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Delito de Opinião

Olivença? Não conheço.

Ana Vidal, 05.06.16


Acabo de chegar de Inglaterra. Enquanto os portugueses estão preocupados com as sanções da UE, temendo a expulsão (como se isso alguma vez fosse acontecer, qualquer que seja o défice) desta confraria que já ninguém sabe exactamente o que é nem para onde caminha, os ingleses estão mortos por sair dela. Muitos deles, muitos mais do que se pensa. Cameron farta-se de fazer discursos inflamados - aflitos, diria mesmo - apelando ao Sim no referendo de dia 23, sinal claro de que não é nada improvável uma vitória do Brexit. Até o funcionário do aeroporto que me despejou a mala inteira numa mesa (por causa de um maldito creme de 30 ml que eu não pus no maldito saquinho de plástico) e revistou tudo com o ar enfadado de quem considera pertencer a uma casta superior, me disse, antipático: "Da próxima vez que cá vier, esse documento que tem na mão já não lhe vai servir de nada". Fingi não ter percebido e perguntei-lhe se o meu BI estava ilegível ou fora de prazo. Respondeu-me, no mesmo tom seco, "Não, mas vai precisar de um passaporte porque nós já não estaremos na UE. Não precisamos da Europa para sabermos quem somos." Respondi-lhe que nós, portugueses, também não. E acrescentei, de nariz empinado - apesar do pouco edificante espectáculo dos meus soutiens e outras intimidades espalhados na mesa entre nós - "Talvez o senhor não saiba que Portugal tem as fronteiras mais antigas da Europa," (eu sei que não é exactamente assim, mas cheguei para ele) "mas, sabe, achamos que a Europa precisa de nós". O resultado foi uma cara ainda mais antipática e algum tempo extra de inspecção aos meus pertences, mas saí dali consolada.

maleta_mapa chema madoz.jpg

(Fotografia - Chema Madoz)

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