O comentário da semana
«A única Odisseia que tinha era a da Europa-América, que pecava, tal como a Ilíada, pela fraca qualidade da tradução (na minha humilde opinião). Folhei a Odisseia de Frederico Lourenço há dias numa livraria e fiquei encantado, assim como o Livro Aberto e o livro Lugar Supraceleste, do mesmo autor.
Fiquei com vontade de levar tudo. A minha carteira é que não se convenceu. Vou seguir o conselho do ex-Presidente do Supremo Tribunal, "qualquer coisa" Noronha. Comprá-la-ei aos bochechos.
Há dias numa jantarada entre vários camaradas não consegui defender, eficazmente, a pertinência da utilidade da filosofia e da cultura, em geral. Eles, os meus confrades todos das ciências ditas exactas. Ocorreu-me dizer apenas que a filosofia ensina-nos o caminho da sabedoria, sendo esta o bom modo de dar uso à inteligência. De formular a pergunta acertada, onde reside, afinal, toda a Ciência (a resposta-verdade é passageira, a pergunta fica sempre).
Contudo apontaram-me para a televisão e o ar condicionado, e perguntaram-me: diga-me que obras filosóficas dão tanto consolo ao corpo como aquelas? Apeteceu-me partir os ditos aparelhos, mas preferi pegar no vinho que tinha à minha beira.
Afinal que utilidade têm as ciências ditas humanísticas no tempo de alta-tecnologia, em que o que conta é tudo o que se vê e palpa? Não teremos morto também o Espirito, quando decidimos matar Deus?
Como conseguimos convencer da maior utilidade, para a Humanidade, de uma Odisseia, uma Ilíada, um Corão, uma Bíblia, umas Cartas a Lucílio, quando comparadas com um Iphone, ou uma PS4?»
Do nosso leitor Borda d'Água. A propósito deste meu postal.