Realidade e perfeição
Como ainda não está em francês pós-acordo ortográfico, permito-me comprar a Photo de Janeiro com as fotos enviadas pelos leitores. E confirmo novamente. O digital fez com que criar imagens perfeitas se tornasse irresistível. Apagam-se linhas eléctricas cruzando o céu e pacotes de batatas fritas caídos no chão, torna-se o céu mais azul, eliminam-se (ou amplificam-se) rugas e sinais. Porém, a realidade não é perfeita. Nela, as linhas, os pacotes de batatas fritas e as rugas existem, o céu nem sempre está azul. Não interessa. A realidade é uma maçada. Na fotografia, como em tudo o resto (até na política), já só apreciamos a perfeição. Por isso, corta-se, apaga-se, alisa-se. E a realidade torna-se-nos cada vez mais insatisfatória.