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Delito de Opinião

Penso rápido (65)

Pedro Correia, 18.02.15

Há uma contradição aparentemente insanável entre o que o Syriza  proclama e o que o Syriza faz. Enquanto proclama o desejo de manter a Grécia no euro (correspondendo aliás à opinião largamente maioritária no país, cerca de 74%) começa a fazer tudo, e em passo rápido, para que o país abandone o sistema monetário europeu com as primeiras medidas de carácter populista já anunciadas em ruptura com os compromissos assumidos ao receber o fundo de resgate (aumento do salário mínimo, electricidade gratuita para cerca de um milhão de pessoas, restituição do subsídio de Natal, abolição das taxas moderadoras, medicamentos gratuitos e passes de transportes também gratuitos para desempregados, renacionalizações de empresas privatizadas ou em fase de privatização, tudo envolvido num pacote que agravaria o défice orçamental grego em nove pontos percentuais).
A intenção, por enquanto inconfessável, parece evidente: apontar mais tarde o dedo acusador às instituições comunitárias, acusando-as de responsabilidade directa na ruptura da Grécia com o euro.
Tudo demasiado previsível. Estamos perante rudimentares aprendizes de Maquiavel. Só receio que o povo grego acabe por sofrer ainda mais com isto. E nós com ele.

4 comentários

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    Pedro Correia 18.02.2015

    Acho muito pouco razoável que o novo governo da Grécia - cuja dívida pública ascende a 176% do PIB - se tenha apressado a anunciar ainda mais despesa pública, num valor orçado em 12 mil milhões de euros (ou seja, cerca de 6% do PIB grego), em medidas assistencialistas e desenvolvimentistas com dinheiro que manifestamente não tem.
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    l. rodrigues 19.02.2015

    O PIB da Grécia contraiu 25% desde a implementação do programa da troika. A Grécia ajustou, e nenhum dos objectivos dos ajustes se materializou. A divida (em relação ao PIB) aumentou, claro. Neste momento o Governo Grego tem 4,5 % de superavit dos quais quer usar cerca de 3% para reanimar a economia e acudir à emergência social. É dinheiro que tem. O serviço da dívida é que fica para resolver com os 1,5% que sobram e é para isso que servem as negociações.
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    Pedro Correia 19.02.2015

    Julgo que haverá espaço para as medidas de carácter assistencialista que o Governo grego anunciou (tratando-se, nesses casos, de um imperativo ético). Julgo também que há margem negocial para tornar o serviço da dívida ainda menos oneroso (sabendo nós que já hoje o é, em comparação com o sucedido em relação à Irlanda e a Portugal).
    Isto pressupõe, de qualquer modo, contrapartidas sérias do executivo Tsipras. Que não pode enganar a população com frases do género "a austeridade acabou". Não basta falar claro. É também indispensável que o discurso se adeque à realidade.
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