Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Saudades antecipadas de Obama

Pedro Correia, 20.01.17

rtx22ex0[1].jpg

 

Barack Obama não foi o santo milagreiro que alguns desejavam. Mas prepara-se para deixar um país melhor do que encontrou ao tomar posse, em Janeiro de 2009. Os Estados Unidos, embora longe da prosperidade de outrora, registam crescimento económico, o desemprego foi reduzido para metade, a inflação situa-se a níveis residuais e nunca tantos americanos beneficiaram de medidas de protecção social como no seu mandato.

No plano externo, o Presidente agiu com prudência no vespeiro do Médio Oriente, enfrentou as tentativas de expansionismo russo e pôde anunciar ao mundo a captura de Bin Laden - cérebro dos atentados do 11 de Setembro e autoproclamado inimigo público nº 1 dos EUA. Já nesta recta final do mandato, obteve dois trunfos na frente externa, levando o Irão a admitir restrições ao programa nuclear e pondo fim a quase seis décadas de congelamento das relações diplomáticas com Cuba.

 

"Vim aqui enterrar os restos da Guerra Fria nas Américas. (...) Acredito que os cidadãos devem ser livres para falarem sem receios, para criticarem os governos e organizarem protestos de forma pacífica. Acredito que o Estado de Direito não inclui a detenção arbitrárias de pessoas por exercerem esses direitos. E, sim, acredito que os eleitores devem poder escolher os seus governos em eleições livres e democráticas. El futuro de Cuba tiene que estar en las manos del pueblo cubano", declarou Obama no Grand Teatro de Havana, num discurso que foi transmitido em directo pelos meios de comunicação do país, ainda há pouco especializados em diabolizar os Estados Unidos.

Importante por este carácter inédito, na primeira viagem de um Presidente americano a solo cubano desde 1928, o discurso confirmou um Obama conciliador e diplomático, mas também firme nos princípios e suficientemente realista para perceber que a prioridade estratégica de Washington quanto ao continente americano é quebrar o eixo Havana-Caracas para isolar o insolvente regime chavista e proporcionar aos cubanos uma abertura idêntica à que Richard Nixon possibilitou na China maoísta em 1972. E ninguém percebeu isso tão bem como Fidel Castro, como demonstraram as farpas dedicadas pelo ex-ditador a Obama, que recusou vê-lo nesta visita.

 

O inquilino da Casa Branca semeou o que o seu sucessor em Washington colherá. Honrando as melhores tradições da política externa do seu país, nomeadamente o que fizeram Nixon ao visitar Mao Tsé-tung em 1972, e Ronald Reagan na sua bem-sucedida deslocação ao Kremlin em 1988. Nada ficou como antes, tanto em Pequim como em Moscovo.

Pressinto que não tardaremos a ter saudades de Obama. Do seu gesto inspirador, da sua palavra eloquente, da sua apaziguadora bonomia. Em suma: da sua decência, que parece um pouco fora de moda e muito deslocada no tempo.

 

Texto reeditado

..........................................................................................................

 

Relembro aqui os primeiros três textos que escrevi no DELITO DE OPINIÃO sobre o Presidente Obama:

O que disse Obama (20 de Janeiro de 2009)

Com a graça de Deus (22 de Janeiro de 2009)

Obama: o sonho americano (25 de Janeiro de 2009)

4 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Jon 19.01.2017

    "Os EUA é que não param de atiçar a Rússia"
    Tem razão numa coisa. Apenas os animais conseguem ser atiçados.

    Are you a baby-man?

    https://www.wook.pt/livro/o-novo-czar-steven-lee-myers/18930407

    https://www.youtube.com/watch?v=z8tJzsFEq8M

    Alexander Litvinenko

    https://www.youtube.com/watch?v=SA1guAEvrZk

    Anna Politkovskaya

    https://www.youtube.com/watch?v=2Gi20LFMwnI

    Boris Nemtsov
  • Sem imagem de perfil

    Luís Lavoura 20.01.2017

    Todos esses casos (Litvinenko, Politkovskaya, Nemtsov) são assuntos da política interna russa, com os quais os países estrangeiros nada têm a ver.
  • Imagem de perfil

    Pedro Correia 22.01.2017

    Discordo. Isso seria condenar o José Milhazes ao desemprego.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.