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Delito de Opinião

Reflexões europeístas (10)

Pedro Correia, 21.05.14

 

Na campanha em curso para a eleição de domingo, várias forças políticas defendem a saída, unilateral ou negociada, de Portugal do euro. Há mesmo um partido que apela ao regresso imediato ao escudo. As consequências? Depois logo se vê, confessa o cabeça-de-lista sem pruridos nem temores. Chegou a esta indigência o debate político entre nós.

E no entanto devo reconhecer a alguns economistas -- com destaque para João Ferreira do Amaral -- o mérito da coerência, do desassombro e da persistência ao pronunciarem-se contra a permanência portuguesa no euro.

É útil que este debate seja travado. Em todas as etapas da construção europeia, nas últimas três décadas, os decisores políticos colocaram sempre os portugueses perante factos consumados. Refiro-me, em especial, a Mário Soares, Cavaco Silva e António Guterres: nenhum pensou seriamente convocar um referendo sobre esta matéria, todos fizeram questão de colocar o País nos sucessivos "pelotões da frente". Ao contrário, por exemplo, do que fizeram os britânicos, que recusaram dissolver a libra no sistema monetário europeu e obedecer aos ditames do Banco Central Europeu.

 

Dito isto, e reiterando o mérito da discussão, considero absurda a tese que nos pretende reconduzir ao vetusto recanto "orgulhosamente só". Como se Portugal fosse a aldeia do Astérix. Mas sem a poção mágica.

Sem o euro, o impacto da crise dos últimos cinco anos tinha sido ainda mais duro - um facto que não é ignorado nas capitais do Velho Continente. O poder de atracção da UE ficou aliás bem patente no Verão passado: enquanto alguns profetizavam o pior para o destino europeu, a Croácia tornava-se o 28º estado membro da união, com adesão ao euro já prevista para 2017.

Vale a pena parar para pensar: quanto teríamos de pagar em escudos pelas dívidas que contraímos em euros?

Um hipotético regresso ao escudo, com a consequente desvalorização da moeda nacional, conduziria a falências em cadeia, à descapitalização das empresas, à fuga de capitais, ao aumento drástico da dívida pública, a uma inflação galopante, à quebra da coesão social, à radicalização abrupta da nossa vida política e a um empobrecimento dos portugueses em larga escala.

Não admira que o tal nostálgico do escudo tenha respondido com um "logo se vê" ao ser questionado sobre as consequências daquilo que defende...


Por mim, não tenho dúvidas: devemos continuar no euro - tal como farão os espanhóis, nossos principais parceiros comerciais. Mas de olhos bem abertos para este fenómeno imparável que é a globalização. Um fenómeno que nos forçará a reformar o Estado e a repensar as suas funções - não à escala nacional mas à escala continental.
A economia mundial, o livre comércio e a desregulamentação de muitas actividades outrora blindadas à luz dos parâmetros dos "estados nacionais", fazendo da Europa uma fortaleza inexpugnável, colocam-nos problemas novos todos os dias. Não adianta bradar contra eles: seria tão inútil como bradarmos contra a internet e a revolução operada no domínio das telecomunicações.

Além disso devemos pensar que a globalização tem sido uma onda libertadora para quatro quintos da Humanidade.
É a velha Europa que tem de adaptar-se. Não será o resto do mundo a adaptar-se à velha Europa.

3 comentários

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    Pedro Correia 23.05.2014

    A globalização tem tirado mais seres humanos da miséria do que todos os construtores de utopias. Pergunte ao chinês se há 20 anos vivia melhor. E ao angolano. E ao brasileiro. E ao mexicano. E ao indiano.
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    Carlos 23.05.2014

    O chinês corrupto vive melhor, os outros continuam escravos da corrupção. O angolano corrupto, vive no auge e o outro vive na miséria, tal como vivia antes, nada como ver ao vivo e eu já vi. Os indianos são o mesmo, é o hotel de luxo e mesmo ao lado reina a desgraça e a miséria, também vi e não quero ver mais, isto nas zonas turísticas porque nas outras é o caos. Os mexicanos com a máfia da droga e de órgãos é de bradar. A globalização podia tirar da miséria, se fosse feita de maneira a pensar no ser humano, mas está a ser tudo menos isso. A globalização podia ser óptima se a mentalidade de quem governa não fosse limitada unicamente aos seus interesses e aos dos grandes grupos económicos e a prova está bem à vista. Os média em vez de mostrarem ao mundo e desmascararem, não o fazem porque são o espelho da sociedade e por isso, também não ficam isentos de culpa porque em vez de informarem querem é vender, vender e vender..........
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