Penso rápido (75)
Há quem persista em debater ideias com a subtileza de um sargento na parada, recorrendo a todo o tempo ao estribilho "esquerda, direita".
Estas etiquetas explicam muito pouco ou quase nada da política contemporânea.
Vejamos: o Syriza é da "esquerda" assumida e consequente? E o partido Gregos Independentes é da "direita" sem disfarces? Então o que faz uma força da "verdadeira esquerda" coligada com a "verdadeira direita" no executivo de Atenas? Isso mesmo: ambas são forças radicais nas respectivas expressões políticas. E porque será Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, uma fervorosa apoiante do Syriza? Pelo mesmo motivo.
Esta é a clivagem política do século XXI - entre forças radicais e forças moderadas. Dizer "direita", sem mais nada, é juntar no mesmo saco Passos Coelho e o Pinto Coelho do PNR. Dizer "esquerda", sem mais nada, é juntar no mesmo saco António Costa e o Garcia Pereira do MRPP. Isto explica e descreve e justifica alguma coisa? Evidentemente que não.
Há hoje fracturas de matriz diferente no xadrez europeu a respeito dos mais diversos temas: gestão das finanças públicas, reestruturação da dívida, crise dos refugiados, política de alianças geoestratégicas, soberania identitária versus federalismo. Temas que distinguem moderados, por um lado, e radicais pelo outro. Daí o PNR e o MRPP, em sintonia evidente, reivindicarem a saída de Portugal da NATO e exigirem o regresso imediato ao escudo.
Existem muito mais semelhanças do que diferenças entre os extremos do que entre o centro e os extremos.
Quem não perceber isto e continuar a usar as muletas retóricas e os ultrapassados conceitos do século XIX não percebe nada de essencial do mundo onde vivemos.