realidade versus ficção
De uma forma perigosa, a relidade confunde-se e supera a ficção.
Recolho histórias que são bizarras, absurdas, medonhas, de partir e congelar o coração.
Tudo isto para um livro que talvez venha a ser, ou nem por isso. Nunca se sabe.
A maioria das histórias não as posso escrever, a realidade tem um peso suplementar que não co-existirá bem no preto e branco. Há ideias que deveriam ser deixadas de lado, já sei. Mas sou tão teimosa que insisto.
Já nem digo:
Irra!
ou
Cruzes!
ou
Meu Deus!
Neste mundo onde agora me movo, como jornalista de investigação que, afinal, acho que não deixarei de ser, qualquer expressão de pasmo é inútil. Absolutamente inútil. Perguntam-me:
Mas andas a fazer o quê?
Posso garantir que ando pelos degraus do inferno. Se, um dia, o livro sair, contarei tudo, contarei mais. Agora não posso, não consigo. Estou de tal forma espantada e zangada que me sinto incapaz de discutir o Governo, as praxes, o Hollande, a bola, o fisco, os cortes, a troika, a imprensa, seja o que for. Há momentos na vida em que o prioritário é mesmo prioritário e resume-se a isto: sobreviver.