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Delito de Opinião

Roupa interior azul

Bandeira, 18.01.17

Em epístola que em tempos me endereçou, Oscar Wilde (para quando o Facebook, rapaz?) contou-me que havia sido formalmente convidado para jantar no Thirteen Club. O objectivo primeiro – e, julgo, único – da distintíssima agremiação consiste em combater e mofar-se da superstição sob todas as suas formas, incluindo isso de que não se coloca uma vírgula imediatamente antes de uma copulativa e que talher de peixe existe (quando na verdade apenas se distingue do de carne pelo cheiro). Nas mesas haveria treze lugares, da ementa constariam treze pratos e no final da refeição teria lugar uma orgia de estilhaçamento de espelhos.

Diz-me o dear boy, no entanto, que declinou o convite e que a vida lhe parece mais interessante quando apimentada por uma certa dose de arrebatamento místico. Não sei se concorde, por princípio sou até contra, mas a minha atitude face à superstição é, em grande medida, circunstancial. Sabe aqueles funcionários de companhias de TV por cabo e quejandos que assentam escadas no passeio? Em havendo espaço, sigo a lógica da aposta de Pascal (o cujo constatou que, havendo desvantagens em não acreditar em Deus e apenas benefícios em acreditar, a catequese até nem ficava cara), passando pelo lado de fora da escada; não havendo espaço, ponho cara de quem acha tais crendices coisa de gente sem coragem para enfrentar os tornados dessa vida madrasta e passo por baixo de peito feito, tendo apenas o cuidado de verificar pelo canto do olho se a escada está bem ancorada e o funcionário em estado de razoável sobriedade.

Olhe, veio-me agora à lembrança que na passagem de ano não usei roupa interior azul. Dang!