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Delito de Opinião

Só lhe resta o cachecol

Diogo Noivo, 12.07.16

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Não é necessário ser-se versado em Weber para entender a importância das convicções e da vontade em política. Importa, no entanto, não confundir convicção e vontade com um apego cego ao poder. Mário Centeno, Ministro das Finanças, ajuda a perceber esta diferença.

O programa económico elaborado por Mário Centeno para o Partido Socialista sofreu mais de 70 alterações, consequências inevitáveis da negociação com o Partido Comunista Português e com o Bloco de Esquerda. O resultado final é uma pálida imagem do estudo inicial. Ainda assim, Centeno aceitou ser ministro. Fosse por uma determinação irrefreável em tutelar a pasta das Finanças, fosse a lendária capacidade de persuasão de António Costa, fosse por sentir o chamamento do serviço público, Mário Centeno mordeu a bala e aceitou implementar um programa que não era o seu.

Mais tarde, na Assembleia da República, o já Ministro Mário Centeno é submetido a uma acareação com o académico Mário Centeno. Um deputado do PSD leva a plenário uma passagem de um livro escrito por Centeno, o académico, onde este defende ideias sobre o emprego absolutamente incompatíveis com o projecto do Governo. O Ministro Centeno desvalorizou, distanciou-se do académico Centeno, e manteve-se no cargo.

A governação prosseguiu, mas os números não batem certo. Exportações, crescimento da economia, confiança dos credores, enfim, tudo corre mal. Demonstra-se que o princípio fundador da actual maioria – acabar com a austeridade e obter crescimento económico – é, no mínimo, falso. Porém, Mário Centeno continua ministro.

Perante as fracas previsões de crescimento da economia portuguesa, o Ministro das Finanças tem um arrebato de consciência e decide por breves instantes abraçar a realidade. Centeno admite então a possibilidade de cortar as projecções de crescimento económico que suportam o Orçamento do Estado. Era algo normal, autorizado pelos números, e não susceptível de gerar polémica. Contudo, foi rapidamente desautorizado pelo Primeiro-Ministro. Mas não há problema. Mário Centeno sente-se em condições para continuar nas Finanças.

Mário Centeno foi-se enredando uma corda da qual dificilmente sairá com módico de verticalidade. Portanto, à falta de êxitos próprios, não lhe resta outro caminho que não seja o de se apropriar de vitórias alheias e apresentar-se no Eurogrupo com o cachecol da selecção nacional. Resta saber se Mário Centeno é consciente da vacuidade política deste numerito. Para além das palmadinhas nas costas, a vitória de Portugal no Europeu de Futebol e o cachecol nada alteram. A economia, o emprego, as exportações, a confiança dos credores e o futuro do país não se decidem entre as quatro linhas.

Os rapazes de Fernando Santos não nos deram pão e circo, mas sim um troféu conseguido com trabalho, cumprindo as regras que todos aceitam, e sem desculpas. Era importante que o Ministro Mário Centeno seguisse o exemplo.

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