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Delito de Opinião

Lição de futebolês (para que saibam)

Pedro Correia, 23.11.23

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É um quatro-dois-três-um mas muitas vezes é mais um quatro-cinco-um de uma equipa que não se desorganiza nem se desposiciona muito e que sai bem na transição sobretudo nas bolas a passar em momentos de definição dessa transição ofensiva com alguma criatividade e alguma atenção à bola parada e ao jogo aéreo muito forte com os laterais a centrar nessa circunstância pois quando pressionada em bloco meio alto a equipa vai jogar tendencialmente em bloco baixo sobretudo quando os alas não são jogadores de largura e têm dificuldade nas acções de construção e a contratransição é vital porque quando se perde a bola em zona ofensiva se o pressing foi imediato pode ser recuperada instantaneamente e a contratransição numa equipa que a faça bem e que tenha qualidade de finalização muitas vezes é fatal e este é um jogo em que interessa revelar capacidade de pressionar alto e de recuperar alto e de meter grandes intensidades sobretudo na primeira parte sem deixar o adversário trocar a bola naqueles dois metros de construção da zona defensiva nem jogar no risco pois quando se recupera mais atrás eles encontram-se lá todos.

 

Fui suficientemente claro ou preferem que faça um desenho?

Reflexão do dia

Pedro Correia, 23.10.19

«O tão badalado Estádio Municipal de Braga, orçado em 65 milhões de euros, já vai em 175 milhões de custo efectivo - a que ainda há a acrescentar mais umas dezenas, por via de dívidas em cobrança judicial, mais os respectivos custos e juros de mora. Ninguém será, obviamente, responsabilizado: isto é Portugal, é o Estado a gerir e o dinheiro é integralmente dos contribuintes.»

Miguel Sousa Tavares, n' A Bola

... e é isto.

João Sousa, 02.09.19

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Desde pelo menos as cinco da tarde que um dos canais televisivos de informação vem apresentando, com regularidade, um programa onde cinco cavalheiros, sentados à volta de uma mesa, debatem ao minuto as peripécias deste último dia de transferências no futebol. Falam de jogadores contratados, recusados, dados, vendidos e emprestados - mas vendo o ar grave e concentrado daqueles cinco cavalheiros sentados à volta de uma mesa, pensar-se-ia estarem a comentar a invasão do Iraque.

Ridículo.

Maradona e o síndrome de impunidade dos artistas

João Pedro Pimenta, 06.07.18

Não há Campeonato do Mundo de Futebol que não traga estrelas das competições passadas. No que está a decorrer agora já pude ver o dinamarquês Schmeichel, o alemão Lotthar Matthaus, o brasileiro Ronaldo (o "Fenómeno") e os colombianos Higuita e Valderrama. E Maradona, claro. A fumar charuto em locais proibidos, a insultar adversários, a criticar opções dos treinadores ou a entrar em transe quando a Argentina marca um golo (ou a sofrer uma vertigem quando sofre outro), a estrela dos anos oitenta e campeão do México 86 está lá sempre.

 

Confesso que tenho pouca paciência para Maradona, para a impunidade dos seus actos e para a ideia que transmite de que pode fazer tudo e ainda assim é um injustiçado. Era o maior jogador do seu tempo, sim, e um dos maiores de sempre. Mas nunca vi Zidane ou Beckenbauer, tal como não via Eusébio e Cruyff, a fazer semelhantes figuras (Pélé é outro caso, diferente mas não necessariamente exemplar). Maradona critica tudo e todos, não raras vezes insultando, faz o que lhe dá na real gana, arma-se em entendido na matéria, quando como treinador se revelou um desastre, e para piorar as coisas ainda passa por moralista, quando as suas aventuras com a droga  - não esquecendo que no seu último Mundial acabou afastado por doping - não o aconselhariam. Para mais, não se exime a exprimir as suas ideias políticas, que passam por usar tatuagens de Che Guevara, tendo sido visita frequente de Fidel Castro, ou por oferecer os préstimos a Nicolás Maduro, participando em comícios do protoditador venezuelano ou oferecendo-se como "soldado da revolução bolivariana" para "libertar a Venezuela e combater o imperialismo", isso numa altura de fortíssima repressão do regime vigente, com visível desrespeito por pelo princípio da separação de poderes, e de uma crise económica generalizada. E como não podia deixar de ser há ainda as suas "opiniões" sobre a Guerra das Faklandsl/Malvinas, considerando que a Rainha Isabel II e o príncipe Carlos têm as mãos "tintas de sangue"; curiosamente, do tempo em que jogava, não se lhe conhecem grandes críticas à brutal junta militar que comandava a argentina e que deu origem ao conflito que seria o início do seu fim, e que só por isso haveria que dar elogios aos ingleses. Parece que finalmente Maradona culpou os militares pelo desastre dessa aventura. Foram precisos mais de trinta anos...

 

Tudo isso adorado por uma patética "igreja maradoniana", com ritos em tudo semelhantes aos da igreja católica mas colocando o nome do antigo craque no lugar dos santos, assim como em Nápoles o seu culto concorre com o de S. Gennaro. As declarações, imagens e situações descritas podem ser vistas no filme Maradona por Kusturica, em que o realizador sérvio faz uma hagiografia ligeiramente envenenada ao argentino, aproveitando para fazer uma crítica ao ocidente.

 

Toda esta bajulação não é muito diferente da que é feita a boa parte das gentes das artes e das letras, que por mais barbaridades que digam e façam têm sempre uma desculpa, ou no mínimo vêm os seus actos ou declarações sempre atenuados. Se compararmos com os políticos, verificamos que a tolerância para com os primeiros é sempre muito maior, ou, no mínimo, gera sempre menos indignação, esse sentimento tão comum hoje em dia. Nunca percebi bem porquê. Quanto maior é a notoriedade do artista, do escritor ou do desportista maior é a sua responsabilidade. E a ideia estapafúrdia de que um escritor tem de ser um exemplo moral, e que a sua vida reflecte as ideias contidas na sua obra é uma infantilidade que tarda em passar. É a velha discussão do valor da obra Vs a vida pessoal dos seus autores. Artistas há que criaram obras intemporais e magníficas mas que tiveram vidas a todo o título miseráveis. O mesmo se aplica aos vultos literários, e claro está, aos desportistas. Não percebo nada de psicologia, mas a falta de distinção entre obra e autor parece-me dos comportamentos mais irracionais que imaginar se possa. E no entanto é algo tão comum que quase parece natural. Talvez não valha a pena admirarmo-nos com os panos quentes que são passados nestes casos. Maradona poderá sempre proferir barbaridades enquanto fuma em locais interditos e se oferece como "soldado da revolução" que terá sempre um culto qualquer a louvá-lo. Desde que não nos proíbam de os criticar já não é mau.

 

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Helénicos mas balcânicos

João Pedro Pimenta, 14.03.18

Se acham que o futebol português seja uma acumulação de indignidades, falta de desportivismo e fanatismo, o melhor será compará-lo com o futebol grego para nos animarmos um pouco. 

O campeonato grego é fértil em incidentes que de tão repetidos já são rotina. É o caso das invasões de campo. Ou das recepções violentas a equipas adversárias. Este ano, com a possibilidade do crónico campeão Olympiacos do Pireu ser derrubado, a disputa é entre estes, os seus vizinhos do AEK de Atenas e o PAOK de Salónica, na longínqua Macedónia grega. No encontro recente entre o PAOK e o Olympiacos o jogo teve de ser interrompido pelo arremesso de objectos (um deles acertou no treinador dos do Pireu) e implicou a derrota administrativa dos de Salónica. Agora, no mesmo estádio, no encontro entre PAOK e AEK que muita influência teria no título, a decisão do árbitro, com razão, em anular mesmo no fim um golo dos da casa levou a nova fúria, com a entrada em campo não só do público como do próprio presidente do clube, um grego-russo dono de meia cidade e que não achou nada melhor que interpelar o árbitro de pistola no coldre, fazendo menção de a utilizar. 

 

 

Depois disso as autoridades competentes já suspenderam o campeonato. Entrar em campo de pistola à cinta é demais até na liga grega. Mas esta imagem caracteriza ainda mais um país que, por romantismo ou atavismo, muitos ainda acham que conserva a pureza civilizacional da Antiguidade, como se os gregos fossem de pura raça helénica, nada tendo em comum com os povos vizinhos, esses autênticos bárbaros.

A ideia vem de longe, já que ingleses e franceses ajudaram a moderna Grécia a tornar-se independente dos turcos muito por causa do romantismo vigente. Mas a verdade é que o farol civilizacional dos gregos actuais é mais Constantinopla do que Atenas, o cristianismo ortodoxo do que o Olimpo dos deuses, ou o Basileus do que a ágora (belo nome, já agora).

Sim, o "berço da democracia" - esse conjunto de cidades estado e pequenos territórios - mudou muito desde então. Tirando a língua, os nomes e a situação geográfica (e também o facto de não terem ficado sob influência comunista na Guerra Fria), os gregos pouco se distinguem dos seus vizinhos sérvios e búlgaros. E dos macedónios da chamada FYROM, já agora, com quem mantêm um litígio por causa do nome que consideram ser exclusivamente seu.

O irónico da coisa é que os gregos da Antiguidade consideravam a Macedónia uma terra de bárbaros por causa do seu sistema social, político e económico. Agora reivindicam o seu legado e do conquistador Alexandre Magno. No fundo, é terra de balcânicos que não se entendem.

Antevisão da nova época futebolística

Rui Rocha, 07.08.14

Do ponto de vista da fé, a nova época será mais pobre. Privados de Espírito Santo, que orientará o Valência, resta-nos esperar pelos embates épicos entre Deus, do Gil Vicente, e Jesus, do Benfica. Mas, por outro lado, digam-me, se conseguirem lembrar-se, em que outros momentos da história do ludopédio lusitano estivemos tão perto de ter um derby que opussesse Rabiu a Rabia.