito do Primeiro-Ministro Costa, obrigado a demitir-se, das aquaplanings do seu delfim "Pedro Nuno", e da óbvia fragilização dos ministros das Finanças e dos Negócios Estrangeiros. E ainda nem sequer chegámos ao Dia de Reis...

Ontem na televisão (RTP3?) alguém do PSD - escapou-se-me o nome - repetia que neste momento os portugueses estão é preocupados com o custo de vida - com "o que levam para casa para pôr na mesa" - nisso enfatizando a despreocupação ou mesmo fastio desses mesmos portugueses com a oposição política e parlamentar. Quanto ao resto, e para além de uns dichotes - fogachos, como se diz na bancada -, nada dali se ouve. Nada se vê sobre modelos tácticos, planos "B", reforços no plantel, argúcia nas substituições, eficiência de "olheiros" (agora ditos "scouting"), associações com empresários, etc.

Não haja dúvida, passado tanto tempo, e antes das revoadas de "lenços brancos", é já altura de dizer ao presidente Frederico Varandas aquilo que é óbvio: Jorge Silas não está a vingar. É um erro de "casting".

Sou o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...

jpt, 28.10.22

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Acabo de conhecer este episódio parlamentar. É o da "Ana dos Olivais" - uma historieta sobre uma imaginada "Ana de 25 anos" do meu bairro lisboeta, narrada como se exemplar por um deputado do PSD, Alexandre Poço, que assim a quis projéctil endereçado ao primeiro-ministro António Costa.
 
O breve episódio (na ligação estão as duas curtas intervenções) causa-me duas constatações: 1) Alexandre Poço, um ex-jotinha PSD agora já adulto deputado, e que foi conhecido por nós-vulgo através de uma fruste candidatura autárquica que quis "engraçadista", nem televisão vê. Pois se o fizesse em qualquer "filme de tribunal" americano teria aprendido o célebre mandamento: nunca fazer perguntas para as quais não se está preparado para a resposta. E como tal foi-se ele à bancada fazer uma pirueta retórica - um ademane engraçadista -, e em resposta levou "pela medida grande". Para melhor me fazer entender direi que Poço, a putativa "jovem estrela PSD", esteve para Costa como há dois dias Flávio Nazinho esteve para Harry Kane... Encomende-se o rapazola ao VAR ou ao gongo, a ver se se safa nos seus próximos atrevimentos no hemiciclo que, pelos vistos, imagina qual campo da bola ou ringue.
 
2) O episódio chamou-me a atenção por ter sido invocado o meu bairro. No qual cresci até aos 25 anos, ao qual voltei aos 50. Conheço alguma coisa do que se passa. Várias vezes botei sobre os Olivais: notando os maus efeitos de uma atrapalhada, pois voluntarista, reforma da administração autárquica; notando a ausência de políticas de "reanimação" urbana; vendo o predomínio de uma visão assistencialista de paternalismo clientelar; clamando contra o - de facto - boçalismo das lideranças que o PS implantou numa freguesia central da capital (com 32 mil eleitores, repito-me até à exaustão). E sublinhando, com a ênfase que me foi possível, que só aquilo que o PS perdeu nos Olivais nas últimas autárquicas foi suficiente para derrotar Medina (malvada a Sorte, pois a este lhe serviu para chegar a ministro, e sorridente como se vê nestas gravações...).
 
Mas notei também, e botei-o, a total irrelevância, a candura ignorante, das restantes candidaturas autárquicas, das atenções partidárias, sobre este meu bairro (o tal dos 32 mil eleitores sitos no centro da capital). Nem à esquerda, nem à direita, nem ao centro, nada foi proposto, nada foi pensado e discursado, um vácuo completo. Mais surpreendente ainda num partido com traquejo, experiência de poder nacional e autárquico, como o é o PSD e que tinha uma candidatura municipal pujante. Nada mesmo, apenas umas candidaturas fundidas, uns candidatos mudos e quedos.
 
Avançaram alguma coisa no último ano? Ouviram o real, pensaram-no, projectaram algo? Que se saiba nada disso aconteceu, nada disso foi divulgado. Resta apenas este jotinha engraçadista, qual um galamba psd, a invocar o bairro e seu universo num destemperada patetice... Convirá perceber que não há pior, não há rumo mais eunuco, do que o engraçadismo (o que serve para o PSD deste jotinha e também para a IL, a qual, ou muito me engano, ou com Rui Rocha ainda mais perseguirá esse aparente trunfo). E, acima de tudo, convirá que o PSD (e não só) perceba que "o que é preciso é pensar a malta". Não é animá-la...
 
Enfim, sou "o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...". E não tenho paciência para estes jotinhas vácuos.

Arrumar a casa e gerir uma pesada herança

Luís Montenegro

Pedro Correia, 07.06.22

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As perspectivas de sucesso do PSD são cada vez menos risonhas: quatro anos de gestão errática de Rui Rio devastaram o partido. Fosse quem fosse o sucessor, teria sempre tarefa complicada. Os sociais-democratas, com o antigo presidente da câmara do Porto ao leme, perderam duas eleições legislativas e fracassaram na oposição ao poder socialista, agora muito mais robustecido.

O sucessor já tem nome e rosto: Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 49 anos, advogado. Distinguiu-se como líder parlamentar social-democrata entre 2011 e 2017, mas hoje está ausente do hemiciclo. Terá de relacionar-se com uma bancada escolhida por Rio, marcada pelo estilo que lhe foi impresso pelo dirigente cessante. Morno, cordato, quase amigável – precisamente o que agrada ao primeiro-ministro.

Missão nada fácil. E com reflexos óbvios na estrutura anímica do partido: a abstenção nestas directas do PSD rondou os 40%, com participação de pouco mais de 20 mil militantes, o que faz soar alarmes no estado-maior de Montenegro.

A seu favor, o forte apoio de quem votou – 72,5%, triunfo claro contra Jorge Moreira da Silva. Além de só haver eleições nacionais em Maio de 2024: serão as europeias. Até esse teste, não lhe faltará tempo para arrumar a casa. Devia começar por mudar a sede do partido, há décadas entrincheirado num palacete da Lapa lisboeta. E ampliar o universo eleitoral interno do PSD, imitando o ocorrido no PS em 2014. Nos tempos que correm, de progressivo desinteresse pela militância política tradicional, gestos como estes contam muito.

 

Em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa fez um rasgado elogio a Montenegro a pretexto da comemoração dos 43 anos do concelho de Espinho, cidade natal do novo líder laranja, enaltecendo-lhe as qualidades cívicas e humanas. Como se estivesse a sinalizar-lhe a rota. De Belém não faltará incentivo subliminar ao homem que se distinguiu como tribuno em São Bento e um dia disse a Costa: «Governar não é geringonçar.»

Resta ver como reagirá um partido desgastado por incessantes questiúnculas internas. E se os eleitores ainda olharão o PSD como força política indispensável e necessária. Olhando o que acontece noutros países europeus, nada está garantido.

 

Se quer afirmar-se como dirigente de futuro, Montenegro deve começar por assumir sem complexos o melhor legado do PSD como porta-voz dos sectores mais dinâmicos da sociedade – na edificação das autonomias regionais, no fim da tutela militar sobre as instituições civis, na liberalização da economia, na construção europeia.

Tem de abandonar a absurda posição de Rio, que deixou o PS ocupar o centro enquanto punha o PSD a fugir da direita. Cabe-lhe, acima de tudo, escrutinar o Governo com acutilância e competência. Em questões que mobilizam o cidadão comum. Como os computadores anunciados mas que nunca chegaram às escolas, os hospitais que não passaram de chamariz para ganhar votos, os médicos de família cada vez mais escassos, as habitações prometidas mas inexistentes.

Só assim um partido da oposição se torna útil.

 

Texto publicado no semanário Novo.

Primeiro a avançar num combate nada fácil

Luís Montenegro

Pedro Correia, 14.04.22

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À terceira será de vez? Os apoiantes de Luís Montenegro devem fazer esta pergunta na semana em que o antigo líder parlamentar social-democrata confirmou a candidatura às eleições directas para a presidência do PSD, marcadas para 28 de Maio. Avança com a convicção de que «Portugal precisa de uma oposição implacável com os desvios do Governo» e na certeza de que é necessária uma alternativa política a António Costa que «devolva ambição e esperança» num país empurrado para os lugares de baixo no campeonato europeu da prosperidade.

Nada é fácil neste combate. Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 49 anos, advogado de profissão, ambiciona suceder a Rui Rio numa das piores fases da história do partido fundado em 1974 por Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão.

A última vez que os sociais-democratas passaram a barreira dos 40%, concorrendo isoladamente numa eleição para a Assembleia da República, foi há 20 anos. O errático consulado de Rio favoreceu a recente expansão de forças alternativas no espectro político português, à custa dos sociais-democratas, enquanto o PS celebrava a segunda maioria absoluta da sua história. Pior: o ainda líder laranja, único que registou dois fracassos eleitorais consecutivos em escrutínios parlamentares, tudo tem feito para retardar o processo de sucessão. Na melhor das hipóteses, só haverá nova direcção em plenas funções daqui a três meses, já em Julho. Com meio país de férias.

Montenegro parte para esta corrida com a vantagem de ser o primeiro a declarar-se candidato. Mas também com o estigma de haver sido derrotado duas vezes por Rio em anteriores tentativas de liderar o partido. Além disso, não tendo integrado as listas de deputados, permanece ausente do palco parlamentar. As incógnitas no processo de sucessão acentuam-se com a perspectiva de enfrentar Jorge Moreira da Silva, antigo ministro de Passos Coelho, nesta corrida interna.

Ganhe quem ganhar, espera-o uma tarefa pouco invejável. A bancada laranja está reduzida a 77 parlamentares (menos dois do que os eleitos em 2019), contra os 120 socialistas. E o partido, batido nas urnas a 30 de Janeiro, vive há mais de dois meses numa espécie de vácuo, com uma liderança demissionária em câmara lenta. Vácuo preenchido por ocasionais declarações de Rio que roçam o patético, como quando se apressou a declarar que subscrevia quase por inteiro o discurso inaugural do socialista Augusto Santos Silva enquanto presidente da Assembleia da República, ou até o inaceitável, como quando alertou para possíveis efeitos perversos das sanções europeias à Rússia de Putin, responsável por crimes de guerra na Ucrânia.

Se olharmos para Espanha, percebemos que tudo podia ser diferente. Ali o líder do Partido Popular, Pablo Casado, anunciou a demissão a 22 de Fevereiro e no dia 2 de Abril já estava eleito o sucessor, Alberto Núñez Feijóo. O PSD, parceiro do PP nas fileiras do Partido Popular Europeu, devia aprender alguma coisa com os vizinhos espanhóis.

 

Texto publicado no semanário Novo