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Delito de Opinião

O mais rico partido de Portugal

Pedro Correia, 26.10.16

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 Vista aérea da Quinta da Atalaia (Seixal), propriedade do PCP

 

O PCP queixa-se de ter má imprensa. E de ser sistematicamente ignorado pelos órgãos de informação. Entendo mal estas queixas. Pelo contrário, os comunistas beneficiam por serem muito menos escrutinados do que os restantes partidos pelo olhar inquiridor dos media. Se o fossem, saber-se-ia alguma coisa, mínima que fosse, acerca das divergências que se exprimem entre os muros opacos da sede da Soeiro Pereira Gomes. Mas nem uma palavra perpassa cá para fora sobre tais divergências, o que constitui um atestado de preguiça ou incompetência do jornalismo político português.

Se os jornalistas aplicassem ao PCP a mesma atenção severa e rigorosa que dedicam aos restantes partidos, do CDS ao Bloco de Esquerda, indagariam sobre o motivo que leva uma força partidária que tanto pugna pela igualdade, e faz dela palavra de ordem enquanto ergue o punho direito, tem  menos de 25% de mulheres no seu Comité Central.

Se os comunistas merecessem o mesmo crivo inquiridor saber-se-ia que os numerosos “operários”, “empregados” e “licenciados” com assento no órgão máximo da estrutura dirigente comunista são afinal funcionários do partido e em diversos casos nunca tiveram outra entidade patronal.

Recebesse o PCP um foco semelhante ao que ilumina as restantes forças políticas e saber-se-ia tudo sobre o discretíssimo circuito das receitas financeiras comunistas, qual o seu montante concreto e quem as administra. Saber-se-ia por exemplo para que serve e quem utiliza as imponentes Quinta da Atalaia e Quinta do Cabo, implantadas à beira-Tejo, nos 362 dias do ano em que não albergam a Festa do Avante! Saber-se-ia sobretudo quem são os guardiães deste templo financeiro com sólidos alicerces na propriedade privada – aqueles que realmente dominam os circuitos de decisão no partido colectivista.

Se fossem escrutinados de forma exigente pela comunicação social, alguém indagaria como conseguiram os comunistas reunir um património imobiliário equivalente ao dos outros partidos todos somados e valorizá-lo em dois milhões de euros entre 2012 e 2015, ampliando-o de 13 milhões para 15 milhões no apogeu nacional da “crise do sistema capitalista” que tanto dizem combater mas de que aproveitam como nenhum outro, percorrendo sem rebates de consciência as alamedas do lucro. Assim talvez ninguém se espantasse por saber, como há dias se soube, que os comunistas pagarão em 2017 cerca de 50 mil euros em IMI, apesar de os edifícios adstritos à actividade partidária estarem isentos deste imposto.

Em vez de se queixar o PCP devia congratular-se por continuar a funcionar sem contraditório como porta-voz dos pobres sendo afinal um partido rico. O mais rico de todos os partidos em Portugal.

4 comentários

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    Pedro Correia 26.10.2016

    O seu último parágrafo reforça a minha argumentação. Há interesse público em saber como o PCP administra as suas courelas privadas.
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    Luís Lavoura 26.10.2016

    O Pedro suspeita que o PCP leve a cabo atividades criminosas? Por exemplo, que use a quinta da Atalaia para desembarque de droga carregada em lanchas, ou para captura ilegal de bivalves?
    Não as levando, o seu património é, com toda a probabilidade, gerido da mesma forma que qualquer privado o faria: através do arrendamento e/ou da venda dos produtos. Os prédios de habitação arrendam-se, da quinta vendem-se os pinhões e a cortiça e a madeira, tudo atividades normalíssimas.
    Como qualquer proprietário privado, o PCP não gostará que um qualquer jornalista ande a investigar as suas coisas financeiras. E tem o direito de não prestar informações a jornalistas. Mas, creio eu, é obrigado a fazê-lo ao Tribunal Constitucional. E às Finanças.
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    Pedro Correia 26.10.2016

    Um partido colectivista é o maior proprietário privado da política portuguesa. Não deixa de ter graça.
    Já as suas insinuações iniciais sobre as supostas actividades ilícitas do PCP no Seixal não têm piada nenhuma.
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