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Delito de Opinião

Pelo menos os efeitos especiais serão bons

João Campos, 08.12.11

Se há um realizador de cinema a quem costumo dar porrada verbal regularmente, esse realizador é Roland Emmerich. É claro que gostei de Independence Day quando o vi na minha já distante pré-adolescência, mas daí para a frente pareceu-me que o homem andava a repetir a mesma história em todos os filmes que se seguiram, com o único propósito de estoirar o orçamento em efeitos especiais para mostrar as grandes cidades do planeta - sobretudo as norte-americanas - a serem destruídas. Basta conferir: em Independence Day (1996), uma civilização extra-terrestre hostil chega à Terra e destrói metodicamente as principais metrópoles humanas, com destaque (naturalmente) para as americanas; em Godzilla (1998), uma iguana mutante gigantesca anda a espezinhar tudo o que pode em Nova Iorque; em The Day After Tomorrow (2004), uma catástrofe climática congela, se bem me lembro, o Hemisfério Norte; e em 2012 (2009), bom, não sei ao certo porque não vi o filme, mas considerando a inspiração e os teasers, deve ter sido para aí tudo isto misturado. Enfim, há aqui um padrão claro.

 

No entanto, há dias vi, no programa de cinema da RTP2, Emmerich a ser entrevistado pelo nosso Mário Augusto, e fiquei surpreendido com duas coisas: a primeira, com o seu sentido de humor, capaz de gozar com a sua própria filmografia; a segunda, com o seu filme mais recente, Anonymous, sobre a possibilidade de Shakespeare ter tido um ghost writer - e não, a Londres shakespereana não é invadida por extraterrestres ou devastada pelas profecias do Al Gore. Não sei se o filme é bom ou mau, (o trailer está interessante, e a fotografia parece ser muito boa) mas também fiquei a saber entretanto - a curiosidade deu origem a uma rápida pesquisa - que o senhor tem também no seu currículo The Patriot (2000), com Mel Gibson, que não sendo uma obra-prima não é de todo um mau filme, e Stargate (1994), um filme muito interessante que acabou por dar origem a uma das melhores séries televisivas de ficção científica da minha geração (Stargate). Já é qualquer coisa.

Tudo isto para dizer que quando soube que os direitos de adaptação cinematográfica da série de ficção científica Foundation, de Isaac Asimov, estavam com Emmerich, fiquei decepcionado. Os livros são formidáveis, e certamente mereceriam um realizador à altura: um Spielberg, talvez, apesar de a melhor opção ser provavelmente Ridley Scott. Roland Emmerich está obviamente vários furos abaixo de ambos; no entanto, e apesar de algumas catástrofes cinematográficas (em ambos os sentidos), não será o pior realizador que anda por aí (continua alguns furos acima de Michael "Explosions! More explosions!" Bay). Talvez haja esperança para esta produção, caso se concretize.

Sci-Fi: os meus filmes (15)

João Campos, 23.04.10

 

1. 2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968)

De todos os comentários que tenho escrito aos filmes desta lista, este foi o mais difícil. Se 2001: A Space Odyssey é, para mim, o melhor filme de sempre, é também um filme difícil de descrever, ou mesmo de sobre ele escrever. Começa-se por onde? Pela maior e mais fantástica elipse da história do cinema? Pelo silêncio que pauta a narrativa, mostrando o espaço com um realismo ainda insuperado, e interrompido, a espaços, por uma banda sonora fabulosa? Pela angústia da cena - sem dúvida os mais longos cinco minutos que vivi em cinema - em que Bowman deixa a nave no módulo para salvar o seu companheiro no abissal vazio do espaço, ou mesmo pela angústia de uma difusa sensação de solidão permanente que o filme transmite? Ou por Hal, o computador da nave e um dos mais famosos vilões que já apareceram em filme (apesar de, na prática, Hal nunca aparecer) a despedir-se de Dave com a mesma frieza com que desliga o suporte de vida dos astronautas? Podíamos também notar a atenção ao detalhe, imagem de marca de Kubrick e neste filme levada ao extremo, tornando-o, e digo-o novamente, no filme "espacial" mais realista feito até ao presente. Ou poderíamos divagar, e entrar nas discussões que começaram em 1968, ano de estreia do filme (há 42 anos): qual a origem dos monólitos? O que acontece aos astronautas na Lua quando o "alarme" dispara? Qual o significado da trip que ocupa o longo final do filme? O que acontece a Dave? Ascende a uma outra condição? A qual? Perguntas ainda hoje sem resposta, pelo menos para quem apenas viu o filme (há sequelas, e há os romances escritos por Arthur C. Clarke): mais uma prova da longevidade de 2001, filme que após quatro décadas continua a suscitar debate. A frase de Dave, "open the pod bay doors, Hal", ficou gravada na história do cinema. Com razão: naquele momento, e independentemente de quando vimos o filme, todos estávamos a sair para o espaço com Bowman.

Sci-Fi: os meus filmes (14)

João Campos, 22.04.10

 

2. Blade Runner (Ridley Scott, 1982)

Quando estreou, em 1982, Blade Runner causou perplexidade no público, com o seu visual arrojado e a sua banda sonora misteriosa (da autoria de Vangelis), e gerou críticas particularmente ácidas. Se há filmes que estão destinados a estarem à frente do seu tempo, Blade Runner é um deles: de filme falhado a filme de culto, inaugurou o sub-género ciberpunk no cinema, e foi (é, ainda) uma autêntica lição de adaptação de livro para filme - no caso, o livro que lhe serviu de base foi Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick (leitura que aproveito para recomendar). Scott baseou-se na obra de Dick, sim, mas retirou-lhe os elementos de natureza religiosa e filosófica (os "mood organs", o Mercerism, a obsessão com animais vivos numa Terra devastada) e favoreceu a história "crua": um grupo de Replicants (andróides) evadiu-se na Terra e Rick Deckard (Harrison Ford em grande forma), um blade runner (caçador de andróides), assume a missão de os "retirar", eufemismo para "destruí-los". Mas quando o seu teste de reconhecimento de Replicants falha ao analisar Rachael, uma andróide praticamente perfeita desenvolvida pela Tyrell Corporation, Deckard começa a questionar a sua missão; e os andróides evadidos procuram por todos os meios sobreviver...

Hoje, é impossível falar de ficção científica no cinema sem mencionar Blade Runner, que brilha por si só e pela influência que teve em vários filmes subsequentes (dos quais Ghost in the Shell e Matrix serão bons exemplos, e porventura os mais óbvios - o primeiro, aliás, "transpira" Blade Runner), tanto em temática como em estética. Tal como acontece com Alien, vê-se hoje o filme e percebe-se que, quase trinta anos passados, não ganhou uma única ruga. Num período de quatro anos, Ridley Scott criou duas obras essenciais, não só da ficção científica, mas do cinema em geral. Não é para todos.


Enfim, falta o meu primeiro classificado. Escrever esta série tem sido bem mais gratificante do que imaginei quando lhe dei início, graças à participação de alguns leitores (a quem agradeço desde já). Como é bom de ver, pois falta apenas um filme, muitos daqueles que os leitores foram mencionando ao longo da série não vão aparecer na lista (a maioria, arrisco, porque nunca os vi; caso contrário, certamente o top15 seria um top30). O exercício é sempre subjectivo. Mas todas as sugestões foram cuidadosamente anotadas e - resolução tardia de 2010 - até ao final do ano vê-los-ei a todos.

Sci-Fi: os meus filmes (13)

João Campos, 21.04.10

 

3. Alien (Ridley Scott, 1979)

1979 foi um ano de colheita excepcional no cinema norte-americano: Francis Ford Copolla deu-nos Apocalypse Now!, com o seu cheiro a napalm; e Ridley Scott escreveu a melhor tagline do cinema - in space, no one can hear you scream - para promover uma das suas obras-primas: Alien. Desafiando alguns cânones da ficção científica da época, Scott dá o protagonismo a uma mulher (Ellen Ripley, a imortal personagem de Sigourney Weaver) e cria um vilão que, ao contrário do "mal" em Star Wars (a referência da época), não é racional, mas sim um predador puro, em acção no ambiente claustrofóbico da "Nostromo", a caçar, um por um, os elementos da tripulação; isto, em si, funciona melhor do que a maioria dos filmes de terror. Do ponto de vista técnico, Alien roça a perfeição como poucos filmes conseguiram; entre desempenhos sólidos da parte dos actores secundários (em momento algum cheesy), destaca-se Ian Holm, no papel de Ash, o andróide que trai a tripulação da "Nostromo"; e Sigourney Weaver brilha no papel de Ripley, obrigada a lutar até ao fim contra o predador perfeito. Para a história, deixou uma das mais inspiradoras criaturas da ficção científica, deixas memoráveis (Here, kitty kitty kitty) e cenas inesquecíveis (como o momento em que o chestburster irrompe do peito de Kane, entre muitos outros). Ainda há dias tive a oportunidade de rever o filme: não envelheceu um dia desde 1979. O que, em si, é uma proeza.

Sci-Fi: os meus filmes (12)

João Campos, 20.04.10

 

4. Star Wars, Episode V: The Empire Strikes Back (Irvin Kershner, 1980)

O Episódio IV, três anos antes, deu o "pontapé de saída" para uma das mais populares sagas da ficção científica, a epopeia espacial por excelência, o perfeito shoot'em up espacial; mas é o Episódio V o expoente máximo da série, um filme que, a um ritmo perfeito, desenvolve os acontecimentos do filme anterior até àquele que será porventura o mais memorável clímax do cinema de ficção científica: a revelação de Darth Vader a Luke Skywalker, seu filho. O enredo é sombrio, tão sombrio como o lado da Força escolhido por Darth Vader (considerado por muitos um dos melhores vilões da história do cinema). Os efeitos especiais, hoje um pouco datados (mas não se iludam; o filme envelheceu surpreendentemente bem), eram dos mais avançados que existiam em 1980. Visualmente, The Empire Strikes Back é uma obra-prima; e as pouquíssimas falhas que tem acabam por se diluir no seu ritmo narrativo e na qualidade dos seus cenários.

Confesso: só há muito pouco tempo (falo de três meses) vi os três filmes que compõem a trilogia original de Star Wars. Não me perguntem o que andei eu a ver durante tantos anos. Também não saberia responder.

 

Sci-Fi: os meus filmes (11)

João Campos, 19.04.10

 

5. The Matrix (Larry e Andy Wachowsky, 1999)

Diria que em 1999 ninguém estava preparado para um filme como Matrix. Nem mesmo a Warner, que perante o delirante projecto de três filmes apresentado pelos manos Whachowsky, decidiu não arriscar: faz-se um primeiro, e com pouco dinheiro; e o resto logo se vê. Sim, com pouco dinheiro: para os padrões da Warner, Matrix não é um filme de grande orçamento. Aliás, muitas cenas aparentemente complexas foram feitas com muita imaginação (e, literalmente, muita força de braços). A verdade é que Matrix impressiona logo a partir das cenas iniciais, quando Trinity (interpretada por Carrie-Anne Moss) se ergue no ar e a câmara gira em seu redor - a primeira cena que recorreu à técnica de "bullet-time", que mudou a forma como os filmes de acção são filmados. Mas Matrix é mais do que os seus efeitos especiais ou a sua fabulosa experiência visual: o filme apresenta um enredo sólido, com várias referências -  e influências - filosóficas, sustentado por personagens inesquecíveis, como Morpheus (brilhantemente interpretado por Lawrence Fishburne) ou Agent Smith (o grande Hugo Weaving), um dos melhores vilões que o género conheceu. Até Keanu Reaves, habitualmente wooden, cumpre os mínimos no papel principal, Neo, e tem alguns rasgos durante o filme.Talvez não seja exagerado dizer que, nos últimos anos, poucos filmes - se algum - tiveram o impacto e a influência que teve Matrix no cinema moderno. Onze anos após a estreia, continua actual e controverso, como nos idos de 99.

 

Sci-Fi: os meus filmes (10)

João Campos, 18.04.10

6. Aliens (James Cameron, 1986)


Realizar a sequela a uma obra prima de um grande realizador é uma tarefa que não está ao alcance de todos: a muitos faltaria a arte, e à maioria faltaria mesmo a coragem. A James Cameron não faltou uma ou outra quando decidiu realizar Aliens: percebendo que não poderia simplesmente repetir o terror claustrofóbico do primeiro filme da série, Cameron optou por mudar de registo, e passar do suspense/terror para um filme de ficção científica com suspense, mas mais orientado para a acção pura e dura. Se em Alien, no singular, havia apenas um "alien", em Aliens, como o plural indica, existem muitos (e foi uma forma criativa de evitar a óbvia denominação "Alien 2") - como, aliás, a frase promocional anuncia: this time there's more. E nem foi preciso dar uma grande volta ao enredo: após mais de cinquenta anos em sono criogénico no vazio do espaço, Ellen Ripley (novamente interpretada por Sigourney Weaver) é encontrada, e "convidada" a regressar ao planeta onde o alien foi encontrado pela tripulação da "Nostromo". Mas desta vez, ao invés de ter por companhia uma tripulação civil, Ripley faz-se acompanhar por um pelotão de Marines, muito bem armados...
Não costumo entrar na discussão sobre qual dos filmes é melhor: se o primeiro, de Scott, ou se o segundo, de Cameron. Preferência pessoal à parte, considero que ambos são brilhantes. Este, revi-o há dias - é de cortar a respiração. É pena que as sequelas não tenham acompanhado o ritmo, mas há que reconhecer que, com Aliens, Cameron colocou a fasquia demasiado alta - e David Fincher estatelou-se ao comprido quando tentou Alien 3.

Enfim, isso são contas de outro rosário. Restam os cinco filmes que tenho como os melhores do género. Alguém quer arriscar um palpite?

Sci-Fi: os meus filmes (9)

João Campos, 17.04.10

 

7º: Terminator/Terminator 2: Judgement Day (James Cameron, 1984/1991)


Não consigo - ou não acho correcto - separar Terminator de Terminator  2: Judgement Day, pelo que os coloco "empatados". O primeiro narra a história do Exterminador (Arnold Schwarzenegger no seu melhor papel?) enviado pela inteligência artificial do futuro para eliminar Sarah Connor, que daria à luz o futuro líder da resistência humana; o segundo segue as pisadas do Exterminador, desta vez enviado do futuro pelo próprio John Connor para se proteger a si mesmo, em adolescente, de um Exterminador mais avançado (um inesquecível Robert Patrick). Ficam ambos para a história do cinema entre os mais memoráveis filmes tanto de ficção científica como de acção. E, claro, com algumas das mais memoráveis deixas cinematográficas dos últimos trinta anos. Quanto a mim, I'll be back.

 

Sci-Fi: os meus filmes (8)

João Campos, 16.04.10

 

8º: Ghost in the Shell (Mamoru Oshii, 1995)


Esta lista que tenho apresentado tem uma lacuna (tem várias, até, mas fiquemo-nos por esta): faltam filmes de animação. Sobretudo japoneses, que lá pelo Japão é onde os fazem melhor. Na lista que o meu amigo enviou constavam vários, mas para ser franco, eu não os conheço. Há, no entanto, um que eu vi, e que por acaso é um dos meus filmes preferidos: Ghost in the Shell. Com óbvias influências em Blade Runner, Ghost in the Shell tem como personagem principal Motoko Kusanagi, Major da Secção 9. Motoko é uma cyborg, uma mente humana num corpo cibernético, e questiona-se permanentemente sobre a sua condição. No decorrer das suas investigações, a Secção 9 tropeça numa ponta solta de uma conspiração com origem numa agência governamental. E um famoso hacker, uma "consciência sem corpo" emerge no ciberespaço, levando Motoko a procurar por todos os meios obter as respostas que procura sobre quem (ou o que) ela é.
Há que não cair no estereótipo recorrente: Ghost in the Shell é animação, mas não é para crianças. E um grande filme: de acordo com a generalidade da crítica, um dos melhores feitos no Japão até à data. E um dos mais influentes também. Aliás, um dos mais populares filmes de culto de ficção científica dos últimos anos, Matrix, tem em Ghost in the Shell uma das suas principais inspirações.

(E em jeito de nota de rodapé: se gostarem deste filme, não deixem de ver as duas temporadas da série televisiva paralela Ghost in the Shell: Stand Alone Complex - de longe, uma das melhores que já vi)

 

Sci-Fi: os meus filmes (7)

João Campos, 15.04.10

 

9º: Star Wars, Episode IV: A New Hope (George Lucas, 1977)


O que se pode dizer do filme que deu início à saga Star Wars, que deu ao cinema (e a nós) personagens tão inesquecíveis como Luke Skywalker, Darth Vader, Han Solo ou Chewbacca, e que há mais de trinta anos nos leva uma e outra vez para "um futuro distante, numa galáxia longínqua"? Bem vistas as coisas, Star Wars ficaria sempre para a história do cinema ainda que fosse um mau filme, pois tornou possível praticamente toda a ficção cienifica que se lhe seguiu. Acontece que não só foi um filme revolucionário, como também foi um excelente filme. Ainda que tenha alguns momentos cheesy, sobretudo em algumas interpretações, Star Wars, o primeiro (que afinal é o quarto), tornou-se na referência e na medida para qualquer aventura espacial, colocando bem alta a fasquia. Um clássico.

 

Sci-Fi: os meus filmes (6)

João Campos, 14.04.10

 

10º: Serenity (Joss Whedon, 2004)

Diria que Serenity, o filme-sequela à série televisiva Firefly (cancelada antes de a primeira temporada terminar), é o melhor filme de ficção científica da década. Mais: é a prova de que um filme de ficção científica não tem necessariamente de ter grandes efeitos especiais, ou um enredo complexo e obscuro, para ser um excelente filme. E, se é verdade que a componente visual de Serenity nem é má (bem pelo contrário; é bastante boa), o seu ponto forte reside mesmo num argumento simples, mas sólido e muito bem escrito. Não existe nele uma piada que seja colocada por acaso, uma expressão que tenha sido escrita apenas "para encher": todo o argumento é consistente, com um ritmo narrativo que, se não é perfeito, anda perto disso. As personagens - de Malcolm Reynolds, comandante da nave "Serenity", a River, uma misteriosa rapariga cuja mente guarda um segredo que o governo totalitário do sector não está disposto a revelar - estão desenvolvidas, e a interacção entre si parece espontânea e natural. O que por um lado não é de estranhar: o elenco transitou da série para o filme. No entanto,  honra lhe seja feita: nem todas as séries podem orgulhar-se de ter um elenco que funcione tão bem como o de Firefly/Serenity.
Joss Wheddon (autor de séries de sucesso como Buffy the Vampire Slayer e Angel) criou, com Serenity, o verdadeiro western espacial, uma aventura num tom que, creio, não é o mais comum no género. Serenity proporciona duas horas de puro entretenimento, com algumas cenas memoráveis e riso q.b.. No final, apetece ver novamente. E insultar (pelo menos) quem ordenou o cancelamento da série...

 

Sci-Fi: os meus filmes (5)

João Campos, 13.04.10

 

11º: Twelve Monkeys (Terry Gilliam, 1995)


Se o tema das viagens no tempo foi abordado, em Back to the Future, pela via da comédia, em Twelve Monkeys o tom escolhido (por Terry Gilliam; sim, dos Monty Python) foi o do thriller. O resultado é um filme fabuloso, e surpreendentemente esquecido. Situando-se num futuro apocalíptico, no qual a humanidade foi dizimada e obrigada a refugiar-se no subsolo por um misterioso vírus mortal, um criminoso (James Cole) é enviado para o passado, na esperança de que consiga encontrar uma amostra do vírus. No entanto, a sua primeira viagem, ao invés de o levar para 1996, ano em que o vírus surgiu, levou-o a 1990. O enredo, problemático em alguns pontos (como sempre são problemáticos os enredos sobre viagens no tempo), conta com suficientes reviravoltas para agarrar o espectador; enquanto o ambiente sombrio e alucinante de Gilliam e as excelentes interpretações de Bruce Willis (James Cole, o protagonista) e de Brad Pitt (o lunático Jeffrey Goines) contribuem para que Twelve Monkeys seja um dos melhores filmes de ficção científica da década de 90.

 

Sci-Fi: os meus filmes (4)

João Campos, 12.04.10

 

12º: Back to the Future (Robert Zemeckis, 1985)


Um dos mais interesantes aspectos da ficção científica enquanto género cinematográfico é a possibilidade que oferece de combinar muito bem com outros géneros - um filme de ficção científica pode ser de acção, de terror, um drama, um thriller, um épico, uma aventura, uma comédia. A lista que estou a desenvolver dá exemplos de todos estes géneros; Back to the Future, filme do ano em que nasci, encaixa nos dois últimos. O tema é um clássico da ficção científica: as viagens no tempo, aqui apimentadas por um dos mais famosos carros do cinema (o DeLorean), pelo perfeito "cientista maluco" (Emmett "Doc" Brown, numa inesquecível interpretação de Christopher Lloyd) e um jovem, Marty McFly (um grande Michael J. Fox), que, regressado ao ano de 1955, vai ter de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que os seus pais se apaixonem, ou ele não existirá no futuro. E entretanto, tem de arranjar forma de voltar ao seu tempo. O filme contou com duas sequelas, menores mas bastante divertidas.  E foi um tal caso de popularidade que até foi citado por um presidente dos Estados Unidos (Reagan), num discurso oficial.

 

Sci-Fi: os meus filmes (3)

João Campos, 11.04.10

 

13º: Matrix Reloaded / Matrix Revolutions (Larry e Andy Wachowsky, 2003)


Mais uma escolha provavelmente polémica, mas a verdade é que, ao contrário de muitos, nunca me consegui sentir desiludido, ou mesmo defraudado com as duas sequelas de Matrix. Pelo contrário: a meu ver, Reloaded e Revolutions prosseguem, num sentido lógico, ainda que mais ou menos inesperado, a história deixada em aberto no primeiro filme. Com uma diferença: o desenlace de Revolutions não foi óbvio, e por isso permitiu inúmeras interpretações; por outro lado, essa ambiguidade abriu o flanco a alguma crítica mais ácida e, a meu ver, francamente injusta. Uma interpretação possível: Neo é, também ele, uma inteligência artificial (inconsciente desse facto), e a humanidade não é livre, sendo o "deserto do real" onde fica Zion apenas mais uma experiência simulada, um "matrix within the matrix" que dá a ilusão da escolha (de que fala o Arquitecto no final de Reloaded) àqueles que institivamente percebem a realidade "errada" onde a sua mente inicialmente vive. Tudo isto pode ser interpretado em várias cenas da trilogia (aliás, as pistas estão todas no primeiro filme, para quem acha que o argumento do segundo e do terceiro foram "feitos à pressa"), mas algumas pontas soltas (como Persephone) podem encaminhar algumas interpretações noutros sentidos.
É possível que uma parte considerável da crítica a Reloaded e a Revolutions tenha ficado desiludida por a componente visual do filme não ser mais do que uma actualização da estética inovadora do primeiro. É um facto que assim foi; no entanto, tanto Reloaded como Revolutions, apesar de apresentarem um enredo mais "obscuro", digamos assim, deram ao público motivos mais do que suficientes para figurarem entre os melhores filmes que o género conheceu na década.

 

Sci-Fi: os meus filmes (2)

João Campos, 10.04.10

 

14º: Minority Report (Steven Spielberg, 2002)


Na sociedade futurista (e aparentemente securitária) de Minority Report, filme baseado no conto homónimo de Philip K. Dick, um departamento policial experimental tornou possível a previsão de homicídios (recorrendo a três psíquicos, denominados por Precogs), sendo os futuros criminosos presos antes mesmo de cometerem os crimes - o que reduziu para zero a taxa de homicídios. O problema surge quando o sistema prevê que John Anderton (Tom Cruise), líder do Departamento Precrime, irá assassinar um homem que ele nunca viu. E aqui "começa" verdadeiramente o filme: com Anderton, em fuga, a tentar por todos os meios provar que não pode ser culpado por um crime que não cometeu. Durante a sua cruzada, Anderton procura também demonstrar que o sistema de premonição de crimes tem uma falha fundamental - que um crime antigo, aparentemente previsto, resolvido e arquivado, poderá expor.
Nenhum dos elementos de Minority Report - os cenários e o ambiente futuristas e tecnologicamente avançados, os poderes psíquicos (no caso, a premonição) - é estranho ao género. O argumento, esse, tem alguns pontos questionáveis (e susceptíveis de gerarem um longo debate), algo que é comum a praticamente todos os filmes que lidam com temas que envolvem premonições, ou viagens no tempo (por exemplo), mas não deixa de colocar questões interessantes, e de ser um filme com um argumento, com desempenhos e com cenas suficientes para manter o espectador interessado. Recomendo.

 

Sci-Fi: os meus filmes (1)

João Campos, 09.04.10

 

15º: Avatar (James Cameron, 2009)


Inicio a série com uma escolha que sei polémica, e com um filme sobre o qual até já escrevi aqui. Mas mesmo tendo a noção de que Avatar fica, em vários aspectos, muito aquém de bem mais do que quinze filmes de ficção científica, não podia deixar de o incluir nesta lista. Por três motivos: em primeiro lugar, porque na ficção científica a experiência visual sempre teve uma grande importância, e nesse sentido, Avatar foi a mais elaborada experiência visual que o género conheceu desde Matrix; em segundo lugar, porque essa experiência visual só foi possível devido a uma considerável evolução tecnológica, que acabou por marcar um ponto de viragem não só no género em si como na indústria cinematográfica em geral - da mesma forma que considero perfeitamente válido afirmar que Matrix, para repetir o exemplo (e sem querer estar a comparar ambos os filmes, obviamente), teve um grande impacto não só na ficção científica, mas também noutros géneros (acção, para referir o mais óbvio); por fim, e numa década pouco inspirada para o cinema de ficção científica, Avatar tem o mérito de ser um bom épico espacial, daqueles que têm mesmo de ser vistos numa sala de cinema. É um filme "simples"? Sim, sem dúvida. O argumento é, de facto, simples. E isso para mim não é uma fraqueza, mas algo de positivo. Quanto às supostas "mensagens" de Cameron, não me interessam; quem, como me disse um senhor uma vez, quiser ver "cobras e lagartos" no filme, esteja à vontade, mas não conte com a minha companhia. Por vezes, gosto de assistir a um filme que seja apenas e só isso: um filme, uma obra de entretenimento. Avatar, para mim, foi exactamente isso.

 

Série: os meus filmes de ficção científica

João Campos, 08.04.10

Fiz, há um par de semanas, um exercício curioso com um dos meus melhores amigos: cada um de nós elaborou a nossa lista com aqueles que para nós são os melhores filmes de ficção científica de sempre (eu e ele temos em comum o gosto pelo género, entre outras coisas). Obtidas as listas, cruzei os resultados para determinar a nossa "lista conjunta". O resultado foi curioso: ainda que tenhamos, entre os quinze, vários filmes em comum, e alguns com pontuações altas, sobressaíram as diferenças estéticas das nossas preferências, e, claro, a nossa experiência. O meu amigo, por exemplo, colocou na lista vários filmes japoneses de animação, alguns dos quais eu nunca sequer tinha ouvido falar (ele é fã de tudo o que vem do Japão; eu vou conhecendo, e apreciando, sobretudo pelas sugestões dele). Já eu destaquei alguns filmes que ele ou ainda não viu, ou que viu com a atenção devida (palavras dele), ou dos quais não gosta mesmo. Enfim, baseando-me nesta brincadeira, vou apresentar, a partir de amanhã e com um post por dia (tenho trabalhado nisto, está tudo escrito, que se não for assim eu nunca termino coisa alguma), a minha própria lista dos quinze melhores filmes de ficção científica*, com um pequeno comentário e algumas imagens a acompanhar. Escusado será dizer que a lista reflectirá unicamente a minha opinião sobre os filmes mencionados, e que, precisamente por a lista reflectir os meus gostos e a minha opinião, ela é altamente discutível.