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Delito de Opinião

O desemprego.

Luís Menezes Leitão, 12.06.14

Este belíssimo texto de Pedro Santos Guerreiro justifica uma análise sobre um drama que tem vindo a atingir profundamente as sociedades desenvolvidas e que consiste no problema do desemprego. Não consigo compreender — e acho um erro político grave — que se cantem loas ao "sucesso" do programa de ajustamento e se prometa que um dia — seguramente daqui a muitos anos — chegarão os gloriosos amanhãs que cantam e lá acabaremos por atingir as terras de leite e mel do equilíbrio imposto pelo Tratado Orçamental. Mas nesse glorioso processo de "ajustamento", cada vez mais exigente, chega sempre algo que todos os economistas avisam: níveis de desemprego sem precedentes neste país. Não é o facto de as estatísticas apresentarem um ponto a mais ou a menos, que impede o impacto brutal de notícias como esta, que normalmente significam que o flagelo chegou a amigos e conhecidos. As pessoas angustiam-se e perguntam se não serão o próximo na lista. É por isso que a maior boutade alguma vez dita por Passos Coelho foi quando disse que o desemprego era uma oportunidade para mudar de vida.

 

Neste âmbito, um dos filmes que vi retratar com mais brilhantismo o desemprego, a propósito da crise financeira dos EUA, foi Homens de Negócios (The Company Men), com Ben Affleck e Tommy Lee Jones. O filme retrata a história de um executivo, com um bom emprego, que um dia chega à empresa alegre depois de um jogo de golfe, recebendo a notícia de que iria ser despedido. Assistimos então ao completo desmoronar da vida dessa pessoa, sendo que não é o único, uma vez que todos os dias a empresa vai mandando novas pessoas para o desemprego. A justificação que o administrador dá é simples: a empresa está a ser objecto de uma OPA, que só se conseguirá frustrar valorizando as acções e para isso é necessário reduzir os custos laborais. Nessa luta contra a OPA, a empresa vai sucessivamente despedindo mais e mais trabalhadores, lançando as suas famílias no desespero. Até que, depois de os despedimentos se terem multiplicado, o administrador diz que afinal a empresa não conseguiu resistir e a administração vai aceitar a OPA. Quando alguém lhe diz que lamenta esse fracasso, o administrador responde que não se justifica o lamento, pois as suas acções, que irá alienar na OPA, valem agora 600 milhões de dólares.

 

Aí somos levados a perguntar o seguinte: qual é a lógica disto tudo? Que interessa que alguém receba 600 milhões de dólares ou metade dessa importância, já que uma pessoa normal nem em toda a sua vida gasta valores dessa ordem? E o resultado disto é que o desemprego acumula-se e o tecido empresarial vai sendo destruído numa lógica de capitalismo de casino. Seguramente que alguma coisa se perdeu do espírito original do capitalismo. Os verdadeiros empresários criavam riqueza e sentiam-se responsáveis pelo bem-estar dos seus trabalhadores. Hoje a lógica passou a ser apenas comprar e vender acções, valendo tudo para se obter o melhor preço. Resta saber a que custo.

5 comentários

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    Luís Naves 12.06.2014

    E esqueci-me de outra questão: como explicar a actual recuperação no emprego? Isto não era uma espiral recessiva? Então, o emprego devia estar a cair.
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    JP 12.06.2014

    Luís, desculpe mas na esparrela da redução do desemprego já só cai quem quer.

    Sabe como é calculada a taxa de desemprego? É o número de inactivos inscritos nos centros de emprego, no total da população ACTIVA.

    Agora a pergunta do milhão de dólares: Como é que a população ACTIVA evolui com os níveis de emigração que se têm verificado?

    E já agora como é que a criação de sucessivos cursos de formação profissional e de "reciclagem" tem impacto no número de inscritos nos centros de emprego?

    Cumps
    JP

    PS: A situação está de tal ordem que até a Fernanda Câncio suspira pelas comissões de trabalhadores. Como diz um amigo meu: Tarde piaste...
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    Luís Naves 12.06.2014

    Não me referi a diminuição do desemprego mas a aumento do emprego. E preciso fazer um post?
  • Sem imagem de perfil

    da Maia 12.06.2014

    "Desemprego" nega "emprego", tal como "aumento" nega "diminuição".
    Viva o absurdo lógico! Viva o caos!
    Para nonsense completo, prefiro os Monty Python.
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