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Delito de Opinião

Esperança

Paulo Sousa, 26.03.22

Violinists Support Ukraine surgiu como forma de apoiar a Ucrânia. Violinistas de todo o mundo juntaram-se a nove ucranianos que mesmo debaixo do chão, enquanto tentam sobreviver aos bombardeamentos russos, não deixam de nos maravilhar.

Entre muitos outros defeitos, será no apego e na necessidade de arte, que melhor nos distinguimos dos bichos. Enquanto isso acontecer, há razões para termos esperança.

Um descalabro

Sérgio de Almeida Correia, 17.02.21

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O gráfico ontem publicado pelo Diário de Notícias que ilustrava uma notícia com o título "Portugal é o segundo país mais mortal da UE e o segundo do mundo" é bem o espelho do estado a que o país foi conduzido.
Se, por um lado, o Governo confiava na responsabilidade dos portugueses quando se predispôs a abrir a "janela" do Natal e do Fim do Ano, não é menos verdade que foram esses mesmos portugueses que mais contribuíram com a sua irresponsabilidade para a presente situação.
Depois, talvez tenha havido um excesso de confiança por parte das autoridades, que a somar-se a uma gestão errante e à emissão de sinais contraditórios por parte de alguns dirigentes, contribuíram decisivamente para o descalabro que se lhe seguiu.
A correcção do actual quadro e um regresso à normalidade possível continuam por isso, e não obstante todos os recados dos especialistas, a ser no mínimo problemáticos.
O país e os portugueses empobreceram muitíssimo mais do que aquilo que seria expectável com uma gestão mais conservadora, mais impopular e mais previdente desde o início, que tivesse antecipado sempre os piores cenários e houvesse sido acompanhada de medidas mais duras que não contemporizassem com a rua e os comentadores do "sistema".
Sei que de pouco ou nada vale o que por aqui se opina. Até porque não sendo especialista na matéria me limito a observar a realidade e a procurar a informação que está ao alcance de todos para me ir esclarecendo e pensando nos problemas que nos afligem.
Espero, posto isto, que o processo de vacinação possa avançar e concluir-se o mais depressa possível, sem novos atropelos, facilitismos e "golpes baixos" como aqueles que têm sido relatados.
Essa é uma das vertentes impostas pelo Covid-19 ao nosso quotidiano futuro e até que seja possível um regresso o mais parecido possível com a liberdade de que antes desfrutávamos.
A outra decorre dos resultados da “excursão” que a OMS promoveu a Wuhan.
Pensar que alguma vez, mais de um ano depois do que aconteceu, seria possível chegar a alguma conclusão sobre a origem do vírus seria pouco mais do que pura ilusão.
Com o terreno devidamente limpo, com o anfitrião a esconder os dados em bruto, com toda a gente amestrada, sem que quem investiga tivesse liberdade de se poder deslocar e contactar com quem queria e como queria sem o espartilho dos controleiros da praxe, o mais natural era que os resultados fossem inconclusivos. E não passassem das boas intenções.
Outra coisa, ademais, não seria de esperar da organização da "excursão". Estava-se a ver que a forma condescendente, para não dizer subserviente, como a OMS admitiu ser tratada, e participar numa encenação, para poder entrar no país, já trazia em si e antecipava que o objectivo principal da empresa seria ilibar o anfitrião, mais o regime, de qualquer responsabilidade no que aconteceu.
Ao admitirem que esse seria o caminho – a meu ver errado – para o “sucesso”, esqueceram que ficaria sem resposta a principal razão para que só depois de muita insistência internacional e na sequência dos acontecimentos do ano passado fosse proibido o comércio de espécies selvagens nos mercados.
E aí cometeu-se um erro de julgamento. A China ignorou que a falta de transparência e de resultados conclusivos funcionariam contra si, e não só a estigmatizam ainda mais aos olhos da opinião pública mundial, como tornam mais claro que o caminho a percorrer para a credibilidade e respeitabilidade internacional ficaram mais estreitos, com o consequente aumento, daqui para a frente, do escrutínio internacional das suas acções. De todas.
Uma pseudo-investigação como a que a OMS conduziu no país, sujeita às baias impostas pelo regime, se internamente pode responder às necessidades de propaganda e afirmação, funcionará externamente sempre contra si e contra a imagem internacional do país e dos seus dirigentes, o que se agrava quando se vê que o inquilino da Casa Branca mudou e o desanuviado clima político em Washington limita hoje, como nunca, a margem de manobra da liderança chinesa.
Sem sabermos o que o Ano Lunar do Boi nos reserva, pouco mais haverá do que confiar nas vacinas e na providência, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para sairmos do vergonhoso lugar em que as estatísticas do Covid-19 nos colocaram.

Haja esperança

Paulo Sousa, 04.02.21

Após uma sequência de trocas e mensagens não entendidas, inadvertidamente acabei por ter uma ameixieira de jardim (Prunus cerasifera) nas cercanias da minha casa.

Além do formato despido de personalidade e do trabalho que dá a podá-la no final do Outono, as suas folhas são de uma cor que só poderia pertencer a um catálogo de cores frias. Não é uma árvore bonita.

Mas como a vida é feita de equilíbrios, é possível encontrar beleza mesmo quando menos contamos.

Assim, todos os anos no início de Fevereiro, esta árvore desperta-me um entusiasmo que lhe garante a permanência por mais uma temporada, e isto acontece por ser a primeira a anunciar a Primavera.

À excepção dos citrinos, que têm um ciclo próprio, apenas as nespereiras concorrem com a precocidade desta ameixieira de jardim. Por isso e desde ontem, que aqui à volta se tornou oficial: a Primavera vem aí! E nunca ansiamos tanto pelo fim de um Inverno.

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Zanardi

Sérgio de Almeida Correia, 20.06.20

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(foto BMW, daqui)

 

Se há quem admire nesta vida, um dos indiscutíveis é seguramente Alessandro Zanardi.

A notícia que todos recebemos do acidente que sofreu ontem, numa prova de estrada destinada a deficientes, constitui mais uma desgraça que se abate sobre a vida de um homem com o seu talento, a sua força, a sua perseverança.

Já não bastava tudo o que lhe aconteceu ao longo da vida, a forma como foi superando obstáculos que para a maioria seriam absolutamente intransponíveis, indo buscar força e motivação onde se suspeitaria só existir desespero e resignação, para agora ter um acidente da magnitude do de ontem. Capotar com o triciclo de handbike duas vezes, acabar batendo num camião que seguia em sentido contrário, e o helicóptero não poder aterrar no local do acidente tendo de ser primeiro transportado de ambulância para um heliporto, não é apenas um azar, mais um, na vida de Zanardi. É a continuação de uma condenação inaudita, sem sentido, de um homem bom, de um exemplo de tenacidade, e de um verdadeiro herói de carne e osso.

Se, como dizem para aí, Deus é grande, é incompreensível que alguém tenha de sofrer o que Zanardi enfrenta.

Espero que uma vez mais consiga recuperar, e que nos volte a dar a todos um motivo para continuarmos a acreditar nalguma coisa. Forza, Alex.

Ainda há boas notícias

Sérgio de Almeida Correia, 22.04.16

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Ainda poderemos ter muitos anos pela frente até que se obtenham resultados com alguma expressão, mas o simples facto de haver uma possibilidade de não apenas se atrasar ou paralisar os efeitos da doença de Alzheimer, fazendo reverter os pacientes a uma fase anterior ao início dos efeitos do processo degenerativo da doença, podem vir a mudar a vida de milhões, dando-nos, mais do que a ilusão, a esperança de que os avanços da Ciência estão efectivamente ao serviço da humanidade e daquilo que esta tem de melhor.

A Professora Nancy Ip, responsável pelo departamento de investigação de neurociência molecular da Universidade de Hong Kong apresentou os resultados de uma investigação de três anos que são no mínimo surpreendentes. Em resumo, e de acordo com a notícia do South China Morning Post, o resultado a que se chegou consistiu em restaurar a memória das cobaias afectadas através da injecção de uma proteína. Se bem percebi, a IL-33 restaurou a memória para um nível normal. 

Num universo que já é actualmente de mais de quarenta milhões de doentes, que se projecta vir a atingir em 2025 mais de 131 milhões, os resultados revelados podem mesmo vir a ser mais do que uma janela de esperança. Dez anos é muito tempo, dirão alguns, mas ainda que esses dez se viessem a transformar em 15 ou 20 sempre teria valido a pena. E nada nos garante que a esperança trazida por Nancy Ip não venha, no final, a concretizar-se em menos de dez anos. Por agora, Nancy Ip será só Nancy Hope. Esperemos que em breve seja para muitos milhões e respectivas famílias Nancy Life. Nem tudo é assim tão mau neste mundo.

Do estar desempregado

Marta Spínola, 10.06.14

Eu já não estou, é a primeira novidade. Apareceu finalmente o meu emprego e eu acredito com alguma força que vai correr bem. Mas não é disso que venho falar. Tentarei em poucos posts descrever alguns aspectos do lado de quem está nessa terrível posição.

Enquanto se está desempregado passa-se pelas mais diversas situações, observações e opiniões. Mas o pior de tudo é quando o telefone toca, é um contacto para uma eventual entrevista, um teste de idioma, uma hipótese "que pode vir a acontecer, mas ainda sem certezas". Não me interpretem mal, não é o interlocutor ou o que/quem nos levou até ele que está mal, as pessoas fazem o que podem ou está ao seu alcance, e eu tenho algumas a agradecer por terem ajudado na minha busca de trabalho, ainda que sem sucesso.

O pior é mesmo o outro lado, o nosso. O que procura, tenta, ouve e espera uma oportunidade e uma segunda chamada. Sabe que é capaz, pode fazer aquele trabalho sem problemas ou se lho explicarem, deixa-me lá pensar o que levo vestido para a entrevista. E o novo contacto tarda, e acaba por não chegar. Mas sempre que há um novo, toda a esperança se renova e recomeça, vai ser bom, aquela zona até é boa e eu não me vou atrapalhar, eu faço o que for preciso. É como se o que está para trás não importasse já, deixa lá, alguma coisa havia de haver para ti caramba, já chega de esperar. E foram algumas vezes em que afinal ainda não era desta.

Comigo foram dois anos. Não estive parada e tive experiencias enriquecedoras, estive em lugares onde não me imaginei, vi o lado bom de muita gente. O mais difícil foi mesmo esse jogo esgotante da energia para começar de novo e a desilusão de ainda não ser dessa vez.

as coisas pequenas

Patrícia Reis, 07.05.12

As coisas pequenas são aquelas que importam, garantem-me pessoas mais espertas do que eu.

As coisas pequenas podem ser gestos ou palavras.

Em momentos de crise como este, para quem tem uma pequena empresa, uma coisa pequena passa a ser um gigante.

A responsabilidade face aos empregados e ao Estado é já do nível da ficção científica.

As decisões que se tomam são incompreendidas ou nem por isso, mas sabem sempre mal, a injustiça, a desilusão.

Ao fim de 25 anos de trabalho posso concluir que, apesar dos avessos da vida, tenho tido sorte nas pessoas que encontrei e encontro e até nas coisas pequenas. Quando estas se tornam gigantes eu tenho tendência a minguar. Foi o caso nas últimas duas semanas. Deixei de ter um metro e 64, para ter uns meros 50 cm. Depois aconteceram outras coisas, muitas coisas mais fortes, duras, profundas, coisas de uma vida, e comecei a voltar ao meu tamanho normal. Por isto tudo, aqui estou de volta ao Delito.

Não tenho por hábito comentar a vida política, como já devem saber, e tão pouco quero escrever sobre a vidinha (como diria Alexandre O'Neil "nunca contes a vidinha"), no entanto não me resta outra solução. Qualquer coisa que me possa ocorrer de momento está ligada à crise, ao desemprego, à falta de dinheiro para pagar subsídios, aos amigos que optam por ir viver para fora, aos filhos que querem saber do futuro, aos amigos que estão pendurados apesar de serem excelentes profissionais. Diria, para simplificar, que não estando zangada, estou frustrada e, como não me apetece mudar de país, tenho de arranjar alguma coisa para fazer. Refilar não está no meu feitio. Ir para a rua manifestar-me tão pouco, portanto optei por escrever cartas e emails a todos os responsáveis, eleitos ou nem por isso, que existem por aí e que afectam a minha vida e a dos meus. Não terei respostas, dirão. Se tiver alguma darei conta. Enquanto há vida, há esperança.

Alteração de circunstâncias.

Luís M. Jorge, 02.10.11

Que dizer às pessoas num momento como este? Tenho pensado nisso enquanto leio os outros blogs ou poiso os olhos nos jornais e encontro apenas ressentimento e angústia.

 

A opinião está barata, como qualquer produto em mercados saturados, mas a esperança não. Talvez não possamos mudar a realidade, mas está ao nosso alcance mudar alguma coisa em nós. Podemos ser um pouco mais observadores, um pouco mais capazes, e tentar fazer coisas que ainda não fizemos.

 

São raros os seres humanos verdadeiramente indefesos. São poucas as pessoas que não conseguem criar uma estratégia — e onde há uma estratégia há sempre uma esperança.

 

A esperança não é uma experiência colectiva, é uma experiência individual. Não depende da crise, não depende da idade e pode reforçar-se em contextos prejudiciais.

 

Por isso devemos aprender a separar os ruídos do mundo da nossa voz interior. Se a carga afectiva dos outros o perturba, ignore-a. Até nos períodos de crise há gente que prospera: procure essas pessoas.

 

Cada um de nós pode ser um pouco melhor a estabelecer objectivos realistas e a cumpri-los. Jorge Luis Borges escreveu que a coisa mais superficial de um homem são as suas opiniões.

Ignore as opiniões tóxicas.