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Delito de Opinião

O jornalismo perdeu por goleada

Pedro Correia, 16.09.17

Será talvez pleonástico, mas a RTP cumpriu a sua obrigação de serviço público, sem aspas. Anteontem à noite, ao juntar no mesmo estúdio os 12 candidatos à presidência da Câmara de Lisboa, num debate bem moderado por António José Teixeira. Oportunidade para ouvirmos alguns dos que actuam no chamado "campeonato dos pequenos", com aspas. Só assim denominado porque outros canais televisivos, como a  SIC e a TVI, decidiram apostar apenas nos mesmos - os do costume, os de sempre.

Critério jornalístico, dizem. Se a pauta que aplicam aos candidatos fosse aplicada pelos espectadores às televisões, nunca ambas, TVI e SIC, teriam destronado o canal público.

 

À mesma hora em que os doze de Lisboa debatiam na RTP, a TVI dava um exemplo inverso, de mau jornalismo, ao reunir num debate cinco dos sete candidatos à câmara de Loures (e porquê Loures e não Odivelas, ou Sintra, ou Matosinhos, ou Almada, ou Gaia, ou Barreiro?) apenas para dar palco ao estridente e histriónico candidato do PSD. Que foi o primeiro a falar, por amável deferência da imoderadora Judite Sousa, e também o único que falou o tempo todo, monopolizando a sessão. Tudo menos um debate, afinal.

Vendo bem, o que estava ali em jogo era uma tentativa quase desesperada da TVI de roubar por 90 minutos - o tempo que dura, em regra, um desafio de futebol - um protagonista habitual da sua concorrente CMTV, que já a ultrapassou em audiência nos canais por cabo. O cabeça de proa do PSD, travestido de Tea Party em Loures, teve o seu momentinho de glória perante a benevolente Judite e o ar acabrunhado dos figurantes neste pseudo-debate onde o melhor da política, que todos dizem ser a que se desenrola no plano autárquico, deu lugar ao pior do futebol.

 

Levado ao colo pela jornalista incapaz de arbitrar, o tipo que só quer aparecer e diz tudo o que possa dar-lhe audiência no campeonato dos cromos televisivos - incluindo injuriar sportinguistas, destratar ciganos e mandar às malvas o Código Penal - ganhou por goleada. Derrotando não os rivais que com ele surgirão nos boletins de voto mas o jornalismo sem aspas, que ainda enaltece a isenção e o pluralismo como imperativos éticos e virtudes cívicas.

As autárquicas só serviram de pretexto.

2 comentários

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    Pedro Correia 17.09.2017

    Tem uma gralha no seu nome, Sonsa.
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