Presidenciais (20)
Debate Marcelo Rebelo de Sousa-Paulo de Morais
Ainda comecei a contar as vezes em que, no frente-a-frente de ontem da TVI 24, Marcelo Rebelo de Sousa concordou com o seu oponente. Às tantas, desisti. Era evidente que o ex-vice-presidente da Câmara do Porto vencera o debate - precisamente aquele em que surgiu mais descontraído e sorridente.
Marcelo, bem ao seu jeito, desfez uma eventual atmosfera de crispação mal abriu a boca: "Boa noite, Paulo." Levando o rival nesta corrida presidencial a chamá-lo também pelo nome próprio. De resto Morais esteve muito mais cordato com o antigo presidente do PSD do que com qualquer outro adversário que já defrontou nos debates televisivos desta campanha. "Com todo o respeito" foi uma expressão com que o brindou mais de uma vez.
"Marcelo é o candidato que, neste regime, desdramatiza tudo", salientou o antigo autarca, chamando "candidato da estabilidade" ao conselheiro de Estado. Este pareceu satisfeito: o epíteto agradava-lhe. E é até bem capaz de utilizá-lo como slogan de campanha.
Com bonomia, Marcelo congratulou-se de ser com Paulo de Morais um dos candidatos que gastam menos dinheiro nesta corrida a Belém - a mais barata de que há memória. E acenou-lhe com mais um elogio: "Acompanho com apreço a sua luta." Sorria enquanto dizia isto. Aliás, sorriam ambos. Há noites assim.
Vencedor: Paulo de Morais
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Frases do debate:
Morais - «Se as pessoas querem mudança não podem ter medo da mudança.»
Marcelo - «Quem mais ordena é o povo.»
Morais - «É uma vergonha viver na Europa e ter tanta gente na sopa dos pobres.»
Marcelo - «O Presidente da República deve ter uma magistratura de equilíbrio, de fazer pontes, de cicatrizar feridas.»
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O melhor:
- Paulo de Morais falou como provedor dos contribuintes: "Em Portugal, para elaborar um Orçamento do Estado, programa-se a despesa e depois vai-se ver como sacar a receita lançando impostos de forma quase feudal sobre as empresas e as pessoas."
- O antigo presidente do PSD não perde uma oportunidade de piscar um olho aos eleitores de esquerda: "Devemos ser politicamente imparciais mas socialmente parciais. Temos que ser socialmente parciais a favor daqueles que menos têm e mais sofrem."
O pior:
- A questão do preço dos livros escolares pode ser muito relevante mas está longe de figurar nos poderes do Presidente da República, o que não inibiu Morais de discorrer sobre ela.
- "Concordo consigo", ia repetindo Rebelo de Sousa. Música para os ouvidos do rival nesta campanha.