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Delito de Opinião

Pontaria ao andar de baixo

Pedro Correia, 03.07.17

 

«No meu país não acontece nada.»

Ruy Belo

 

Ao 18.º dia decorrido desde a tragédia de Pedrógão, nem uma demissão nas estruturas sob a tutela do malogrado ministério da Administração Interna - a que podemos chamar ministério da Desorganização Interna, enredado em passa-culpas de soma zero. Nada de novo: regressámos à rotina pasmacenta neste quente mês de Julho.

Ao menos no ministério da Defesa, sem ter ocorrido um só óbito, já houve exonerações: cinco oficiais situados em patamares médios da cadeia de comando foram removidos "para não interferirem nas averiguações" em curso - espantosa justificação que vale para o  assalto aos paióis de Tancos mas não se aplica aos inquéritos que decorrem para apurar causas e culpas na catástrofe de Pedrógão. Perante a maior pilhagem de armamento de guerra confiado à guarda do Estado em Portugal, os altíssimos comandos castrenses permanecem nos seus postos, reconfigurando a noção de ética militar. Imitam afinal o criativo conceito de "responsabilidade" garbosamente assumido pelo ministro da tutela: em perfeita sintonia, todos fazem pontaria ao andar de baixo. Enquanto aguardam que o País vá tranquilamente a banhos.

Como escreveu Ruy Belo, "a boca é p'ra comer e p'ra trazer fechada / o único caminho é direito ao sol".

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